José Júlio Vintém quer picar-nos os miolos

Para quem gosta de comida alentejana, de miudezas e de extremidades, a abertura do Picamiolos é uma óptima notícia. Onde é que, até agora, em Lisboa, se podia comer um focinho de porco grelhado ou uma mioleira panada?

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José Júlio Vintém dr
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Ricardo Santos e Leonor Brito dr
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O Picamiolos dr
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Croquetes de mioleira dr

Este restaurante não é para meninos – este é o primeiro pensamento que nos assalta quando olhamos para a carta do Picamiolos, o restaurante que o alentejano José Júlio Vintém acaba de abrir junto ao Cais do Sodré. Há muito tempo que Vintém sonhava trazer a Lisboa os petiscos que serve no Tomba Lobos, em Portalegre (que reabriu recentemente numa nova morada), mas foi preciso encontrar os sócios certos e o espaço ideal.

Os sócios são o casal Ricardo Santos e Leonor Brito, que já tinham o bar de vinhos By the Wine (uma parceria com a José Maria da Fonseca, na Rua das Flores, em Lisboa), e ainda Pedro Franca Pinto e Bernardo Carvalho. O local é um espaço grande, de dois andares, com a cozinha e uma sala onde se poderá comer durante todo o dia, na parte de baixo, e uma sala maior (ao todo são 140 lugares) no andar de cima. O trabalho de arquitectura é do atelier de Tiago Silva Dias e, para que não restem dúvidas do que aqui nos traz, na parede há grandes cabeças de animais (um trabalho de escultura de Catarina Catalão) e frases que anunciam “Vou-te comer”.

A cozinha é alentejana, claro, ao melhor estilo de José Júlio Vintém, mas não se fica pelas açordas, ensopados ou sopas de tomate. A ideia foi sempre a de apresentar coisas que muito dificilmente se encontram na cidade: as extremidades e miudezas dos animais. A lista inclui os miolos de borrego, servidos panados num croquete redondo (10€), e ainda orelha de porco grelhada (7€), focinho de porco (9€), molejas de borrego (9€) e as viciantes pétalas de toucinho (6€), fatias muito finas de toucinho de porco que levam apenas um pouco de calor e são temperadas com alho e tomilho-limão.

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Sopa de tomate com ovo escalfado dr

“Nas tascas alentejanas havia sempre um prato de toucinho para acompanhar o vinho”, recorda José Júlio. Nascido e criado entre caçadas, pescarias e petiscos feitos com animais acabados de caçar ou de pescar, filho e neto de excelentes cozinheiros, Vintém nunca se afastou muito da cozinha desde o tempo em que, jovem estudante, fazia as alegrias dos companheiros de escola, cozinhando pratos a que ninguém resistia. Ainda hoje, no Tomba Lobos são famosos os almoços que só acabam quando já passou a hora do jantar e que juntam amigos à conversa à mesa enquanto a comida não pára de chegar.

No Picamiolos, mioleira, orelhas e focinhos são apenas para início de conversa, porque a carta vai mudando e crescendo à medida das ideias de José Júlio, e os produtos disponíveis. Aliás, contam Ricardo, Leonor e José Júlio, quando começaram a pensar no projecto e a reunir ideias para pratos rapidamente chegaram aos 500. Não estão todos na carta, claro, mas lá irão chegando.

As opções mais substanciais incluem rabo de boi com puré de cherovia (16€), touro bravo grelhado (25€) ou porco preto grelhado com migas (15€). Mas há pratos menos carnívoros, como os rebuçados de cação (10,50€), as favas com lagostins do rio (quando há disponibilidade dos produtos), a açorda de fraca (14€), as costeletas de sardinha com arroz de tomate (14€), o arroz de bochechas de bacalhau (21€) ou a barriga de atum com puré de grão (28€).  

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Pétalas de toucinho dr

Não será um restaurante para vegetarianos, mas também não é caso para estes desesperarem. Brincando com a ideia de miudezas, José Júlio tem uma salada de corações de alface (8€) e uns tentadores corações de alcachofra (12€). Há ainda um gaspacho de abacate (6,5€) e também a clássica sopa de tomate (embora, neste caso, com ovo escalfado, 6€).

As sobremesas incluem a tradicional sericaia, aqui servida com compota de ruibarbo (5€), um pudim de queijo fresco com abóbora (4,5€), boleima com gelado de caramelo salgado (6€) e uma mousse de chocolate com crumble de bacon (5€).

A carta de vinhos é clássica, explica Ricardo Santos. Ao contrário do que é a tendência hoje em muitos restaurantes, aqui não se procuraram pequenos produtores ou projectos alternativos, mas elaborou-se uma carta com referências facilmente reconhecíveis pelos clientes e com um leque de preços que permite ir das mais acessíveis entradas de gama aos vinhos especiais.

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