População e investigador alertam para outras estradas em risco em Borba

Investigador diz que uma pedreira na Estrada 255 entre Vila Viçosa e Alandroal “corre todo o risco”. Tem fissuras e está “muito mais próxima” do alcatrão do que aquela em que ocorreu o deslizamento de terras. População teme que a EN254 esteja em perigo.

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Nuno Ferreira Santos

O investigador e historiador Carlos Filipe alertou esta sexta-feira para a existência de duas pedreiras, no concelho de Vila Viçosa, em Évora, que estão muito próximas de vias públicas e que apresentam “fissuras” e “problemas nos taludes”.

Uma das pedreiras, actualmente sem actividade, situa-se na Estrada 255, no troço entre Vila Viçosa e Alandroal, perto da aldeia de Pardais, precisou à agência Lusa Carlos Filipe, que integra o Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Património (CECHAP), de Vila Viçosa.

Esta pedreira “corre todo o risco”, porque “apresenta fissuras” e “está tão próxima do alcatrão, muito mais próxima do que aquela onde ocorreu o deslizamento de terras e colapso da estrada, na segunda-feira, em Borba, sendo “necessária” a sua “vigilância”, alertou.

A outra chama-se “Pedreira d’El Rei” e situa-se na Estrada Nacional (EN) 254, entre Vila Viçosa e Bencatel, indicou Carlos Filipe, avisando que esta, com uma profundidade entre “130 a 140 metros”, tem “problemas de estrutura nos taludes” e, por isso, “merece toda a atenção”.

“[Esta situação] é do conhecimento das autoridades, não estou a dizer nada de que as autoridades não tenham já conhecimento”, acrescentou.

“Agora a gente tem medo da EN254”

Na aldeia de Bencatel, os populares manifestaram à Lusa os seus receios quanto à proximidade de pedreiras situadas junto a estradas locais, depois da “tragédia” de segunda-feira em Borba, com o deslizamento de terra e o colapso de um troço da Estrada 255 para pedreiras contíguas, provocando, pelo menos, dois mortos e três desaparecidos.

“Agora temos ouvido falar que a EN254 está muito perigosa, logo aqui [à saída da aldeia,] às primeiras pedreiras”, desabafou à Lusa Florentina das Mercês, moradora em Bencatel e tia de um dos homens desaparecidos no acidente em Borba.

“[Aí,] parece que está tudo na mesma, com túneis lá por baixo, então já viu? Isso não devia ser permitido”, continuou.

Quando “calhava” e lhe “dava jeito”, Florentina também “passava” na estrada cujo troço se desmoronou, entre Borba e Vila Viçosa, e adiantou que “há mais sítios” nessa rodovia onde, “em invernos anteriores, têm aberto buracos”.

“E a gente agora tem medo desta aqui [na EN254]”, frisou, sendo corroborada por João Cardoso, antigo trabalhador de uma empresa de extracção de mármore, que considerou que a pedreira mais próxima de Bencatel é onde “o perigo pode suceder” e onde, “de hoje para amanhã, pode haver tragédia”.

“Que vejam, que dêem volta a tudo”

O antigo operário, já reformado, que também passava “inocentemente” na Estrada 255, defendeu que, já que “sucedeu esta tragédia e infelizmente morreram estas pessoas”, ao menos que, agora, se fiscalizem as pedreiras e as estradas.

“Já que andam a puxar responsabilidades de quem de direito, gostava que resolvessem, não só aquela, como o que pode aqui acontecer amanhã. Vejam todas as estradas”, pediu.

Florentina enfatizou este pedido: “Que vejam, que dêem volta a tudo, para ver se fazem alguma coisa por todo o povo.”

O pedido também vem por parte do dono da loja de pronto-a-vestir de Bencatel, António José Alfenim, que aponta uma outra pedreira, na estrada que vai da aldeia para Rio de Moinhos, “que já não trabalha há anos e tem um buraco metido para a estrada”.

“Passem cá e vejam, principalmente nestas estradas, em que se anda para baixo e para cima. Se houver outro caso destes, quem é que lá fica? Pode ser o rico, o pobre, o mais velho ou mais novo”, avisou.

Contactado pela Lusa, o vice-presidente da Câmara de Vila Viçosa, Luís Nascimento, argumentou que a Estrada 254 “é nacional” e “não tem a mesma concentração de pedreiras” do que aquela onde ocorreu a derrocada, embora o acidente ocorrido em Borba tenha “alertado o município para estar mais atento a este problema, embora não tenha responsabilidades” quanto a esta via.

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