Agora é a valer, Sánchez lança-se na busca final de apoios para o Orçamento

É na Catalunha que se decide com que condições pode o Governo continuar no poder. Há divisões entre os independentistas e também há quem sugira que o primeiro-ministro prefere ir a votos.

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Pedro Sánchez este sábado em Barcelona ALBERTO ESTEVEZ/EPA

O socialista Pedro Sánchez começou a defesa do seu Orçamento para 2019 numa sessão transformada em comício. Afinal, 26 de Maio está ao virar da esquina e em Barcelona há eleições municipais no mesmo dia das europeias. O momento serviu ao chefe do Governo espanhol para lançar o seu candidato à câmara da cidade, Jaume Collboni, mas um Governo em minoria está sempre em campanha, e muito do que pode influenciar o futuro deste Executivo passa pela Catalunha.

“Temos de estar unidos para avançar os nossos valores colectivos. Peço a todas as forças parlamentares que aceitem o Orçamento para que Catalunha e Espanha avancem”, afirmou Sánchez neste sábado, no Centro Internacional de Convenções de Barcelona.

Parecia ter cabido a Collboni o ataque mais duro aos soberanistas - “Não há nada de progressista no independentismo, só piorou tudo” -, mas quase a terminar, o primeiro-ministro disse o que mais lhes custa ouvir: “Lamento senhores independentistas, mas vocês não têm a maioria social na Catalunha” (são maioria em número de deputados, não de votos).

Sánchez falou em Barcelona ao início da tarde, um dia depois de aprovar em Conselho de Ministros o documento que prevê um investimento de 18% para a Catalunha, o valor que a economia catalã representa no PIB espanhol. Uma medida prevista no estatuto autonómico e “um compromisso histórico que os governos do PP nunca cumpriram”. Segunda-feira, o texto chega ao Congresso e aí começarão as discussões difíceis.

A nova ameaça Vox

Sánchez chegou ao poder há sete meses com o apoio do Podemos (à sua esquerda) e dos deputados nacionalistas catalães e bascos. Precisou de todos os seus votos (180) para derrubar Mariano Rajoy (PP) e o seu governo conservador; precisa de quase todos (pelo menos 176 num Congresso de 350) para aprovar o Orçamento ou qualquer política que não possa decidir por decreto.

Os soberanistas catalães estão indecisos. Por um lado, não obtiveram o que exigiram para apoiar as contas (“sinais claros na direcção de um referendo de autodeterminação e uma melhoria da situação dos presos políticos”), por outro, até da cadeia (Dolors Bassa, ex-conselheira do Trabalho e Segurança Social da Generalitat) chegam apelos para que votem com o PSOE e evitem um cenário de eleições antecipadas e a reedição do pacto da direita do PP e do Cidadãos com o Vox (extrema-direita), que acaba de ser acordado na Andaluzia.

Carles Puigdemont (auto-exilado em Bruxelas) ainda é o presidente da Generalitat e não é o facto de Quim Torra não usar o seu gabinete que o prova: quinta-feira, Torra ameaçou provocar “uma crise de governo” se os grupos parlamentares independentistas em Madrid votassem o Orçamento sem o seu aval; na sexta ouviu em silêncio o seu antecessor afirmar que “a decisão pertence ao grupo de Madrid” e “nem o govern nem os grupos do parlamento [autonómico] têm qualquer responsabilidade no tema”.

Aconteceu em Waterloo, local dos encontros entre o president oficial e aquele que os independentistas dizem continuar a reconhecer.

A Generalitat aguenta

No mesmo dia, o estado-maior possível dos que governam em coligação com Torra, a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) encontrava-se em Genebra, onde vive a secretária-geral, Marta Rovira (o líder, Oriol Junqueras, está preso há mais de um ano). “Se este Orçamento é, como diz Sánchez, uma segunda volta da moção de censura, falta um motivo para que a esquerda independentista e republicana lhe dê o seu apoio”, disse o vice de Torra, Pere Aragonès.

A ERC já sugerira que poderá apoiar o documento mesmo sem as exigências iniciais. Novo episódio no permanente impasse e aparente crise em que o governo saído das eleições de Dezembro de 2017 parece viver.

“Nada é fácil mas se andarmos na rua vemos normalidade, os serviços públicos funcionam. Os líderes não podem falar um com o outro, um está no exílio [Puigdemont] e outro na prisão [Junqueras]. Ainda assim, com pressões e repressão, governamos coligados por razões de Estado”, diz ao PÚBLICO Alfred Bosch, conselheiro [equivalente a ministro] da Acção Externa e Relações Institucionais da Generalitat. Bosch, no cargo desde Novembro, garante que não será o Orçamento a fazer cair a Generalitat.

Roger Torrent (ERC), presidente do parlamento autonómico, comentou a vinda a Barcelona do primeiro-ministro com a sugestão de que “Sánchez não quer aprovar o Orçamento”, reiterando a necessidade de “movimentos” por parte de Madrid face à Catalunha. Se quiser de facto aprovar as suas contas o mais longe que Sánchez irá é na insistência de que estas “beneficiam os catalães”.

Há mais teorias. Um jornalista catalão, que prefere permanecer anónimo “devido ao papel obscuro que os media têm tido no processo independentista”, defende que “os socialistas não querem mesmo aprovar o seu Orçamento”. Num país em que o nacionalismo catalão sempre foi usado como arma de arremesso, “é melhor para eles irem a eleições em combate com os catalães do que depois de serem vistos a aceitar o apoio dos independentistas”.

“Oficialmente, a vontade é a oposta, como expressou Sánchez no seu recado a PP e Cidadãos: ‘Podem esperar sentados, vamos governar até 2020’”.

O PÚBLICO viajou a convite da ONG Òmnium Cultural

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