Embaixada portuguesa pede prudência à comunidade na RD Congo

País nunca teve uma transição pacífica. O actual Presidente, Joseph Kabila, vai ser após quase 18 anos.

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Urna electrónica testada pela Comissão Nacional Eleitoral Independente KENNY KATOMBE/Reuters

A embaixada de Portugal na capital da República Democrática do Congo, Kinshasa, apelou à comunidade portuguesa residente naquele país para adoptar medidas de prudência face à aproximação das eleições de 30 de Dezembro.

Numa publicação através do Facebook, feita uma semana antes das eleições, em que vai ser escolhido um novo Presidente da República, a embaixada lembrou que o dispositivo de segurança na capital "foi assegurado pelas autoridades", mas assinalou que "não obstante a confiança que inspiram essas palavras, seria conveniente observar as habituais medidas de prudência sugeridas em vésperas de eleições".

Além de aconselhar os quase 700 portugueses que vivem na República Democrática do Congo a evitar "sair sem necessidade no dia das eleições", a embaixada pede ainda que guardem mantimentos para "qualquer eventualidade".

Desde a sua independência do poder belga, em 1960, a República Democrática do Congo​ – actualmente liderada por Joseph Kabila, que não pode concorrer a um novo mandato como Presidente após quase 18 anos no poder – nunca teve uma transição política pacífica.

Há 21 candidatos na corrida, mas apenas três terão possibilidades de vitória.

O candidato favorito de Kabila, Emmanuel Ramazani Shadary, ex-ministro do Interior, era pouco conhecido antes de ser nomeado em Agosto. Tem o forte apoio de instituições do Governo e um considerável orçamento de campanha.

Shadary enfrenta uma oposição dividida entre o ex-gestor da ExxonMobil Martin Fayulu e Felix Tshisekedi, o presidente do maior partido de oposição do Congo.

Comunidade de 700 pessoas

A embaixada portuguesa sugere que a comunidade guarde bens essenciais, como cerca de seis litros de água por pessoa para cinco dias – não só para beber mas também para higiene básica –​ e alimentos enlatados ou de validade prolongada para pelo menos três dias.

Também a presença de rádios, "para se manterem informados da situação", e de lanternas e pilhas, "que pode tornar-se a única fonte luminosa", é aconselhada.

A representação portuguesa na República Democrática do Congo pede ainda aos portugueses para se fazerem acompanhar da "documentação necessária para poderem viajar" na eventualidade de "a situação degenerar".

De acordo com os mais recentes dados dos registos consulares da embaixada de Portugal em Kinshasa, há cerca de 700 portugueses a viver na República Democrática do Congo​, a grande maioria (570) na capital, Kinshasa, disse à Lusa fonte da secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.

Há ainda uma comunidade de cerca de uma centena de portugueses na cidade de Lubumbashi e outros pequenos núcleos em Kisangani e Kananga.

Estes números representam apenas inscrições consulares, não contabilizando entradas e saídas do país.

Adiamento após adiamento 

Várias zonas da República Democrática do Congo​ têm sido afectadas pelo vírus do Ébola e palco de conflitos armados.

A instabilidade nestas zonas, essencialmente nas províncias de Kivu do Norte e Mai-Ndombe, levou a que as eleições gerais previstas para 30 de Dezembro fossem adiadas para Março de 2019.

Inicialmente previstas para 2016, as eleições de domingo foram já adiadas duas vezes, e, além de presidenciais, irão ainda permitir a escolha de representantes parlamentares a nível nacional e provincial.

O último adiamento foi anunciado na semana passada pela Comissão Nacional Eleitoral Independente congolesa e foi justificado com problemas causados por um incêndio que destruiu oito mil urnas electrónicas.

Os conflitos armados persistem, sobretudo em Beni, e algumas zonas estão a ser afectadas por um surto de Ébola, o segundo mais mortífero na história do país.

A epidemia do vírus, que se transmite por contacto físico através de fluidos corporais e que provoca febre hemorrágica, foi declarada em 1 de Agosto deste ano, em Mangina, nas províncias de Kivu Norte e Ituri, tendo provocado a morte a 354 pessoas e infectado mais de 583, segundo dados da OMS.

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