Eis o distante Ultima Thule: encarnado e parecido com um boneco de neve

É o objecto mais distante visitado por uma sonda. Esta quarta-feira surgiram as primeiras (e aguardadas) imagens em alta resolução captadas pela sonda New Horizons.

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O Ultima Thule captado pela sonda New Horizons a 137 mil quilómetros de distância a 1 de Janeiro: à esquerda fotografado por uma das suas câmaras, ao centro por outra e à direita a sobreposição das duas imagens; em baixo, o modelo de formação deste objecto com dois lobos NASA/Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins/Instituto de Investigação do Sudoeste
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Alan Stern (Investigador principal da missão) e o músico Brian May BILL INGALLS / NASA

Esta quarta-feira já vimos o Ultima Thule com cara lavada. Em conferência de imprensa, a NASA mostrou as primeiras imagens a alta resolução do objecto situado a 6400 milhões de quilómetros de distância da Terra, na cintura de Kuiper, uma zona mais periférica do nosso sistema solar. É vermelho, muito escuro, tem dois lóbulos e uma espécie de pescoço. Parece um “boneco de neve”, comparou Alan Stern, investigador principal da missão New Horizons.

“Inédita”, um voo “técnico com sucesso” e uma equipa que está “muito contente” – foi assim que Alan Stern classificou a missão no início da conferência de imprensa que revelou as primeiras imagens de alta resolução do Ultima Thule, assim como dados científicos, ao início da noite desta quarta-feira (em Portugal). Afinal, a missão foi histórica para a humanidade: o Ultima Thule foi o objecto mais distante visitado por uma sonda.

O cientista salientou ainda que o que foi revelado durante a conferência é apenas a “ponta do icebergue” dos dados recolhidos pela sonda New Horizons em 72 horas. Só chegou 1% dos dados desta aproximação da New Horizons à Terra e espera-se que toda a informação chegue ao nosso planeta nos próximos 20 meses. 

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Uma das imagens mais detalhadas do Ultima Thule NASA/Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins/Instituto de Investigação do Sudoeste

A aproximação da sonda New Horizons – lançada em 2006 e que já fez um voo de aproximação a Plutão – ao Ultima Thule começou na madrugada de terça-feira e passaram-se apenas seis horas até que os sinais de rádio chegassem à Terra e confirmassem que tudo estava a correr bem. No final desse dia chegaram-nos as primeiras imagens desta visita ao Ultima Thule tiradas pela New Horizons, vendo-se uma silhueta ténue.

Na conferência desta quarta-feira, vimos então as primeiras (e aguardadas) imagens em alta resolução do objecto tiradas a 137 mil quilómetros da sonda e, depois, a 27 mil quilómetros. E confirma-se que Ultima Thule tem um “contacto binário”, ou seja, está ligado por dois lobos, o Ultima (o lobo maior) e o Thule (o mais pequeno). O objecto tem de comprimento cerca de 33 quilómetros.

Estes dois lobos estão separados por um “pescoço”, que é bastante inclinado e formado por encostas. E a comparação era quase inevitável: na fotografia, Ultima Thule parecia um boneco de neve. Risos surgiram na sala.

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Formação do Ultima Thule NASA/Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins/Instituto de Investigação do Sudoeste

Mas engane-se quem pense que Ultima Thule tem as cores da neve. Coube a Carly Howett, uma das cientistas da missão, anunciar: “É vermelho. E é menos avermelhado no pescoço.” E em cima da mesa, Alan Stern colocou um modelo do objecto em tons avermelhados. Outros mistérios sobre o Ultima Thule foram desvendados por Cathy Olkin, outra das cientistas da missão: o seu período de rotação é de cerca de 15 horas. “É um objecto muito escuro”, informou. A sua reflectividade da luz do Sol nas zonas mais claras é de 13% e de 6% nas zonas mais escuras.

Já Jeff Moore, líder da equipa de geologia e geofísica da New Horizons, indicou os pormenores geológicos e da formação do objecto. Entre eles, destacou que o Ultima Thule não terá crateras de impacto muito óbvias, tem uma aparência manchada com partes mais brilhantes e outras mais escuras e referiu que ainda resta a questão se terá montanhas e cumes. Quanto à formação, frisou que pertence à classe dos objectos do sistema solar mais “primitivos”. O que terá acontecido? Há 4500 milhões de anos pequenos objectos gelados começaram a girar à volta uns dos outros, acabando por se unirem dois blocos maiores: o Ultima e o Thule.

Jeff Moore classificou este objecto como um dos blocos que restam da formação do sistema solar. E terminou: “A New Horizons é como uma máquina do tempo, transporta-nos até ao surgimento do sistema solar. Estamos a ver a representação física do começo da formação planetária congelada no tempo. Estudar o Ultima Thule ajuda-nos a compreender como os planetas se formaram – tanto nos planetas do nosso sistema solar como nos que orbitam outras estrelas na nossa galáxia.”

Descoberto em 2014 pelo telescópio espacial Hubble, este objecto ainda esconde muitos mistérios. Esperemos que sejam desvendados mais pormenores na conferência de imprensa marcada para hoje. A missão New Horizons – que já vai para lá de Plutão – até já teve direito a um tributo do músico (conhecido por ser guitarrista da banda Queen) e astrofísico Brian May. 

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