Estudo do governo britânico antevê prejuízos para a economia em todos os cenários pós-“Brexit”

Planos de Theresa May para a saída da UE poderão ter impacto negativo até 3,9% do PIB nos próximos 15 anos. Banco de Inglaterra prevê prejuízos superiores aos da última crise financeira.

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Philip Hammond, Ministro das Finanças, admite que a saída prejudicará a economia britânica EPA/ANDY RAIN

A economia britânica sairá prejudicada ao longo dos próximos 15 anos com a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), revela um estudo publicado esta quarta-feira pelo governo de Theresa May, que avalia o impacto dos vários cenários do “Brexit” no desempenho económico do país. Tomando em consideração as bases do acordo que a primeira-ministra quer aprovar no Parlamento no dia 11 de Dezembro, o divórcio com a UE terá um impacto negativo até 3,9% do PIB em 2035-2036.

Um outro estudo, do Banco de Inglaterra, refere ainda que uma saída “desordeira” implicará prejuízos superiores aos da última crise financeira mundial.

O cenário que reporta aos planos do governo para o “Brexit” não se baseia, no entanto, no acordo alcançado no passado domingo com Bruxelas, mas no documento apresentado por May, em Julho, que ficou conhecido por “plano Chequers”. Essa proposta – que motivou as demissões de David Davis e Boris Johnson e a fúria da ala “brexiteer do Partido Conservador – é, ainda assim, a base do documento ratificado pelos 27 Estados-membros da UE.

Implementando os princípios do “plano Chequers”, o impacto do “Brexit” no PIB poderia ser reduzido a 2,1% ao invés de 3,9%, mas isto só seria possível num cenário de manutenção da actual legislação em matéria migratória. Uma vez que a líder do executivo britânico assume com determinação que vai acabar com a livre circulação de pessoas entre o Reino Unido e a UE, dificilmente se pode apontar para a percentagem inferior.

Analistas citados pela BBC estimam que 3,9% do PIB equivalerá a cerca de 100 mil milhões de libras (cerca de 113 mil milhões de euros) por ano.

A duas semanas de levar o acordo à Câmara dos Comuns para a votação decisiva para o futuro do divórcio, e com conservadores, trabalhistas, nacionalistas-escoceses, unionistas norte-irlandeses, liberais-democratas e verdes a admitirem que vão chumbá-lo, o governo britânico procura alertar os deputados para os riscos de um “Brexit” sem acordo. Considerando esse cenário, o estudo aponta para perdas entre os 7,7% e os 9,3% do PIB. 

Números pouco animadores que, agravados pelas conclusões do relatório do Banco de Inglaterra, colocam o Reino Unido em sérios riscos de voltar a registar prejuízos económicos similares ou superiores aos da mais recente crise financeira. 

Divulgado pouco depois do estudo do governo, o relatório daquela entidade prevê uma contracção da economia britânica até 8% e o aumento do desemprego até 7,5% logo no primeiro ano após o final do período de transição – que termina em Dezembro de 2020, mas pode ser extensível até ao final de 2022 –, se o país se lançar num “Brexit” “desordeiro”.

Segundo o Banco de Inglaterra, entre as ocorrências que podem empurrar o Reino Unido para essa saída desordeira destacam-se: o alinhamento com as regras da Organização Mundial de Comércio; a não-implementação de acordos de livre comércio até 2022; o fim da aplicabilidade dos acordos comerciais entre UE e países terceiros ao país; ou as perturbações nas fronteiras resultantes da reposição de controlos alfandegários.

É com estes números mais significativos que o governo britânico espera convencer os membros da câmara baixa de Westminster a apoiarem o acordo de May. Mas a estratégia sofreu um abalo esta manhã, ainda antes da divulgação dos dois estudos e de mais uma presença da primeira-ministra no Parlamento para responder às perguntas dos deputados.

Em entrevista à BBC, o ministro das Finanças Philip Hammond confessou que a economia do Reino Unido vai sempre sair prejudicada com o “Brexit”, quando em comparação com a manutenção do país no clube europeu.

“De um ponto de vista puramente económico, sim, abandonar a União Europeia terá um custo, porque trará consigo obstáculos ao nosso comércio”, assumiu o chancellor à BBC, indo ainda mais longe: “A economia desacelerará ligeiramente com a estratégia da primeira-ministra para a relação futura [entre os dois blocos no pós-‘Brexit’].

Confrontada pelos deputados sobre as declarações de Hammond, May manteve a postura. “O nosso acordo é o melhor para o emprego e para a economia. Vai permitir-nos honrar o resultado do referendo e concretizar as oportunidades do ‘Brexit’”, disse a primeira-ministra, que esta quarta-feira deslocou-se à Escócia para se encontrar com líderes políticos, empresários, agricultores, pescadores e estudantes, para continuar a promover o seu acordo.

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