Cristina Ferreira: “Por que é que a elite se entende superior ao povo?”

Cristina Ferreira recebe o P2 na sua nova casa, a SIC, mais concretamente no seu camarim, onde os vestidos e os sapatos enchem duas paredes. Trocou os saltos vertiginosos por umas pantufas com estrelas prateadas. Três horas de um programa em directo onde percorre “quilómetros” em estúdio têm consequências. Chamam-lhe “princesa da Malveira”, mas já é a rainha das audiências com O Programa da Cristina.

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Até a tia ficou confusa: “Mas isto é mesmo na casa da Cristina?”, perguntou, admirada. “Oh mulher, tu já vieste à casa da Cristina, achas que esta é a casa dela?!?”, respondeu-lhe a mãe da apresentadora. É mesmo esta ideia que Cristina Ferreira quer passar para o público com o seu novo programa das manhãs da SIC. Que está em casa, a receber convidados ou quem lhe bata à porta inesperadamente. Ou ainda quem lhe telefone, como fez o Presidente da República logo no primeiro dia, provocando uma onda de indignação, que a apresentadora não compreende por ter visto o gesto como um “miminho”.

Não sendo uma personalidade consensual no meio televisivo, Cristina Ferreira depressa se revelou a galinha dos ovos de ouro da SIC. Nesta primeira semana catapultou o canal para o primeiro lugar das audiências do dia. Nas manhãs, há 16 anos que a televisão de Carnaxide não conseguia tantos espectadores. E parece estar a mudar os hábitos dos portugueses, que estão a usar a nova tecnologia de puxar a emissão para trás para ver um programa da manhã já à noite – numa delas terão sido 60 mil.

O que trouxe de novo Cristina a um formato já tão explorado? Para já, conseguiu pôr o presidente do Benfica a jogar à bisca e a fadista Carminho a bater claras em castelo em directo na TV. Embora saiba que falar de crimes dá audiências, a apresentadora quer arriscar e mostrar, por oposição, um país feliz. Reconhece que não vai ser fácil.

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Tal como não foi o seu percurso do campo para a televisão, de que tanto se orgulha. É dona de um pequeno império – tem quatro empresas em seu nome, um património de alguns milhões de euros e emprega 20 pessoas – que agrega, além da loja de roupa, um blogue, uma revista e contratos publicitários. Dos dois livros que escreveu, o primeiro vendeu mais de cem mil exemplares, as receitas do segundo são para levar crianças desfavorecidas a Inglaterra. Afinal, também é uma mulher de causas, embora não se queira comprometer em termos políticos. Apesar de um percurso de sucesso, continua a não ser reconhecida pelas elites. Mas isso não a incomoda.

O telefonema do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi de alguma forma combinado ou estava à espera de um contacto dele?
Não, de todo. Eu dava-me muito bem com o professor Marcelo, falávamos regularmente. A partir do momento em que foi eleito, senti que nem sequer lhe podia ligar. Achei que devia um respeito para com a instituição. De repente, ter um telefonema dele no meu primeiro dia…


Sempre lhe disse que ele ter estado na minha primeira capa da revista me deu sorte. E que fiquei muito feliz por poder dizer para o resto da vida que o meu primeiro convidado de capa foi Presidente da República — o Presidente que mais afectos distribui a todas as pessoas. Julgo que ele sentiu que me podia dar um beijinho. Acho que ligou para a produção e isso depois foi combinado com a produção. Mas eu não sabia.

E quem ganhou mais: a Cristina ou o Presidente? Ele foi muito criticado…
Acho que ganhámos os dois. Foi criticado e eu tive uma pena imensa que as pessoas tivessem essa reacção, como se ele me tivesse privilegiado em detrimento dos outros, isto quando ele tinha dado uma entrevista ao Manel [Luís Goucha] na semana anterior; como ele já ligou duas ou três vezes para o programa da Fátima Lopes A Tarde é Sua; ou para a RTP muitas vezes. Acho que o “efeito Cristina” é que teve esta reacção por parte da imprensa. Porque em todas as outras vezes que ele ligou para programas de TV nunca se fez uma notícia.

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Cristina Ferreira com elementos da produção, logo depois do final do programa de quinta-feira

O professor Marcelo é assim, é mesmo afectuoso e gosta de deixar marca nas pessoas. Nós é que somos um país que não entende as coisas da forma mais ligeira como devem ser entendidas. Ali era apenas um amigo, uma pessoa que tem respeito pelo meu trabalho e pela forma como estou na televisão e na vida. Achou que eu merecia este miminho. Só o entendo dessa forma e vou guardar para o resto da vida este gesto.

Marcelo não tem ligado muito às críticas que lhe têm feito. Ele nem sequer pensou nas consequências que podia ter este telefonema.

