Cisões à direita e à esquerda antes das eleições em Israel

Vários novos partidos vão concorrer a 9 de Abril mas o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, mantém-se o favorito.

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Shaked e Bennett apresentam-se como líderes de um partido religioso-secular CORINNA KERN/Reuters

Os últimos dias do ano foram cheios de surpresas em Israel. A menor delas foi a marcação de eleições antecipadas para 9 de Abril, a partir daí foram em crescendo: a formação de um novo partido do antigo chefe do Exército Benny Gantz, a saída dos ministros Naftali Bennett (Educação) e Ayelet Shaked (Justiça) do partido Casa Judaica para formar um novo partido, a Nova Direita, que juntaria religiosos e seculares, e a declaração surpresa da dissolução da aliança de esquerda entre Avi Gabbai e Tzipi Livni.

Quando as sondagens prevêem uma vitória para Benjamin Netanyahu, apesar de este ser suspeito em três casos diferentes de corrupção e de o procurador-geral estar a ponderar uma acusação formal, o aumento da fragmentação política em Israel lança uma nova incógnita.

O primeiro desafio a Netanyahu, que pretende conquistar um quinto mandato, era o da candidatura de Gantz, que chefiou o exército entre 2011 e 2015. Mal foi anunciado o partido do antigo chefe do Exército, este atingiu logo o segundo lugar nas sondagens. Mas pouco se sabe sobre a plataforma política do partido, chamado Resiliência – Netanyahu reagiu dizendo que “não interfere no modo como a esquerda divide os votos”.

À espera do fim de Netanyahu

Se já se especulava sobre as ambições políticas de Gantz, o anúncio do novo partido de direita nacionalista de Bennett e Shaked foi uma surpresa. 

Os dois apresentam-se agora como líderes de uma formação que junta religiosos e seculares “em paridade”, o que foi visto como um passo para poderem ser o partido do chefe do Governo – em Israel dificilmente um partido puramente religioso venceria as eleições.

O cálculo político poderá ser que o procurador-geral decida acusar Netanyahu, como é recomendado pela polícia. Sem Netanyahu, não é claro o que aconteceria ao seu partido Likud.

“Estimo que este seja o último mandato do primeiro-ministro, porque ele já não é jovem e há investigações”, disse recentemente Shaked, citada pelo Jerusalem Post.

Bennett e Shaked querem apelar ao voto nacionalista secular e assim subir da posição que tinham com o Casa Judaica, que segundo as sondagens manteria o número de deputados, apenas oito (em 120), atrás do Likud e de pelo menos três partidos de centro-esquerda. Não é claro o que farão os restantes elementos do Casa Judaica.

Apesar de fazerem parte da coligação do Governo, Bennett e Shaked têm uma relação complicada com o primeiro-ministro, que data do final da sua relação de trabalho: durante três anos, os dois foram conselheiros de Netanyahu, quando este era líder da oposição, mas a colaboração não terminou bem.

Netanyahu continua à frente e as sondagens projectam que possa ganhar entre 27 e 31 lugares, o que deveria ser suficiente para liderar uma nova coligação de direita, como já disse pretender.

O Likud partiu ao ataque logo após o anúncio. “Bennett e Shaked estão a destruir partidos de direita, que poderão não passar o mínimo para eleger deputados”, disse Netanyahu a membros do seu partido, em declarações passadas à imprensa israelita. O novo partido, disse ainda, poderá trazer a vitória da esquerda nas eleições, continuou, para deixar a conclusão: o voto no Likud seria o único modo de garantir uma vitória da direita.

A ministra da Cultura, Miri Regev, fez uma declaração semelhante: a formação deste partido poderia levar “a um segundo desastre como Oslo”, em que israelitas e palestinianos lançaram as bases para um futuro Estado palestiniano, que nunca se materializou.

A pré-campanha inicial, se se pode chamar assim a este período, foi também marcada por uma cisão ainda menos elegante no campo da esquerda: quando o líder trabalhista Avi Gabbai quebrou a aliança que mantinha com Tzipi Livni, em directo, sem a ter avisado antes.

A União Sionista, formada pelos dois partidos (o Trabalhista de Gabbai e o Movimento, de Livni), vinha a descer nas sondagens. “Esperei e acreditei que esta aliança iria levar a um crescimento, uma ligação real e que iríamos complementar-nos. Mas o público é esperto, viu que não era assim e distanciou-se de nós”, disse Gabbai, desejando a Livni “boa sorte”.

Apanhada de surpresa, Livni não fez comentários, mas horas mais tarde anunciou que lideraria o seu partido na corrida. A antiga negociadora com os palestinianos tem um partido com apenas cinco deputados, contra 19 do Partido Trabalhista e 30 do Likud, de Benjamin Netanyahu. (As sondagens previam que a aliança dos dois obtivesse entre oito e nove lugares no total, uma enorme queda em relação aos 24 actuais).

Apesar de ser uma das mais importantes políticas do país – o Ha’aretz chama-lhe “a melhor primeira-ministra que Israel nunca teve” – Livni fica numa posição muito enfraquecida. Com 60 anos, fez parte de vários partidos e governos, mas a última vez que teve um cargo ministerial foi entre 2006 e 2009, como ministra dos Negócios Estrangeiros.

Gabbai tenta agora juntar-se ao antigo chefe do Exército, mas segundo o diário Ha’aretz, Gantz não quer ser associado com a esquerda israelita, preferindo provavelmente apresentar o seu partido como centrista, moderado e responsável.

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