Condenação geral da violência após agressão brutal a político da AfD

“Quem usa o ódio para lutar contra o ódio, faz com que no final vença sempre o ódio”, disse Cem Özdemir.

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Investigadores no local em que o político foi alvo de agressão. Fi criada uma comissão especial para investigar o caso FOCKE STRANGMANN/EPA

Um político do partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD) foi violentamente agredido, no que está a ser considerado um ataque com motivação política – e que foi prontamente condenado por vários políticos alemães, muitos deles alvos das críticas da AfD. A polícia anunciou a criação de uma comissão especial para investigar o crime.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, do Partido Social-Democrata (SPD), declarou no Twitter que “a violência não pode nunca ser um meio de conflito político – é absolutamente indiferente de quem se trata ou os seus motivos”. “Quem quebra este princípio tem de ser punido.”

O político dos Verdes Cem Özdemir declarou no Twitter que espera que o ou os culpados sejam rapidamente identificados e julgados. “Quem usa o ódio para lutar contra o ódio, faz com que no final vença sempre o ódio”, concluiu.

O político atacado, Franz Magnitz, foi hospitalizado na sequência do ataque. “Devo ficar aqui ainda bastante mais tempo”, comentou à agência DPA. Magnitz não viu o ou os atacantes, nem ouviu qualquer palavra deles. Foi ferido na cabeça, poderá ter sido usada um barrote de madeira, segundo o partido, que fala em tentativa de assassínio.

Magnitz, deputado no parlamento nacional e responsável político da facção em Bremen, saía de uma recepção no Weser Kurrier, um jornal de Bremen, na segunda-feira, quando foi atacado, ficando inconsciente. Assim ficou até ser descoberto por dois trabalhadores, que carregavam o seu carro nas redondezas, segundo o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ).

A AfD divulgou imagens do político no hospital, com o rosto e a cabeça inchados e ensanguentados, vendo-se manchas de sangue ainda no lençol – eram evidentes os ferimentos graves. Vários elementos do partido partilharam a fotografia, excepto um dos responsáveis do grupo parlamentar do partido, Leif-Erik Holm, dizendo que não tem a certeza se a vítima gostaria disso.

O partido, através dos seus líderes, Alexander Gauland e Alice Weidel, disse que o ataque “é o resultado da perseguição contínua de políticos e dos media" contra o partido.

A AfD é um partido que tem jogado com o medo e o ódio, especialmente em relação a refugiados e imigrantes, andando numa linha ténue no discurso, o que levou as autoridades a considerar pôr alguns dos políticos ou ramos sob vigilância dos serviços de segurança internos que velam pelo cumprimento da Constituição e lidam com ameaças como movimentos anti-democráticos e terroristas. 

Mas a condenação do ataque foi generalizada, não só entre os políticos mas nos media. Um ataque “não substitui argumentos”, diz na edição online da revista Der Spiegel o jornalista Stefan Kuzmany. “Não há nenhum apoiante da AfD que se vá afastar por causa de um acto destes, e muitos irão sim cerrar fileiras – por isso é também uma estupidez política”, diz o jornalista.

O diário FAZ nota ainda que a violência contra o partido e os seus apoiantes parece estar a subir, falando de um ataque com engenhos explosivos contra a sede do partido na cidade de Döbeln. Na sequência do ataque foram detidos três homens, de 29, 32 e 50 anos.

A polícia tem poucas dúvidas sobre a motivação política da agressão a Magnitz, que foi conhecida esta terça-feira, mas ocorreu dias dpeois de um condutor levou a cabo um ataque com motivações racistas. Em duas cidades, Essen e Bottrop, o homem de 50 anos lançou o seu carro contra grupos de pessoas de aparência estrangeira – deixando oito pessoas feridas com gravidade.

As autoridades dizem que tinha uma “intenção clara” de “matar estrangeiros”: mal foi detido, após a segunda tentativa de ataque em que conseguiu atropelar pessoas (uma família de sírios, um casal e duas filhas de 16 e 27 anos, uma rapariga de dez anos também da síria, uma afegã de 29 anos e o seu filho de quatro, e uma alemã de origem turca), gritou palavras contra estrangeiros.

O atacante foi detido por suspeita de tentativa de homicídioe as autoridades dizem que teria uma doença mental, levando a uma discussão sobre o que teria acontecido se se tratasse de um refugiado a tentar atropelar pessoas.

Peter R. Neumann, professor de Estudos de Segurança e director do centro de estudos de radicalização no King’s College de Londres, comentou na revista Der Spiegel: “Para alguns, o condutor de Bottrop e Essen é um terrorista de direita, para outros, um louco”. Mas o especialista alerta que “nenhuma das hipóteses exclui a outra”.

Em entrevista ao semanário Die Zeit, o sociólogo Matthias Quent também comentou que a fronteira entre actos de loucura e terrorismo estão a esbater-se.

Notícia corrigida a 9.1.2019: a agressão deu-se após um evento de ano novo na segunda-feira e não na noite de ano novo.

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