Durante o telefonema também o elogia como Presidente. Faria o mesmo se fosse Cavaco Silva a ligar-lhe?
Eu elogiei a forma como ele tem feito a sua caminhada na presidência. O professor Cavaco pode ser tão ou mais afectuoso que o professor Marcelo, não usa é esse afecto na forma como lida publicamente com os assuntos. Com o professor Cavaco, tive apenas ligações muito breves. Nem sequer tenho o número de telefone dele [risos]. Não há uma relação de afectividade entre mim e o professor Cavaco. Entre mim e o professor Marcelo há.

Terá políticos no seu programa?
Eu gosto muito de políticos, de os entrevistar. Todos devíamos ter imensa curiosidade pelos políticos, que nos gerem os destinos e sempre que algum deles me permitir essa interacção eu irei fazê-la. Tive ontem [quarta-feira] Rosa Monteiro, secretária de Estado da Igualdade e Cidadania; dou-me muito bem com Assunção Cristas; o primeiro-ministro já foi meu convidado e de alguma forma ficámos com uma ligação; Pedro Santana Lopes já não estava em qualquer cargo político.

Eu não entro muito nas questões políticas quando os entrevisto; gosto muito de perceber quem é a pessoa por detrás do cargo.

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É tendencialmente de direita ou de esquerda?
Estou sempre no centro [risos].

Tem aspirações políticas?
Eu, durante algum tempo — isto já foi há anos —, até me via, por exemplo, a ser presidente de uma câmara num futuro longínquo. Porque acho que quem, de alguma forma, teve um impacto público pode usá-lo. A ser presidente de câmara, só podia ser de Mafra [concelho a que a terra de origem de Cristina Ferreira, Malveira, pertence]. Acho que já afastei [a ideia] completamente porque é um trabalho tão difícil de fazer e tem de se dar tanto, por inteiro, ali, que… tem de ser depois de me reformar da televisão.

E concorria através de um grande partido ou criaria o seu movimento?
Eu não vou concorrer, já desisti dessa ideia. Nunca tive uma coisa muito formada. Mas as pessoas, a partir de uma certa altura, foram-me dizendo “e a Cristina não gostava de usar a sua influência de alguma forma na política?” E tu vais pensando: “Será que um dia, se pudesse estar ali, conseguiria fazer alguma coisa pelas pessoas?” Hoje em dia, na reforma, só me imagino mesmo é a ficar sossegada, a não fazer mais nada.

Num sítio paradisíaco ou na Malveira?
Não, na minha Malveira, em casa, não sei ainda a fazer o quê. Esta vida da televisão é muito intensa e a forma como tenho feito todo este meu caminho é esgotante. Acho que daqui a uns anos eu quero mesmo é estar sossegada, sem esta exigência do daytime. Porque uma coisa é fazer um programa por semana num horário de prime time, outra coisa é estar todos os dias aqui das 7h às 20h, como tenho feito nestes dias. É de uma exigência que acho que as pessoas não têm noção.

Não tendo agora aspirações políticas, enquanto cidadã e figura pública, vê-se a fazer uma campanha, por exemplo, contra a abstenção?
Fui sempre dizendo nos programas que as pessoas não se podem queixar se não foram lá manifestar a sua opinião. Devíamos ser muito mais interventivos. Gostamos muito de falar no café e pouco de agir e eu incluo-me nisso também enquanto cidadã.

Eu luto pelos direitos das pessoas criando os meus movimentos e esta campanha da violência [doméstica], embora não seja institucional, é uma coisa minha e que de alguma forma não vou largar porque a fiz na minha revista [de Outubro]. Foi tão difícil para mim durante aquele fim-de-semana em que recebi milhares de mensagens de pessoas que encontraram ali um porto de abrigo e que partilharam comigo as suas histórias…

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Liguei para a assessoria do primeiro-ministro e disse-lhe é preciso fazer alguma coisa, e que sempre que tiverem algum espaço em que seja preciso alguém falar eu estou à disposição porque ouvi muitas histórias e posso partilhá-las, e a própria secretária de Estado fez questão de entrar em contacto comigo. Disse-lhe que não vou deixar que esta campanha caia e fi-lo logo na minha primeira semana de programa.

Tem outras causas?
Tenho outras como a igualdade de género. Essa, faço-a constantemente só pelas minhas acções, pela forma como mostro que se pode ser mulher e conseguir chegar onde queremos. É muito mais fácil para um homem do que para uma mulher e eu gosto de expressar essa mensagem de que não: que também pode ser feito com mulheres sem haver qualquer tipo de negligência em relação à família e aos filhos. O meu filho tem tanta ou mais atenção do que o de uma mãe que tem trabalho das nove às cinco, certinho, e um fim-de-semana tranquilo.

Eu gosto de passar estas ideias e usei muito a minha revista para isso. Acho que já deu para perceber por algumas capas, como quando fiz com a homossexualidade e com o beijo.

