Comissão Eleitoral do Bangladesh rejeita repetir eleições

A ida a votos de domingo deixou 17 mortos em confontos entre apoiantes de partidos rivais. Oposição denunciou “uma farsa”.

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EPA/MONIRUL ALAM

Já se sabia que a oposição ao partido da primeira-ministra Sheikh Hasina Wazed se preparava para exigir esta segunda-feira a repetição das eleições de domingo, marcadas por inúmeros episódios de violência e queixas de fraude eleitoral. Não se esperava era a resposta: “Não é possível organizar uma nova eleição uma vez que esta decorreu de forma pacífica”, afirmou o chefe da Comissão Eleitoral, K M Nurul Huda, numa conferência de imprensa em Daca.

A mesma Comissão Eleitoral confirmara no domingo, antes do encerramento das urnas, que tinha recebido queixas de manipulação de votos “em todo o país”, anunciando a abertura de uma investigação. “Pedimos à Comissão Eleitoral que invalide esta farsa de resultados”, dizia, pela mesma altura, Kamal Hossain, do Partido Nacionalista, que lidera uma coligação de formações opositoras.

Hossain, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, foi escolhido como candidato à chefia do Governo depois de a líder do partido e da oposição, Khaleda Zia, ter sido presa por corrupção no início do ano, e impedida assim de se apresentar a votos.

Nas anteriores eleições, em 2014, toda a oposição apelou ao boicote por considerar que o órgão que as organizava não era independente.

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Sheikh Hasina Wazed elegeu quase todos os deputados cujos lugares iam a votos Reuters

Independentemente da existência de fraude é difícil defender que as eleições foram “pacíficas”. A polícia confirma a morte de sete apoiantes do partido no poder, a Liga Awami, e de cinco da oposição. Há 17 vítimas mortais declaradas, mas admite-se que possam ter morrido mais pessoas nos confrontos em diferentes zonas do país com 160 milhões de habitantes e 100 milhões de eleitores. As autoridades mobilizaram 600 mil forças policiais para tentar garantir a segurança.

Partido no poder dilata maioria

Depois de uma contagem de votos especialmente rápida, soube-se ainda no domingo que Sheikh Hasina Wazed venceu um terceiro mandato consecutivo, elegendo quase todos os deputados cujos lugares iam a votos: o seu partido e aliados conseguiram 288 dos 300 em disputa, dilatando assim a sua maioria. O Parlamento do Bangladesh tem 350 lugares, incluindo 50 reservados para mulheres e distribuídos de forma proporcional depois de terminada a contagem.

Neste cenário, a oposição ficou apenas com sete deputados, denunciando intimidações generalizadas aos seus eleitores. Jornalistas da BBC visitaram urnas um pouco por todo o país e identificaram um padrão – os apoiantes da primeira-ministra falavam em frente às câmaras; “os outros estavam quase sempre com medo”.

Desde 1991, quando foi restaurada a república parlamentar no Bangladesh, a Liga Awami e o Partido Nacionalista têm alternado no poder com excepção de um período de regresso à tutela militar, de 2006 a 2008.

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