Economia mundial abranda e Portugal já está a sentir o impacto

Um pouco por todo o globo sucedem-se os indicadores de abrandamento da economia, num cenário que, alerta o Banco de Portugal, começou a produzir efeitos na economia portuguesa logo no final de 2018.

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dro Daniel Rocha

Os sinais de que a economia mundial, e em particular a europeia, está agora numa fase de abrandamento são cada vez mais evidentes, assustando os mercados e relançando a discussão sobre qual deve ser a política seguida pelos bancos centrais. Para Portugal, que tem tido nas exportações um dos principais motores de crescimento, o impacto negativo parece inevitável e, alertou esta terça-feira o Banco de Portugal, já deverá ter começado a sentir-se no final deste ano.

Um pouco por todo o mundo, os indicadores económicos que são divulgados pelas autoridades estatísticas e as previsões que são feitas para a evolução da actividade apontam na mesma direcção: as economias começaram a abrandar no final de 2018 e esta tendência mais negativa deverá permanecer no decorrer de 2019.

Esta terça-feira, foi a vez do indicador de confiança empresarial calculado pelo think tank Ifo, um dos mais utilizados para tentar antecipar aquilo que irá acontecer à maior economia da zona euro, confirmar a trajectória descendente da actividade económica na Alemanha. O índice registou em Dezembro a sua quarta descida consecutiva mensal para 101 pontos, um valor que ficou abaixo das expectativas e que é o mais baixo dos últimos dois anos.

Ao explicar os dados agora divulgados, o presidente do IFO, Clemens Fuest, afirmou que “a economia alemã enfrenta uma época festiva mais magra” e disse que a incerteza que actualmente se vive em torno de temas como o Brexit, os protestos dos “coletes amarelos” em França ou as negociações comerciais entre Estados Unidos e China, são alguns dos motivos por trás da redução do optimismo dos empresários alemães.

São aliás estes motivos que parecem estar na base da tendência generalizada de abrandamento que se verifica à escala global. Na semana passada, Mario Draghi referiu-se a estes mesmos factores de incerteza quando anunciou a revisão em baixa das previsões de crescimento feitas pelo BCE para a zona euro.

Já esta terça-feira, foram também tornadas públicas revisões em baixa das previsões de crescimento para as economias japonesa e britânica.

Todos estes sinais estão a ser seguidos com atenção pelos mercados, que colocados perante um cenário de viragem do ciclo económico, têm vindo a reagir com perdas nas bolsas (antecipando resultados mais fracos para as empresas) e descidas do preço de matérias-primas como o petróleo (menos crescimento económico significa menos procura).

Crescimento português revisto

Portugal dificilmente sairá incólume a cenário de abrandamento generalizado. Se economias como a alemã travam e começam a importar menos, as exportações portuguesas vêem os seus mercados potenciais a encolherem, sendo quase inevitável que o ritmo de crescimento desça.

Esta terça-feira, o Banco de Portugal reviu em baixa as previsões de crescimento para a economia portuguesa. Não só para os próximos anos como também para 2018, por força daquilo que se tem vindo a observar nos últimos meses. Em vez do crescimento de 2,3% que antecipava em Outubro, o Banco de Portugal agora diz que este ano a variação do PIB irá ser de apenas 2,1%. Em 2019, o crescimento previsto passou de 1,9% para 1,8% e, para 2020 e 2021, o Banco de Portugal prevê variações do PIB de 1,7% e 1,6%, respectivamente. 

A principal explicação para estas revisões está precisamente na antecipação de resultados menos positivos nas relações comerciais com o exterior. Se há seis meses, o Banco de Portugal previa uma procura externa dirigida à economia portuguesa a crescer 4,3% em 2018 e 4,4% em 2019, agora não espera mais do que 3,4% este ano e 3,6% no próximo.

A consequência imediata disto é que as previsões para as exportações também tiveram de ser corrigidas. E de forma particularmente acentuada este ano. Em Junho, o banco previa um crescimento das exportações de 5,5% (em Outubro já tinha baixado para 5%) e agora a nova estimativa é de apenas 3,6%. Este resultado explica-se não só com a deterioração da conjuntura internacional, mas também com alguns factores pontuais, como a existência de constrangimentos na produção da Autoeuropa (relacionada com a homologação de veículos) e a paragem da refinaria de Matosinhos a partir de Setembro. Para 2019, a projecção de crescimento das exportações foi revista de 5% para 4,7%.

O abrandamento esperado para a economia portuguesa pelo banco central só não é maior porque se antecipa uma recuperação do investimento em 2019 (depois de um 2018 em que este indicador desiludiu), um contributo positivo da produtividade durante os próximos anos, e uma aceleração dos salários (que ajuda a sustentar o consumo).

Bancos centrais em foco

A nível global, as atenções viram-se para os bancos centrais. Se na zona euro o BCE decidiu não recuar na sua decisão de concluir o programa de compra de activos no final deste ano (embora garantido que irá reinvestir os títulos que atingirem a maturidade e manter as taxas de juro baixas durante mais tempo), a Reserva Federal dos EUA irá decidir esta quarta-feira se faz a sua terceira subida de taxas de juro do ano.

A expectativa nos mercados é a de que tal aconteça, já que a Fed tem vindo a sinalizar a existência de três subidas de taxas em 2018 e esta é a sua última oportunidade. No entanto, a pressão da Casa Branca para que a autoridade monetária não mexa nas suas taxas tem vindo a subir de tom, com Donald Trump a criticar abertamente a forma como a Fed está a restringir a sua política monetária num cenário em que não há ainda sinais de regresso da inflação.

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