Olhando para essas iniciativas: considera-se uma mulher de causas?
Não. Acho que tendo esta exposição pública e se a minha voz de alguma forma chega aos outros, eu não tenho medo de o fazer. Quando fiz a capa da homossexualidade, toda a gente me disse que ela ia ser rejeitada e que a revista não ia vender. Mesmo que ela não venda, eu preciso de fazer isto para mim e na altura contei a história: dei aulas e numa turma todos começaram a brincar com uma menina dizendo que gostava de meninas e eu fiquei tão aflita naquele momento que acho que não a consegui ajudar. Mandei-os só sossegar. E a cara dela está-me marcada na memória. Acho que me fui culpando ao longo dos anos por não a ter ajudado e talvez aquela capa tenha sido para aliviar essa culpa.

Faria uma capa da revista com touradas? É a favor ou contra?
Sim. Eu sou do campo e quem é do campo tem uma visão diferente das pessoas da cidade. Eu e a minha família fomos a touradas toda a vida e confesso que na altura eu tinha uma visão diferente. Não sou do contra assumido de ir para a porta do Campo Pequeno dizer que não às touradas, porque há um percurso anterior que ainda não consegui ultrapassar, mas também já não sou capaz de ir a uma tourada nem de a ver e não entendo por que é que se faz. O caminho é para a extinção, não tenho dúvida.

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Quem criou o conceito do programa?
Eu e o João Patrício, que é o realizador e também coordenador de conteúdos. Fizemo-lo em 2014. Pensámos que um programa de daytime dentro de uma casa – porque nós entramos na casa das pessoas todos os dias –, podia dar origem a um formato muito engraçado e fomos trabalhando na ideia. Ao ponto de o apresentarmos à TVI, que o guardou na gaveta. Achou que não era a altura de ele ser implementado. E eu percebo por que é que não o fizeram: eu fazia dupla com o Manel e as coisas corriam tão bem, por que é que íamos mudar uma coisa que corria tão bem? Mas surgiu esta oportunidade de vir para aqui [para a SIC].

Além do décor, o que é diferente em relação aos programas da manhã? Tem as rubricas do crime, culinária…
A forma como as coisas chegam a casa. Os conteúdos são exactamente os mesmos dos outros programas de daytime, não dá para inventar, a TV está estudada, a forma como as pessoas querem ver TV neste momento também. Eu sei que temas é que tenho de ter, agora a forma como são trabalhados, aí, sim, podem parecer diferentes.

Há aqui uma curiosidade nesta primeira semana: há pessoas que acham que esta é mesmo a minha casa e que confundem o plateau com uma casa. E isto aqui dá muito espaço para brincar, poder cozinhar… tive reacções maravilhosas de pessoas que uma hora depois estavam a mostrar fotos da receita que tinham acabado de fazer, de um restaurante que passou a ter o doce da Cristina na ementa e são coisas que eu gosto de sentir que as pessoas estão ali a absorver e querem repetir. É este intercâmbio entre quem está aqui e quem vê que é muito curioso de perceber.

E depois o fenómeno de quem vê à noite. Neste momento, posso dizer que é um programa de prime time. Na quarta-feira, 60 mil pessoas viram o programa à noite, chegaram a casa e tiveram curiosidade de ver.

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"Na quarta-feira, 60 mil pessoas viram o programa à noite, chegaram a casa e tiveram curiosidade de ver"

E isso é um fenómeno na TV? Ver o programa da manhã à noite?
O que é curioso aqui é as pessoas à noite irem ver o programa do princípio ao fim. E isso está a ultrapassar-nos.

Não estavam à espera?
Não. Nós sabíamos que o programa tinha qualidade, que nos podíamos impor pela diferença.

Quem é este público? É diferente o das idosas de manhã do da noite? Ou isto é preconceito?
É. Esse é o grande engano. É óbvio que se encara que a maior parte das pessoas que estão em casa de manhã são donas de casa ou já têm uma certa idade e supostamente são o público-alvo, mas não são. Na estreia, tive um número astronómico nos 14 aos 18 anos que achámos que tinham faltado à escola. [risos] É muito curioso perceber que há faixas etárias que vêem à noite e que têm profissões que se diria que supostamente não têm interesse no daytime e que, afinal, vêem o programa.

Fala-se muito do afastamento do público para o cabo e eu sempre bati nisto: a boa televisão tem sempre espectadores. Se lhes dermos qualidade, eles estão lá.

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Nesta primeira semana, notou-se que houve grande preparação. A dificuldade é manter a fasquia tão alta e por quanto tempo…
É muito difícil ter, todos os dias, um produto espectacular do princípio ao fim; tenho esta noção. A dificuldade é que tive uma entrevista à mãe do Rui Pedro, que eu sei que é muito forte, e estas entrevistas não existem todos os dias em TV. Somos um país com muito pouca gente.

Tive um presidente do Benfica e agora alguém que esteja equiparado é um presidente do FC Porto e não tem mais. Ou seja: nós temos de perceber a nossa realidade.

