Direcção do PSD cerra fileiras contra críticos internos

Membro da comissão política desafiou Miguel Morgado a assumir críticas nos órgãos do partido e não apenas nos jornais.

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No fim, Rio deixou uma palavra aos críticos internos, acusando-os de fazer o jogo do PS LUSA/RUI MINDERICO/LUSA

Foi um Conselho Nacional sem críticas à direcção do PSD por parte de figuras nacionais de vulto – só militantes de base assumiram um tom mais duro – e onde vários membros da comissão política nacional saíram em defesa de Rui Rio e até em tom desafiante para críticos internos.

Segundo relatos feitos ao PÚBLICO da reunião, que decorreu à porta fechada num hotel em Setúbal, o líder do PSD demorou perto de uma hora a explicar a estratégia do PSD e só no final deixou uma palavra para os críticos internos, acusando-os de fazer o jogo do PS. Na intervenção, Rio reiterou a sua tese de que é preciso criar condições para que o PS perca as eleições e que cometa erros. Depois, o PSD apresenta-se com uma lógica de alternativa, reforçando a sua vertente social-democrata, conquistando votos ao centro e ao “partido da abstenção”.

Mas foi quando estava a explicar qual deve ser a postura do PSD perante as questões nacionais que Rui Rio soltou uma frase que até surpreendeu alguns conselheiros ao assumir que o partido pode “perder à primeira, à segunda, à terceira, à quarta, à quinta”, mas que depois a sociedade portuguesa vai acreditar que o PSD faz a diferença. Para alguns conselheiros, a frase significa que o líder defende a coerência da mensagem do partido, para outros representa a ideia de que Rio não quer deixar a liderança depois de 2019 em caso de derrota eleitoral (recorde-se que só em 2019 há três actos eleitorais: europeias, regionais e legislativas). 

A imagem do PSD, prosseguiu Rio, também é construída com exemplos de dentro como a transparência administrativa, quer na admissão de militantes quer no pagamento de quotas e a nível financeiro. 

Entrevista de Morgado

O tom viria a subir quando André Coelho Lima, membro da comissão política nacional, criticou abertamente Miguel Morgado, ex-assessor de Passos Coelho, por assumir as críticas apenas no Observador – jornal a que o deputado concedeu uma entrevista publicada horas antes do início da reunião – e não ir à tribuna do Conselho Nacional. Miguel Morgado já se encontrava na sala mas optou por não responder.

Foi uma das intervenções mais duras da direcção, mas dois vice-presidentes também saíram em defesa do líder do PSD: Castro Almeida e Morais Sarmento. No caso de Castro Almeida, a intervenção terá servido para criticar o Governo e tentar desmontar questões como a da redução da dívida pública. Já Morais Sarmento deixou alguns recados à oposição interna e fez uma referência às múltiplas aparições de Marcelo Rebelo de Sousa no espaço mediático.

Pouco depois prestou declarações aos jornalistas – o que aconteceu pela primeira vez no âmbito de um Conselho Nacional – em que defendeu a obrigação de o PSD remar todo na mesma direcção.

Conselheiros nacionais que têm assistido às reuniões referem ter notado uma maior organização por parte da direcção para fazer a defesa da estratégia do PSD e de alguns remoques aos críticos internos para evitar que a reunião se tornasse desfavorável à direcção do partido como aconteceu nas Caldas da Rainha em Setembro passado. 

Na plateia, duas militantes de Lisboa foram duras para a direcção social-democrata: Virgínia Estorninho acusou Rio de não fazer oposição ao Governo e Maria José Cruz atacou toda a estratégia seguida, classificando a actuação do líder do PSD como uma “desilusão”. A militante criticou a direcção por dar as eleições de 2019 como perdidas e por estar já a ensaiar a responsabilização dos críticos internos por essa derrota.

Na conta oficial do Twitter, o líder social-democrata escreveu que houve “muitas intervenções aguerridas, e muitas com sentido da responsabilidade", agradecendo os contributos. 

A questão da revisão dos estatutos foi novamente adiada. Algumas das alterações já foram remetidas para uma comissão de reflexão liderada por Pedro Rodrigues (que tem também a seu cargo propostas para o sistema político) mas há dois autores de propostas que querem submetê-las à apreciação do Conselho Nacional tal como foi decidido no congresso do PSD em Fevereiro. Agora, só serão discutidas, em parte, um ano depois.

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