TVI responde a acusações com “pluralismo” e “liberdade de expressão”

A estação televisiva emitiu esta sexta-feira um comunicado onde responde às críticas do ministro da Defesa e do Sindicato dos Jornalistas face à presença do líder de extrema-direita condenado por crimes de ódio racial.

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Bruno Santos, director de antena da TVI, assina o comunicado com Sérgio Figueiredo, director de informação Daniel Rocha

As direcções de programação e de informação da TVI defenderam-se nesta sexta-feira das críticas tecidas pelo ministro da Defesa e pelo Sindicato dos Jornalistas face à presença do líder de extrema-direita Mário Machado no programa Você na TV, exibido na TVI e, mais tarde, no programa SOS 24, nas emissões de quinta-feira, que incluiu uma rubrica na qual se perguntava se "precisamos de um novo Salazar”.

Num comunicado dividido em seis pontos, a estação garante respeitar “a dignidade da pessoa humana e os direitos, liberdades e garantias fundamentais, não incitando ao ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela deficiência”, acusações com base no historial criminal de Mário Machado.

Mário Machado esteve preso mais de uma década ao longo da sua vida pela prática de vários crimes, entre os quais discriminação racial, coacção agravada, posse ilegal de arma e ofensa à integridade física qualificada e ódio racial. Um desses crimes está relacionado com o assassinato de Alcindo Monteiro, cidadão português de origem cabo-verdiana, espancado até à morte a 10 de Junho de 1995, no Bairro Alto, em Lisboa, pelo grupo de skinheads Hammerskins Portugal.

No documento publicado no seu site, a TVI defende-se das acusações quer por parte do Sindicato dos Jornalistas, quer por parte do ministro da Defesa, sublinhando que “a liberdade de expressão é um valor com protecção constitucional, com dignidade de liberdade fundamental” e que “as opiniões e a visão histórica expressas por Mário Machado nos referidos programas foram enquadradas por visões alternativas às por si sustentadas”.

Horas antes, o ministro da Defesa, João Cravinho, havia acusado a estação de ter uma atitude que “não é muito diferente de quem ateia incêndios pelo prazer de ver as labaredas”. Através da sua conta de Twitter, o governante partilhou a crónica de Rui Tavares publicada esta sexta-feira no PÚBLICO sobre “a responsabilidade moral da TVI ao apresentar um criminoso racista” e “apresentá-lo como mero autor de declarações polémicas”, lembrando que “vivemos tempos complexos” e que a escolha de Mário Machado é perigosa.

Para o Sindicato dos Jornalistas, os conteúdos transmitidos nos programas Você na TV! e SOS 24, nos canais TVI e TVI24, “deram voz a um racista explícito e um salazarista assumido, que defende o regresso de Portugal à ditadura e a quem foi dada a oportunidade de se dedicar ao branqueamento histórico, em sinal aberto e para um grande público, com pouco ou nenhum contraditório”.

O canal responde que “as contradições entre a sua vida pretérita e os valores por si ora defendidos foram assinaladas” e que “foram igualmente abordados o seu histórico [sic] criminal”. “O contexto e os contornos do seu projecto político, tendo os riscos do extremismo político sido devidamente assinalados”, lê-se no documento assinado por Bruno de Lima Santos e por Sérgio Figueiredo.

Na conclusão do comunicado, a direcção de programação e a de informação reafirmaram “o compromisso editorial desta com o respeito pela dignidade da pessoa humana e com a condenação do racismo e da xenofobia”.

Ao PÚBLICO, Helena Forjaz, directora da Media Capital para o Entretenimento, adiantou também que a estação televisiva convidou o ministro da Defesa para falar esta noite do Jornal das 8, mas não obteve confirmação.

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