E já convidou Pinto da Costa?
Já [gargalhada]. Há muito tempo. Ainda não recebi resposta. Muita gente estranhou por que [Luís Filipe] Vieira aceitou vir. De alguma forma foi um sinal de inteligência dele porque percebeu a quantidade de pessoas que poderia estar a ver o programa, mas acima de tudo porque cada vez mais se tira este estigma dos programas da manhã. E tenho também a noção de que é por mim, que há um trabalho feito de confiança em relação a mim e à forma como trato os meus convidados que faz com que tenham também vontade de vir.

Se tu entrevistas um Presidente, um primeiro-ministro, algumas figuras com algum destaque que aceitam falar contigo, as outras pessoas ficam a pensar que se calhar é por algum motivo. Sinto que as pessoas têm cada vez mais confiança e que me escolhem para momentos-chave da vida delas. Quero muito que as pessoas sintam que são respeitadas aqui no programa e que só sairão melhores daqui.

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Vê o seu programa encaixar na grelha da SIC à noite?
Acho que hoje teria espaço para [ele]. Estamos na fase em que a TV precisa de fazer experiências. É hábito os programas da manhã terem um espaço criminal na última parte. Eu não o vou fazer muitas vezes mais. Temos sentido que não temos de o fazer todos os dias. E correndo o risco de não ganhar, vamos experimentar outras coisas.

Há muito crime e violência no programa, mostra-se muito a fragilidade humana, todos os programas falaram sobre morte.
Sejamos sinceros: nós falamos de crime na última parte porque vamos ao encontro do que as pessoas querem ver e que tem audiência. O que eu quero provar é que à mesma hora eu posso estar com uma história muito feliz e conseguir que as pessoas prefiram ficar ali.

Vai experimentar esse novo modelo já na próxima semana?
Vou [risos]. Correndo esse risco, mas vou. Isso pode ter custos e eu posso estar aqui nos próximos tempos a perder e a impor um caminho difícil, mas que quero fazer. Temos de nos centrar no lado bom da vida de novo e temos vontade de o ver em TV.

E é curioso que com Luís Filipe Vieira até deu notícia sobre o treinador, porque depois os noticiários puxaram por ela...
Eu vi-me nos noticiários todo o dia [gargalhada], mas isso é normal que aconteça quando tens a pessoa que toda a gente quer ouvir, incluindo os formatos de comentário futebolístico. Quando ele fala, é óbvio que durante todo o dia vão pegar no que disse aqui. E o curioso é que ele disse da forma mais natural possível, a jogar às cartas comigo.

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Sente que as pessoas podem confundir se a Cristina é jornalista ou entertainer?
Eu tenho essa base de jornalismo. E daí gostar tanto de entrevista, de fazer reportagem como fiz com o doc [espécie de documentário sobre tradição em Castro Laboreiro]. Senti que tinha de retroceder às minhas origens. Agora, não tem de ser da forma séria como o jornalista tem de fazer.

Assim tem muito mais liberdade, é isso?
Tenho, sim, muito mais liberdade. Por exemplo, o jogo das cartas [com Vieira] não é inocente, é uma brincadeira que leva a pessoa a estar descontraída naquele momento. Uma coisa é estar a olhar para ti e fazer-te perguntas duras, outra coisa é estarmos num momento divertido e sai a resposta. Acho tão mais giro fazer entrevistas dessa maneira...

Portanto, nós, jornalistas, devíamos jogar mais às cartas com os entrevistados?
Não, vocês fazem o vosso trabalho tal como o devem fazer, mas estão hoje aqui a fazer uma entrevista de uma forma mais descontraída do que a que fariam a um Presidente da República e se calhar deviam experimentar fazer-lhe uma entrevista mais descontraída e podiam ter respostas que não tinham se fosse de forma tão institucional.

A minha linha editorial é esta e é desta forma que eu quero que as pessoas entrem lá em casa, de uma forma descontraída. Uma entrevista muito séria com os temas mais fracturantes deixo para o Jornal da Noite.

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E jogaria às cartas com Mário Machado?
Não. Até hoje, no meu percurso profissional, nunca pensei em ter Mário Machado como meu convidado, portanto, não o teria trazido a um programa meu. 

Mas a extrema-direita ou outros movimentos devem ter espaço na comunicação?
Temos de ter algum cuidado com os convidados que escolhemos. Mas acho que de alguma forma têm de ter [espaço]. Temos de ouvir toda a gente. Não podemos é deixar que quem nos ouve não tenha acesso ao perigo de algumas palavras que são ditas. Temos de explicar o porquê de algumas daquelas ideias ou conceitos já estarem ultrapassadas. Um pouco como as touradas...

Com a questão de Salazar, por exemplo, temos de perceber por que é que a maior parte das pessoas com mais de 60 anos tem alguma saudade de Salazar. E podemos fazer esse trabalho de mostrar por que é que boa parte dessas pessoas diz que tem saudades daquilo. Mas também é preciso explicar o que mudou, como a vida era antes e como é agora; e por que é que agora é melhor que antes.

