Prescrição social: quais os benefícios?

A prescrição social pode revolucionar a saúde, trazendo às pessoas aquilo que elas mais necessitam. E nada melhor para influenciar a saúde das pessoas como retirar dos seus ombros questões que tradicionalmente o centro de saúde não tem meios para o fazer.

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A prescrição social permite que os médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde possam referenciar pessoas, à semelhança da prescrição médica, para projectos e instituições na comunidade, que prestam serviços sociais (não sendo serviços somente clínicos).

O conceito holístico da pessoa e dos cuidados de saúde abordam isto mesmo: o conseguir olhar a pessoa como um todo e compreender que factores sociais, económicos e ambientais influenciam directamente a pessoa. E que, em catapulta, se umas necessidades não estão suprimidas de base, outras serão dificilmente solucionadas com medicamentos ou qualquer outra coisa do foro somente da saúde.

O objectivo é suportar as pessoas com dificuldades sociais, emocionais e práticas, com a melhoria focada não só no contexto físico, mas também da saúde mental da pessoa. Seja através das artes, do ensino, da mentoria, da integração no país, e com ajuda de pares, de agentes da comunidade, ou outros, pretende-se potenciar e capacitar as pessoas em encontrar as verdadeiras soluções para o seu bem-estar.

No lado dos serviços de saúde entende-se que os cuidados de saúde primários acabam por ser os mecanismos de compensação das deficiências sociais que existem, até mesmo a nível de estrutura interna dos cuidados, onde os assistentes sociais são transversais a diversos equipamentos de saúde.

Na óptica da comunidade, onde me enquadro, um maior número de utentes passa a ser o centro das organizações e projectos da comunidade. Os cuidados de saúde referenciam-nos, permitindo trazer até nós pessoas que podemos ajudar e a que conseguimos dar respostas, e que de outra forma não saberiam da nossa existência. O canal comunicacional que é estabelecido é fundamental.

A prescrição social permite também conhecermo-nos, enquanto membros da mesma comunidade, e fazer entre nós a “referenciação social”, reencaminhando a pessoa directamente. Isto combate outra questão que se assola: as pessoas podem perder-se entre instituições pela falta de comunicação e mediação entre elas. Doravante, o impacto aumenta para a própria pessoa, não se sentido tão perdidas entre os cuidados.

Os serviços de prescrição social, por outro lado, também podem funcionar enquanto forma de literacia para a pessoa, no sentido que estas, ao verem os seus problemas encaminhados e colmatados, poderão desenvolver em si consciência e percepção de outras necessidades suas que possam ser “alvo de prescrição social”, ou seja, alvo de encaminhamento para outras instituições. A pessoa começa a sentir no seu paladar o gosto de ver realmente as coisas a acontecerem e a sentir-se integrada e com as suas questões solucionadas. Deixa de pensar que todos os seus problemas têm uma resolução medicamentosa.

Por outro, também a própria relação de confiança, entre os cuidados de saúde primários e as pessoas, retorna. De alguma forma, também pode ser potenciador de mudança do paradigma de saúde em que vivemos, descentralizando o cuidado da doença e do hospital, melhorando os resultados e a firmeza com os cuidados de proximidade.

Parece-me que a prescrição social pode revolucionar a saúde, trazendo até às pessoas aquilo que elas mais necessitam. E nada melhor para influenciar a saúde das pessoas como retirar-lhes dos ombros questões que tradicionalmente o centro de saúde e os seus profissionais não têm meios para o fazer.

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