Trump prepara retirada de metade das tropas dos EUA no Afeganistão

Presidente dos EUA já comunicou a ordem verbalmente, dois dias depois do anúncio da retirada total da Síria. Afegãos e aliados europeus preocupados, dizem não ter sido informados.

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A retirada inicial poderá englobar cerca de cinco mil tropas Reuters/James Mackenzie

O Presidente dos EUA, Donald Trump, está a planear a retirada de mais de cinco mil das 14 mil tropas norte-americanas no Afeganistão, dois dias depois do anúncio da retirada total da Síria.

A decisão da retirada da Síria apanhou vários aliados dos EUA de surpresa e provocou críticas no interior do próprio Partido Republicano no Congresso. Segundo um representante da Casa Branca, que falou à agência Reuters sob a condição de anonimato, a decisão de retirar mais de um terço das tropas norte-americanas do Afeganistão já foi tomada e o Presidente já a comunicou verbalmente.

Não é claro de que forma os EUA poderão manter as suas missões no Afeganistão com menos de nove mil tropas, cuja missão inclui o treino das forças afegãs, o aconselhamento no terreno e os bombardeamentos contra os taliban e outros grupos.

É quase certo que os EUA terão de cortar determinadas missões, o que pode encorajar os taliban a expandirem as suas ofensivas por todo o Afeganistão.

Já a decisão de ordenar a retirada de cerca de duas mil tropas norte-americanas da Síria levou à demissão do secretário da Defesa, Jim Mattis, que ao sair criticou a visão do Presidente Trump para a política externa, pedindo "respeito" pelos aliados dos EUA.

O secretário da Defesa demissionário defende tambémuma presença forte dos EUA no Afeganistão, com o objectivo de aumentar a probabilidade de sucesso de uma solução diplomática.

Garrett Marquis, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, disse que a Casa Branca não irá fazer comentários sobre "futuros desenvolvimentos estratégicos".

Os EUA invadiram o Afeganistão em 2001, na sequência dos ataques terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono, com o objectivo de expulsar do poder os taliban, que escondiam Osama bin Laden.

Os EUA têm cerca de 14 mil tropas no Afeganistão, que integram uma missão liderada pela NATO, denominada Resolute Supporte, e uma outra missão antiterrorismo, que tem sobretudo como alvo grupos como a Al-Qaeda e o Daesh. No país estão ainda 8000 militares de 38 outros países, que participam na missão da Aliança Atlântica, e que essencialmente treinam e apoiam as forças afegãs.

Os taliban combatem com o objectivo de expulsar as forças estrangeiras e tirar do poder o Governo de Cabul, apoiado pelo Ocidente.

Os taliban voltaram a controlar algumas regiões do Afeganistão e as forças norte-americanas estão actualmente em conversações com os seus líderes. O ressurgimento dos taliban nos últimos três anos fez com que o Governo afegão perdesse uma parte importante do país – o controlo do território por Cabul caiu de 72 por cento em 2015 para 56 por cento.

Mais de 2400 norte-americanos morreram nos 17 anos de guerra no Afeganistão, e o Pentágono tem avisado que uma retirada precipitada pode levar os militantes a planearem novos atentados contra os EUA.

"Alto risco"

O senador Lindsey Graham, do Partido Republicano, que é um dos maiores defensores do Presidente Trump, tem sido um dos maiores críticos da saída das tropas norte-americanas da Síria e da provável retirada do Afeganistão.

"As condições actuais no Afeganistão fazem com que a retirada das tropas norte-americanas seja uma estratégia de alto risco. Se mantivermos o rumo actual, estaremos a perder tudo o que conquistámos e a abrir caminho para um novo 11 de Setembro", disse Graham.

No ano passado, o Presidente Trump aprovou um reforço das tropas norte-americanas, mas salientou que o fez com relutância.

Negociações com os taliban

No início desta semana, o enviado especial dos EUA para o Afeganistão, Zalmay Khalilzad, conversou com representantes dos taliban, em Abu Dhabi, sobre um acordo que poderia levar ao fim dos combates, numa reunião que contou com a participação de representantes da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.

O embaixador saudita em Washington, Khalid bin Salman, disse na quinta-feira que as discussões foram produtivas e que poderiam produzir "resultados muito positivos no início do próximo ano".

Mas um antigo representante do Departamento de Estado norte-americano disse à agência Reuters que os representantes dos taliban rejeitaram uma proposta do enviado dos EUA para um cessar-fogo e exigiram que as conversações se centrassem na retirada das tropas norte-americanas.

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