Disse no programa que está a “tentar entrar na vida das pessoas, a tentar perceber como conseguem viver desta forma” e que não é bem reportagem, é um “doc Cristina”. Que formato é este exactamente?
É uma tentativa de que o formato seja o mais aproximado do documentário. Porque não estou ali a entrevistá-las, estou ali a acompanhá-las. No caso das Carmelitas, o meu objectivo foi mesmo poder dormir lá uma noite, e percebi logo que era impossível e que não temos qualquer tipo de acesso. Mas já estou em primeiro da lista para quando elas deixarem alguém lá dormir [gargalhada].

Aquela é uma realidade que quem vir o documentário vai olhá-la de outra maneira. Achamos que quem entra num convento para ficar lá fechada para o resto da vida ou teve um desgosto de amor ou alguma coisa na vida que a fez afastar-se de toda a gente. E com a conversa que tive vão perceber que não.

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São pessoas normais.
Que tinham uma vida muito tranquila, perfeitamente normais e que sentiram o tal chamamento, uma necessidade imensa de ir para ali. E eu nunca encontrei um ar de felicidade tão grande em pessoas que entrevistei como nas que encontrei nas Carmelitas. É esse tipo de documentário e reportagem que eu — e a equipa fará outras — quero muito fazer e que já tenho aí alinhado para continuar a fazer.

Quer mostrar um Portugal bucólico?
Não, é tudo aquilo que exista. Tem que ver com a minha curiosidade em relação a algumas coisas e passa também muito pelas tradições e pelo que era feito há 30 anos, que está na memória da maior parte das pessoas que vê este programa e que se deixou de falar ou de fazer e que eu quero continuar a mostrar.

É nitidamente um programa de afectos, emoções, de histórias. Mas também é pela parte mais frágil das pessoas…
Não. Eu tive três convidadas ontem que falaram da morte do pai e da mãe. As três saíram daqui perfeitamente felizes, serenas, porque sentiram que tinham recordado os pais e, da minha parte, recebi dezenas de mensagens de pessoas que se tinham sentido bem a ouvir porque elas sentiam exactamente o mesmo.

Portanto, não é exploração?
Não. Eu recebi uma mensagem muito curiosa de uma professora que já foi do [meu filho] Tiago, que me disse: “Assistir ao teu programa durante três horas é melhor que ir à terapia.” Esse não é o meu objectivo, o meu objectivo é mesmo a partilha de vida. E a vida é isto: hoje tive um pai que foi com a mulher para a maternidade para um dos momentos mais felizes de um casal, que é ter um filho, e ele trouxe o filho, mas não a mulher porque ela morreu no parto. Esta é uma realidade que existe e a forma como tu lidas com ela faz com que as pessoas lá em casa de alguma forma entrem na vida dos outros. 

Isto é um bocadinho uma novela só que a novela aqui é mesmo real; são pessoas reais. Em todos os programas, eu tento fazer o equilíbrio entre o que é mais duro nas nossas vidas e o que é mais fora da caixa.

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Quer ser vista como a dona de casa ou a dona da casa? Já cozinhou, limpou o pó...
[gargalhada] Eu sou a dona da casa, sendo que sou dona de casa também porque a casa sendo minha... há um pormenor muito curioso: custa-me dizer, por exemplo, “bem-vindos ao Programa da Cristina”. A boca foge-me sempre para “bem-vindos a casa”. Quando passámos a ideia ao arquitecto, dissemos “não queremos um estúdio que pareça uma casa; nós queremos uma casa que pareça um estúdio”. E isto faz toda a diferença.

Sobre as audiências: há pouco falámos sobre o ganhar e perder. Para já...
Está tudo bem. E ainda bem que usou o “para já”.

Não teme que seja só a curiosidade da primeira semana de programa?
Eu vou ser muito sincera: estava preparada para, no primeiro dia, ganhar porque havia esta curiosidade. E estava preparada para no outro dia não ganhar ou para estar equilibrada ou para continuar a ganhar. Coloquei em mim todos os cenários possíveis e imaginários. Como estou preparada para as coisas irem estabilizando.

Porque não posso esquecer que estou a combater com a RTP e com o programa que é líder de audiências há 12 anos [Você na TV!] e estamos a falar de hábitos televisivos e estes para serem mudados precisam de tempo. Eu comecei o Você na TV! e só ao fim de dois anos é que nós começámos a ganhar. Portanto, preparadíssima para isto ser uma batalha dura e para estarmos dia a dia a ver quem chegou melhor a quem está lá em casa. Mas só o facto de o público se sentir dividido e querer espreitar um e outro deixa-me muito feliz, porque é isso que é a televisão.

Já falou com o Manuel Luís Goucha desde segunda-feira?
Não, ainda não. [risos] 

Ainda nenhum tomou a iniciativa?
Não, mas já me ligaram algumas pessoas da TVI — não vou dizer quem. Acho que perceberam agora por que é que estou aqui. Para já, porque a SIC é a estação de televisão mais estável para eu poder pôr este projecto no ar, porque é a estação que me permite fazer este projecto da forma como eu o quero fazer e porque estamos todos muito felizes — e quando digo equipa é a SIC inteira — para, de alguma forma, mudar aqui o paradigma da televisão.

