Autoeuropa tenta carregar “navio-fantasma” no Porto de Setúbal

Embarcação chega esta madrugada ao Sado, vindo de Santander, para carregar 2000 carros. Estivadores em protesto vão tentar travar o carregamento, pelo que foram reforçados os meios da PSP na cidade.

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LUSA/ANDRÉ AREIAS

A VW Autoeuropa vai tentar carregar um navio de carros no terminal Ro-Ro (com parqueamento alargado) do Porto de Setúbal, apesar da paralisação dos estivadores que dura há mais de duas semanas, soube o PÚBLICO.

O navio, considerado “fantasma” por dar entrada fora do sistema habitual em vigor na Administração dos Porto de Setúbal e Sesimbra (APSS), a Janela Única Portuária (JUP), é o Paglia e chega através do sistema Marine Traffic.

A chegada à barra do rio Sado está prevista para as 6h desta quinta-feira e a intenção da Autoeuropa é embarcar cerca de 2000 viaturas das que tem parqueadas no terminal e que ficaram retidas desde dia 5 deste mês devido ao conflito laboral que paralisou o porto.

O Paglia, com capacidade para cerca de 3000 automóveis, partiu de Santander, em Espanha, onde já carregou cerca de mil viaturas, pelo que em Setúbal deverá embarcar apenas mais duas mil, aproximadamente.

O PÚBLICO apurou que a operação de embarque deve envolver cerca de 50 trabalhadores, estranhos ao Porto de Setúbal, e demorar cerca de 16 horas, dois turnos de trabalho.

Em comunicado às redacções, a Autoeuropa explicou que "o navio que dará entrada amanhã no porto de Setúbal faz parte das escalas regulares de transporte de veículos para o porto de Emden, na Alemanha, não se tratando de qualquer acção especial". Adicionalmente, esclareceu que "até ao momento, já foram cancelados sete navios. O planeamento do navio de amanhã teve por base a garantia de uma solução para o embarque de veículos dada pelo governo e pelo operador logístico".

Os estivadores em luta não foram convocados para fazer este embarque e estão preparados para tentarem impedir a operação. “Vamos concentrar-nos à porta do terminal às 8h”, disse Carla Rodrigues, estivadora eventual, ao PÚBLICO. “Os trabalhadores que vão trazer devem ser da Autoeuropa, do armador ou militares”, acrescentou.

Para garantir a segurança das pessoas envolvidas no embarque, os meios da Polícia de Segurança Pública vão ser reforçados em Setúbal. Há mais efectivos mobilizados e de prevenção e, já esta quarta-feira, a PSP destacou agentes para a porta da empresa Operestiva, na Avenida Rodrigues Manito, onde os estivadores têm estado concentrados. Junto ao Comando Distrital da PSP de Setúbal, na Avenida Luísa Todi, o reforço de meios é também visível já esta quarta-feira, com um autocarro e várias carrinhas desta força de segurança estacionadas.

A Operestiva, empresa de trabalho temporário dos dois terminais que estão paralisados, é o alvo principal da contestação dos trabalhadores em luta. A sociedade, que trabalha para os concessionários do terminal Ro-Ro, a Navipor, e multiusos, Sadoport-Yilport, é a responsável pela contratação, ao dia, dos trabalhadores eventuais, que são 90% do total dos estivadores do Porto de Setúbal.

Estes trabalhadores, em coordenação com o Sindicato dos Estivadores e Actividades Logísticas (SEAL), exigem o início de negociações, para a celebração de um contrato colectivo de trabalho, mas as empresas de trabalho portuário não aceitam negociar enquanto a paralisação não for cancelada.

Trabalhadores no limite

Após quase três semanas de luta, os estivadores eventuais de Setúbal começam a estar em grandes dificuldades financeiras para continuarem a manter a paralisação. Como são contratados ao dia, não estão formalmente em greve – a greve existente é a dos trabalhadores efectivos e apenas às horas extraordinárias – e não recebem qualquer vencimento durante este período em que não trabalham.

“Começa a ser muito complicado: não ganhamos nada e temos as nossas despesas para pagar”, admite Carla Rodrigues, casada e com uma filha menor a seu cargo.

O agravamento das condições económicas dos estivadores eventuais levou-os a pedir ao SEAL que tente resolver urgentemente o conflito. A proposta apresentada esta terça-feira pelo sindicato às associações de empresas de trabalho portuário, sugerindo datas para o retomar das negociações, tem precisamente a ver com esta urgência.

A actividade económica da região está também a ser fortemente afectada pela paralisação do porto de Setúbal. Tal como o PÚBLICO avançou, a Autoeuropa já tem atrasada a expedição de quase 10 mil carros produzidos em Palmela. A fábrica ainda não parou a produção, que é de 885 automóveis por dia, mas já não tem onde parquear os veículos que aguardam transporte. Para exportar alguns destes carros, a empresa começou, na semana passada, a recorrer aos portos de Vigo e Santander, em Espanha, assim como ao de Leixões.

Notícia actualizada com posição da Autoeuropa

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