A próxima fotografia do PSD

O problema no PSD chama-se António Costa. E as "raposas" de Manuela Ferreira Leite. Quatro notas para ajudar a perceber o que está em causa.

1. Uma história de raposas

Em Agosto de 2009, num Conselho Nacional do PSD quente (mas não por causa das temperaturas daquele Verão), Manuela Ferreira Leite explicou aos militantes que nunca iria admitir que as “raposas” entrassem “no galinheiro”. Foi com esta filosofia que a então líder do PSD vetou alguns nomes propostos e afastou outros deputados das listas à Assembleia da República. Ficaram de fora Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas, Feliciano Barreiras Duarte, Pedro Pinto ou Virgílio Costa. Com muito tempo livre, os críticos puderam organizar-se melhor e o resto da história é conhecida: o grupo liderado por Passos chegaria ao poder em 2010. Agora, na aproximação do momento de fazer novas listas de deputados para o Parlamento (as eleições serão a 6 de Outubro) e perante um líder que ainda antes de ser eleito dizia “deixe-me ganhar que vai ver como as coisas são”, ninguém esperava outra coisa que não uma nova razia em S. Bento. E isso ajuda a explicar o ambiente das últimas semanas no PSD.

2. O aperto de mão a António Costa

Rui Rio faz lembrar Manuela Ferreira Leite, sim. Mas há uma coisa que os distingue claramente. A ex-líder do PSD disse preto no branco que, mesmo que o PSD ganhasse as legislativas com maioria relativa, não haveria "a mínima das hipóteses" de se "entender em termos políticos” com o PS. Rio faz da sua boa vontade em dialogar com António Costa uma das suas principais bandeiras. E essa é a reflexão séria que o PSD devia fazer. No resto, as divergências são poucas. Nas duas entrevistas que deu, Luís Montenegro apontou como prioridades “melhores condições de vida para a classe média, fustigada por impostos”, “um alívio fiscal”, “melhores serviços públicos”, “maior capacidade de dinamizar a economia”, “prudência” na gestão do défice público, defendeu “políticas públicas na habitação e mobilidade”, “mais igualdade de oportunidades”, criticou “a intransigência do Governo” na contagem de tempo dos professores. António Costa tem explorado ao máximo a abertura do PSD e vai continuar a fazê-lo agora com o novo plano de obras públicas lançado em plena pré-campanha eleitoral. O PSD vai aparecer na fotografia ao lado de Pedro Marques, o ministro que deverá ser também candidato do PS ao Parlamento Europeu?

3. O que dizem as sondagens

As campainhas soaram no PSD por causa da última sondagem com os críticos a lançarem as mãos à cabeça com os 24% registados pelo partido, segundo o estudo da Eurosondagem para o Expresso. Juntemos a este outros números. Desde que Rui Rio foi eleito a 14 de Janeiro de 2018, o valor mais baixo registado em sondagens foi 24% em Outubro de 2018 (Aximage). Desde que António Costa é primeiro-ministro, o valor mais baixo do PSD pertence a Pedro Passos Coelho em Julho de 2017 com 22,9% (Aximage). O PSD tem sistematicamente mostrado incapacidade para crescer acima daqueles valores, desde final do ano passado. Mas, atenção, a última sondagem traz, pela primeira vez, um novo dado: o novo partido de Pedro Santana Lopes, Aliança, pode valer 4%. Isso significa, então, que Santana não faz mossa ao PSD de Rio ou que o PSD cresceu apesar de haver agora o Aliança?

Constante em todas as sondagens, por outro lado, é a indicação que o PS terá uma votação mais expressiva do que a obtida em 2015 (32,3%). Então como é que Rui Rio diz sem se rir, como fez na declaração sobre as directas, que nesta altura a “governação socialista apresenta fortes sinais de erosão e desgaste”?

4. Marcelo à espera da mudança

Afinal, a reunião formal de Marcelo Rebelo de Sousa com Luís Montenegro em Belém não foi reacção ao encontro a correr da semana passada do Presidente com Rui Rio num hotel do Porto. Foi o contrário. Luís Montenegro combinou a audiência em Belém ainda antes mesmo de anunciar que estava disponível para ser candidato a líder. Marcelo, que já recebera em Belém Pedro Santana Lopes antes de este criar o Aliança, foi das primeiras pessoas a saber da disputa que aí viria. Interessantes telefonemas.

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