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As pessoas por vezes esquecem-se de que vivemos com a SIC os programas mais marcantes da TV portuguesa: o All You Need is Love, Perdoa-me, todos os concursos.

Isso foi no início da TV privada, quando havia mais espaço para a inovação.
Sim, mas se formos à memória televisiva, tudo aquilo que foi inventado e parecia novo está lá nesse início da TV privada; de resto, nós só fomos readaptando, não houve grandes novidades na televisão depois do Big Brother; os grandes formatos estão todos lá e são todos da SIC — quase todos.

Mas tenciona ligar-lhe no fim-de-semana?
Não sei. Porque eu estou na posição mais difícil: sou eu que estou a ganhar que vou ligar? Sempre disse que o que perder vai ficar triste nesta fase. É inevitável. Nós os dois estávamos habituados a ganhar juntos. Portanto, se eu perder, vou ficar tristíssima, como eu sei que o Manel só pode estar. Nenhum de nós quer perder.

Eu sei que há tristeza do outro lado mas não tenho de ser eu a dizer [faz o gesto do telefone com os dedos junto ao ouvido e uma careta tristonha] “Atão, tás triste?” Não é? Não sou eu que vou dizer isso…

Se calhar quebrava o gelo…
O Manel é das pessoas mais importantes da minha vida para sempre. Ponto. Mas acho que temos de respeitar as fases do processo e esta é uma fase em que os dois precisamos deste silêncio de parte a parte.

Voltando à SIC, diz que partilha a mesma ideia de televisão que Daniel Oliveira. Que ideia é essa?
É esta que se está a sentir [risos]. De repente, percebemos que o público está lá e não a fugir ou só nas redes sociais e que ainda é possível ter gente a ver televisão. O que o Daniel me disse combina com aquilo que entendo que é a televisão. E isso só podia fazer na SIC.

Tal como na TVI tinha funções ao nível de direcção-geral, aqui também tem. Em que é que podemos ver a sua mão no resto do alinhamento da SIC?
Eu costumo dizer que o Daniel tem o cargo mais chato porque tem de estar atento a tudo, ligar aos números, estar nas reuniões. Eu não. Eu só dou ideias, qual é a minha opinião em relação aos formatos, quem é que deve participar, como promover. Só isso. Eu sou consultora e tenho o papel de ajudar e dar a minha opinião, depois quem decide é o director.

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As acções da Impresa subiram quando se soube da sua transferência, em Agosto e esta semana, a reboque das audiências do seu programa…
Mas isso é normalíssimo que aconteça.

Tem consciência do seu peso financeiro na empresa?
Tenho consciência de que estou a fazer um bom trabalho e que isso tem retorno para a empresa. Fico muito feliz com isso. Se puder crescer ainda mais, ainda mais feliz fico. Mas isto não tem que ver só comigo; tem que ver com um trabalho que está a ser feito pela estação há algum tempo e que, agora, tem-me também a mim. Eu quero muito que entendam isto como um trabalho de equipa. 

Mas, insistimos, esta ideia de TV de que fala é exactamente o quê?
A SIC sempre foi líder nos targets comerciais, há um espaço que é da SIC desde sempre e é a SIC a querer ser líder de audiências. E nestes dias já foi.

 Como é que isso se faz? Estando mais próximo das pessoas, trazendo o país real para o ecrã?
É ter conteúdos que chegam às pessoas ou as pessoas terem curiosidade agora de ver o que estamos a fazer. A SIC tinha muitos programas que ganhavam antes de eu chegar; e ninguém ganha só porque eu ganho; nós ganhamos porque eu ganho — a Júlia [Pinheiro] ganha, o Jornal da Noite ganha...

Vão embalados pelo seu sucesso?
Eu não sei se vão embalados. Sou eu que abro a porta de manhã. Não quero perder, mas pode haver um dia em que eu não embalo ninguém e o resto tudo ganha. Estamos muito concentrados nesta guerra [de audiências], tentou criar-se esta guerra...

Mas há concorrência.
Sim, sempre houve e agora todos os dias, às 9h da manhã, [na imprensa] está tudo a ver se vai escrever se é o Goucha ou a Cristina quem ganha. Temos de passar por esta fase e ficar atentos à forma como estamos a fazer isto. Eu acho que estamos a reviver o início das televisões privadas, como se isto fosse esse início, sendo que agora já há um historial.

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Quando foi ao programa Alta Definição, aceitou o desafio de ir sem maquilhagem?
Não. Aliás, a maior parte das pessoas já não vai sem maquilhagem; não vai é com uma tão carregada como eu. Não teria ido [com maquilhagem], mas fizemos a entrevista no dia da apresentação do programa e não houve tempo para tirar.

Mesmo assim disse “eu sou como estou”.
Porque eu também sou aquilo! Tentei mostrar que existo de duas formas: uma Cristina que só quer o sossego fora da televisão e que é mais calma, tímida e quer muito andar sem maquilhagem e sem saltos altos; e outra Cristina que trabalha em televisão e que no seu lado público gosta de aparecer maquilhada, com vestidos mais extravagantes, saltos altos.

