Descoberto um tio-avô dos mamíferos que já era gigante

Um fóssil encontrado na Polónia mostra que um antepassado indirecto dos mamíferos (do tempo do Triásico) chegou a atingir 4,5 metros de comprimento e nove toneladas – o tamanho de um elefante-africano.

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Reconstituição do Lisowicia bojani que viveu durante o período Triásico Karolina Suchan-Okulska
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Escavações no local onde os fósseis do Lisowicia bojani foram encontrados, na Polónia Grzegorz Niedzwiedzki

Ao contrário do que se poderia pensar, os dinossauros não foram os únicos herbívoros gigantes a viver durante o período Triásico. Houve uma outra criatura herbívora gigante e quadrúpede, chamada Lisowicia bojani, a habitar o planeta durante o fim do Triásico Superior, há cerca de 237 milhões de anos.

Este animal não era nem um réptil nem um mamífero. Pertencia ao grupo dos dicinodontes, animais conhecidos por terem dois dentes caniformes, ou presas, a sair da boca e que pertencem à classe dos sinapsídeos

Os sinapsídeos, por sua vez, são animais vertebrados terrestres, onde também se incluem todos os mamíferos. Poder-se-á dizer que o Lisowicia bojani é um tio-avô dos mamíferos – à semelhança de outros dicinodontes, de que é também exemplo um fóssil do lago Niassa, encontrado em Moçambique em 2009 e cujo animal tinha apenas 30 centímetros de comprimento e 800 gramas.

Os dicinodontes não pertencem à linha directa de descendência dos mamíferos, da qual faziam parte os nossos avós cinodontes. Ainda assim, os dicinodontes levantam o véu sobre o aparecimento e a evolução dos mamíferos, que surgiram há cerca de 220 milhões de anos, mais ou menos na mesma altura dos dinossauros.

A recente descoberta é revelada num novo estudo publicado esta sexta-feira na revista Science e sugere que, durante o Triásico, os dicinodontes foram capazes de atingir tamanhos colossais, abrindo caminho a um conjunto de novas teorias sobre a sua evolução, expansão e características.

A investigação, liderada por Tomasz Sulej (da Academia de Ciências da Polónia) e Grzegorz Niedzwiedzki (da Universidade de Uppsala, na Suécia), vem revolucionar a história evolutiva destes animais e “mostra que antepassados já extintos dos mamíferos eram capazes de atingir tamanhos corporais que só foram atingidos novamente por mamíferos a partir do Eoceno [entre há 55 milhões e 36 milhões de anos]”, dizem os autores. 

Do tamanho de um elefante-africano 

De acordo com o estudo, estima-se que o Lisowicia bojani poderia chegar a medir 4,5 metros de comprimento e 2,6 metros de altura na idade adulta. Quanto ao peso, poderia atingir nove toneladas, assemelhando-se ao tamanho de um elefante-africano. O maior elefante de que há registo, dizem os especialistas, media quatro metros de altura (até aos ombros) e pesava dez toneladas.

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Comparação entre o Lisowicia bojani e um elefante-africano Tomasz Sulej/Grzegorz Niedzwiedzki

Este é, portanto, um recorde aos antepassados (muito distantes) dos mamíferos. Até agora, acreditava-se que os maiores dicinodontes que já existiram teriam no máximo 3,5 metros de comprimento e um peso de duas toneladas.

Quanto ao Lisowicia, a sua postura era também distinta do que seria de esperar, visto que este animal mantinha os membros dianteiros erectos, tal como grandes mamíferos (como rinocerontes e hipopótamos) e dinossauros (como os sauropodomorfos e os ceratópsios). Anteriormente, os investigadores pensavam que os dicinodontes do Triásico mantinham os membros dianteiros afastados na horizontal, como os répteis.

A análise dos ossos de Lisowicia revelou que cresciam de forma rápida e constante. Outra hipótese seria que os fósseis analisados pertenciam a juvenis com um tamanho extremamente grande, porém, os investigadores depositam as suas convicções na primeira hipótese tendo em conta a ossificação verificada no esqueleto.

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Fósseis de um membro do Lisowicia bojani Grzegorz Niedzwiedzki

Escrevem os investigadores que Lisowicia bojani poderá ter assumido tal tamanho e postura de forma a proteger-se de grandes predadores. Além disso, a postura erecta diminui a pressão nas articulações e facilita a locomoção, enquanto o tamanho corporal permitia a estes animais armazenarem mais comida no organismo e reter mais energia.

Os fósseis de dicinodontes eram geralmente encontrados em África, Ásia e América do Norte e do Sul e, de forma mais escassa, na Europa, pelo que a nova descoberta em território europeu revela uma maior distribuição geográfica destes animais. 

O estudo mostra assim que, durante o mesmo período de tempo geológico, coexistiram na Terra antepassados dos mamíferos e dinossauros, ambos herbívoros e gigantes. “A descoberta do Lisowicia mostra que pelo menos uma linhagem dos dicinodontes também participou no ‘impulso para o gigantismo’ ao mesmo tempo que os sauropodomorfos, mas sugere também que a sua história evolutiva durante o Triásico Superior está mal documentada”, concluem os autores. 

Quanto aos mamíferos propriamente ditos, pensa-se que só se tornaram maiores quando os dinossauros (pelo menos alguns deles) se extinguiram com a colisão de um meteorito com a Terra, há 65 milhões de anos. Em Portugal, temos exemplos mundialmente conhecidos de fósseis de mamíferos antigos: na mina da Guimarota (perto de Leiria) descobriram-se, há décadas, fósseis de mamíferos primitivos, do período do Jurássico Superior, com cerca de 150 milhões de anos. Eram mamíferos muito pequenos, do tamanho de ouriços.

Texto editado por Teresa Firmino

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