Presidente do parlamento venezuelano detido pelos serviços secretos foi libertado

Oposição denuncia detenção, dois dias depois de Juan Guaidó ter dito estar preparado para assumir a chefia do Estado. Governo diz que operação foi "irregular" e demitiu agentes envolvidos.

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Guaidó discursou poucas horas depois de ter sido detido Reuters/CARLOS GARCIA RAWLINS

O presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, foi detido este domingo pelos serviços secretos e acabou por ser libertado cerca de meia hora depois. O Governo diz ter sido uma operação não autorizada.

A detenção aconteceu dois dias depois de Guaidó ter chamado "usurpador" a Nicolás Maduro e ter dito estar preparado para assumir a presidência do país. A oposição, que detém a maioria na Assembleia Nacional, não reconhece os resultados das eleições presidenciais do ano passado ganhas por Maduro.

Foi a mulher de Guaidó, Fabiana Rosales, que revelou na sua conta de Twitter a detenção.

Horas depois, o dirigente máximo do parlamento voltou a adoptar uma postura desafiadora face ao regime. "Se queriam enviar uma mensagem para que nos escondêssemos, aqui está a resposta do povo: aqui estamos", afirmou Guaidó durante um encontro público organizado pela oposição em La Guaira, no Norte do país.

O presidente da Assembleia voltou a dizer que o seu objectivo é liderar um processo de transição para a democracia. "Quero mandar uma mensagem muito clara a Miraflores [residência oficial do Presidente]: o jogo mudou, o povo vai continuar nas ruas", disse.

Guaidó foi detido quando se dirigia para La Guaira, no domingo de manhã. O carro em que seguia foi interceptado por veículos do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), descreveu um jornalista. Foi libertado ao fim de meia hora e continuou o seu caminho para o encontro. Duas jornalistas que cobriam o caso foram também detidas brevemente sem qualquer explicação.

"Espectáculo mediático"

O ministro das Comunicações, Jorge Rodríguez, disse que a operação foi "irregular" e que os agentes que prenderam Guaidó foram demitidos imediatamente. O Governo descreveu a breve detenção como um "espectáculo mediático", diz a BBC. 

Na sexta-feira, Guaidó invocou a Constituição para se dizer disposto a assumir as competências do chefe de Estado para encaminhar a Venezuela para uma "transição democrática". Porém, o presidente da Assembleia Nacional, onde a Mesa de Unidade Nacional, da oposição, tem a maioria, deixou um novo apelo às Forças Armadas para que apoiem a sua proposta.

Maduro desvalorizou a declaração de Guaidó, que disse ter sido "um show" apenas com o objectivo de desestabilizar o país. No entanto, na sequência da declaração de Guaidó, que pertence ao partido da oposição Vontade Popular, na sexta-feira, a ministra das Prisões, Iris Varela, ameaçou prendê-lo. "Guaidó, já tenho uma cela pronta para ti, com um uniforme", afirmou no Twitter. O líder do partido, Leopoldo López, está em prisão domiciliária, depois de ter sido condenado a mais de 13 anos de prisão, num caso que a oposição diz ser motivado politicamente.

O presidente da Organização de Estados Americanos, Luis Almagro, condenou o que qualificou como um "sequestro" de Guaidó e pediu à "comunidade internacional" que trave "os crimes de Maduro e os seus lacaios".

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