Existem também duas Cristinas, a que fala como o povo e é admirada por ele, e depois há outra que é criticada pela elite, que a olha com desdém e lhe chama “princesa da Malveira”...
E por que é que a elite é melhor do que o povo? É essa a pergunta que eu gostava de deixar. Por que é que a elite se entende superior ao povo? 

Como é que olha para essas críticas?
Passam-me completamente ao lado. Quando sinto que são construtivas e que são de alguém que sabe o meu percurso, que tem a noção de como cheguei até aqui e já leu as minhas revistas, aí eu tomo em conta essa opinião. Quando usam o “saloia” para depreciar o meu trabalho desde sempre, aí nem sequer me dou ao trabalho de perceber quem o está a fazer. Acho que devíamos tentar acabar com essa diferença entre elite e povo e tentar perceber que há muita grandeza no povo, há muita grandeza na elite; há muita pobreza no povo e há muita pobreza na elite, se me fiz entender… [risos]

Como faz a fronteira entre a Cristina do ecrã e a que chega a casa?
É naturalíssimo. [Por exemplo,] o público que está a assistir no estúdio já reparou que estou muito calada até às 10h10 e quando aparece o genérico é outra Cristina que está ali. Eu sou isto. Isto sou eu. Eu sei que é difícil de perceber como é que há duas pessoas que parecem tão distintas numa só, mas tem que ver com a forma como eu trabalho. Esta Cristina da televisão existe muito pouco fora dela [da televisão] porque eu não danço, não canto, não faço partidas, não falo tão alto...

Então, o que faz a Cristina que não está no ecrã?
A Cristina que não está no ecrã quer é estar em casa a ler a imprensa ao fim-de-semana, a fazer as suas caminhadas, a ir às compras para a casa à mercearia, a ir com o filho ao parque porque ele gosta. Gosta de viajar... Mas acima de tudo gosta muito de estar sossegada em casa, no seu cantinho. Eu costumo dizer que eu tenho tanto barulho diário na minha vida que eu preciso daquele silêncio. Eu já fiz a festa durante estas três horas [que duram o programa], portanto, agora vou descansar.

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E escreve?
Escrevo. Todos os textos do blogue são escritos por mim, os editoriais e entrevistas da revista. Não há nenhum texto que seja assinado que não seja meu!

Quantas horas tem o seu dia?
24, tal como o dos outros! [risos] Aproveito muito bem o meu tempo. Por exemplo, é quando estão a secar-me o cabelo que eu estou a escrever os textos para o blogue. Não perco um minuto do meu dia em coisas que distraiam. É tudo para fazer muito certinho. Eu não me atraso e não permito que as pessoas se atrasem comigo, porque tenho o meu tempo todo muito contado.

Por falar em secar o cabelo, em que dia fez essa mudança radical?
Foi mesmo no dia 7, às oito da manhã. Pensei nisto antes, eu queria cortar, gosto de marcar as minhas fases por mudanças de visual, tinha feito quase sempre com mudanças de cor; mas apeteceu-me muito entrar de cabelo curto nesta fase porque toda a minha adolescência usei o cabelo curto. Não sei se me apeteceu voltar a esse momento em que temos todos os sonhos do mundo dentro de nós.

 Com todo o cabelo que cortou, o que deixou para trás?
Não deixei nada, iniciei uma fase que já andava a construir desde Agosto, o momento em que soube que vinha para aqui.

Nas fotografias que estão no décor, há uma em que está vestida de Senhor dos Passos...
Sim, que é uma tradição da minha zona.

Depois há outra da sua primeira comunhão. É católica praticante?
Não... eu fiz a catequese, a primeira comunhão, vou a Fátima, tenho muito respeito. E gosto de ir a funerais, porque acho que essa despedida deve ser feita e quem fica cá precisa da nossa ajuda nesse momento. Somos uma sociedade que entende a morte como o fim e daí o nosso choro e a nossa tristeza. Não vou à missa todas as semanas, mas sinto que a forma como eu dou à vida a vida me tem dado a mim. E é talvez isso a minha religião: tu recebes aquilo que tu dás. A penitência cumpre-se quando fizeste uma má escolha.

No programa fala do seu filho, dos seus pais, no cenário tem fotografias dos seus pais, no entanto, eles nunca aparecem, porquê?
Estas fotografias só estão aqui porque já apareceram no livro [Sentir, editora Contraponto] e porque representam o passado deles. Não é aquilo que eles são hoje. Foi condição, desde o início, manter alguma coisa realmente minha. Fui eu que escolhi trabalhar em televisão, só eu é que tenho exposição pública. Eles têm de andar na rua sem os olhares postos neles.

