Montenegro sobre o PSD: "Este estado de coisas tem que acabar"

Luís Montenegro assumiu que "o PSD tem que mudar", porque assim "não se vai conseguir afirmar"

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Luís Montenegro deixou o Parlamento há quase um ano LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Luís Montenegro, o ex-líder parlamentar social-democrata, acusou nesta quarta-feira a ex-presidente do partido Manuela Ferreira Leite de fazer "declarações gravíssimas" e de não se importar que o partido fique "cada vez mais pequenino".

Luís Montenegro reagia, na TSF, a declarações feitas na terça-feira à noite por Manuela Ferreira Leite, na mesma estação de rádio, nas quais considerou preferível o PSD ter "pior resultado" eleitoral do que ficar com um "rótulo de direita".

"Quero dizê-lo com toda a frontalidade: eu defendo e estarei sempre na linha da frente de um PSD grande e de um PSD ganhador", disse Montenegro para quem as declarações de Manuela Ferreira Leite "são elucidativas" do estado actual do PSD: "Quero dizer que isto é muito elucidativo do estado a que chegou o PSD. Não quero hoje dizer mais do que isso. Quero dizer que em breve, muito em breve, falarei sobre o estado do PSD, falarei mesmo sobre o futuro do PSD, porque entendo que este estado de coisas tem que acabar. Tem que mudar. O PSD assim não se vai conseguir afirmar".

Montenegro, que fez um discurso de oposição a Rio no congresso e assumiu-se como pré-candidato a uma liderança futura, tinha prometido que só desafiaria o líder depois das legislativas. Mas pode ter mudado de ideias. Entre alguns apoiantes, sabe o PÚBLICO, existe a esperança de que possa avançar já, mesmo antes das eleições para o Parlamento Europeu. As palavras desta quarta-feira podem ser lidas como a antecâmara desse desafio à liderança de Rio. 

Foram as palavras de Manuela Ferreira Leite que, como Montenegro fez questão de deixar claro, "correspondem à linha política da actual liderança que ela, de resto, defende e é uma das mais proeminentes apoiantes", que fizeram despoletar a decisão de Montenegro de "falar em breve sobre o futuro do PSD". 

"Dizer como ela disse que prefere um mau resultado a um rótulo que não existe, de uma coisa que ainda nem sequer se realizou, que tem pessoas, ou pelo menos devia ter, de vários quadrantes políticos é, a meu ver, de facto, gravíssimo. É gravíssimo que se diga uma coisa destas, até porque por detrás desta afirmação está uma ideia de PSD com a qual eu estou em absoluto desacordo", assumiu.

Para o líder do grupo parlamentar do tempo de Pedro Passos Coelho, que deixou o Parlamento há quase um ano, é "muito perigoso" que se tente "matar" a "ideia do PSD como um grande partido, com vocação maioritária, com vocação de Governo". Isso seria "mesmo descaracterizar o PSD", argumentou.

Luís Montenegro será um dos oradores do Convenção do Movimento da Europa e Liberdade (MEL), que se realizará na quinta e sexta-feira, reunindo na Culturgest, em Lisboa, várias figuras do centro-direita português, casos da actual e do antigo presidente do CDS-PP, Assunção Cristas e Paulo Portas, respectivamente, do líder do partido Aliança, Pedro Santana Lopes, do ex-líder parlamentar do PSD Luís Montenegro e do antigo presidente social-democrata Luís Marques Mendes.

Manuela Ferreira Leite considerou preferível o PSD ter um "pior resultado" eleitoral do que ficar com um "rótulo de direita", num debate em que reduziu a Convenção da Europa e Liberdade à luta pelas listas de deputados.

"Não posso nunca concordar com aqueles que preferem ver o PSD com um carimbo que eu acho que não faz parte da sua génese, do seu ideário e que eu prefiro que tenha pior resultado nas eleições do que tivesse melhor com um rótulo que eu acho que não lhe assenta", afirmou a ex-ministra das Finanças de Durão Barroso no programa da rádio TSF Pares da República, gravado na terça-feira à noite.

Na véspera da Convenção do MEL, que junta várias figuras do PSD conotadas com a ala adversária da liderança de Rui Rio, Manuela Ferreira Leite não poupou nas palavras, chegando a manifestar "algum desprezo" pela iniciativa.

"Acho que todo este tipo de movimentos que se baseiam em questões de natureza pessoal e muito marcados pela futura próxima constituição de listas para deputados merecem-me algum desprezo", assumiu a ex-dirigente social-democrata, para quem "é óbvia" a relação entre a Convenção do MEL e as próximas eleições.

"É agora ou nunca! Quando estiverem feitas as listas já as pessoas todas se desinteressam e só acordam daqui a quatro anos", argumentou.

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