Foi complicado ter a vida privada exposta?
Foi e continuará a ser. As coisas menos bonitas que escreveram foram relacionadas com um período da minha vida, da separação, que nem sequer correspondiam, na maior parte, à verdade. É tentar ultrapassar isso. Já lido perfeitamente com tudo, seja mentira, seja verdade; e só tenho respeito por quem me respeitou quando me entrevistou e colocou aquilo que realmente disse.

De alguma forma cultiva esse lado de ser do campo, da Malveira...
Cultivo porque ele está em mim, é do que realmente gosto.

Mas fá-lo porque pode ser um exemplo para os outros, uma espécie de sonho americano?
Não, mas, lá está, porque a maior parte das pessoas quer tirar a grandeza ao povo. Porque não entende que quem nasce num sítio em que supostamente vai fazer o que há ali à disposição possa apanhar o autocarro e vir para a cidade. E na cidade conseguir sobrepor-se a quem aqui está e chegar aonde tinha ambicionado.

Considera-se um exemplo?
Não. Acho que – recebo muitas mensagens dessas – quem vive em zonas supostamente menos privilegiadas, com menos acesso, sente que é possível. E se o sente só porque vê o meu exemplo, fico muito feliz que possa estimular outra pessoa a não ter medo de sair e de ir à procura.

Quando começou era aqui que queria chegar?
Eu nem sequer achava que ia ser jornalista televisiva... Nunca pensei muito nas minhas escolhas, devo confessar. Fiz os testes psicotécnicos, fui para o curso de Comunicação, depois gostei do jornalismo televisivo quando tive aulas; e adorei quando fiz o estágio na RTP — saí porque ninguém lá ficava. Depois fui professora, gostei muito, mas sabia que não era aquilo que queria fazer toda a vida. Tive a sorte de fazer o curso do [Emídio] Rangel e, quando entro na televisão, percebo que era realmente isto que queria fazer. Aonde queria chegar? Nunca planeei.

Não planeou, mas tinha ambição?
Não. Nunca tive a ambição do prime time ou de ser a grande apresentadora do país, fui trabalhando. Fui agarrando algumas oportunidades, fui percebendo que havia coisas que gostava de fazer e que o meu nome e a forma como eu fazia resultavam. Enquanto me apetecer, vou continuar a fazer aquilo faço e de que gosto. Enquanto eu tiver um brilho no olhar por estar na televisão, vou continuar. No dia em que já não me disser nada, vou-me embora.

Tem o programa, o blogue, a revista; para quando um canal?
[riso] Estou na SIC, é o canal!

Quando é que compra a SIC?
Não me parece que vá ter disponibilidade financeira para o fazer. [risos]

Aonde é que se vê daqui a dez anos?
Vejo-me ou a fazer televisão ou fora da televisão. Não faço esses planos a tão longo prazo. 

É também empresária, portanto tem um plano B?
Eu sou menina para um dia acabar com isto tudo e fazer outra coisa qualquer. Toda a gente tem um bocadinho de medo de mim nesse aspecto.

Porque ainda emprega algumas pessoas?
Mas isso eu arranjo maneira de elas irem comigo para essa outra coisa qualquer. 

Quantas pessoas trabalham consigo?
Neste momento, fixas, perto de 20, na revista e no blogue. 

Isso é um pequeno império?
Não, é uma pequena dor de cabeça no sentido em que, no fim do mês, eu tenho de lhes pagar.

Nunca falou no valor que veio ganhar para a SIC...
Nem vou falar... 

Mas tem um património extenso.
O dinheiro não é de quem o ganha, mas de quem o poupa e eu, felizmente, tenho poupado muito. [risos] 

O facto de ser alguém com empresas com património superior a três milhões de euros...
Ai é? Fizeram essas contas?! 

É público. Sente que isso a coloca num patamar especial na sociedade portuguesa?
Eu tenho uma vida muito mais favorecida do que a maior parte das pessoas. Isso não posso negar. Ganho muito mais do que a maior parte das pessoas e isso tem que ver com a sorte de estar num meio que me permite chegar a estes valores, mas também — e isso gostava que as pessoas entendessem — não há nenhuma empresa que me contrate que não tenha o retorno e não ganhe mais do que aquilo que eu recebo por estar aqui.

As pessoas olham muito para aquilo que tu ganhas e não para o que trabalhas e o percurso que tens de fazer. 

Além da televisão e das empresas, imagina-se a criar uma fundação a pensar numa causa social?
Embora não seja muito público, os lucros do meu perfume são entregues a uma associação; com o livro de inglês [Falar (Inglês) É Fácil], não tenho qualquer lucro [o dinheiro é para levar alunos desfavorecidos a Inglaterra aprender o idioma]. Ou seja, faço umas coisas pequeninas e não ando a promovê-las, mas um dia gostava de fazer uma coisa que não posso contar já porque preciso de ter o parceiro certo e porque implica muito com a vida das pessoas. 

Algo ligado às mulheres, às crianças?
Mais ligado à formação das pessoas. 

Se tivesse de escolher uma canção que definisse a sua vida, qual seria?
Não sei, mas seria popular, de certeza absoluta!

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