"El Chapo" acusa presidentes do México de receberem subornos do narcotráfico

Narcotraficante diz-se vítima de conspiração e diz que não era ele que mandava no cartel de Sinaloa, mas sim o seu sócio, "El Mayo", que está em fuga.

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"El Chapo" ao ser detido em 2014 Henry Romero/REUTERS

O advogado de defesa do narcotraficante Joaquín “El Chapo” Guzmán, cujo julgamento decorre em Nova Iorque, declarou que o seu cliente é vítima de uma vasta conspiração do “verdadeiro líder” do cartel de Sinaloa, Ismael “El Mayo” Zambada, que subornou todo o Governo mexicano, incluindo o Presidente Enrique Peña Nieto e o seu antecessor, Felipe Calderón.

Os dois governantes desmentiram prontamente a acusação ouvida no tribunal de Brooklyn onde “El Chapo”, o “traficante mais poderoso”, como os Estados Unidos lhe chamaram em 2003, está a ser julgado. Enfrenta 17 acusações de conspiração para transportar para os EUA mais de 200 toneladas de cocaína, ao longo de quase três décadas, como líder do cartel de Sinaloa, classificado pelos procuradores norte-americanos como “a maior organização de narcotráfico do mundo”.

“O que está em causa aqui é um vasto império global de tráfico de narcóticos – é esse o tema deste caso, e as provas vão demonstrá-lo”, disse o procurador adjunto Adam Fels, nas declarações iniciais do julgamento na terça-feira, citado pelo site The Daily Beast. Guzman pôs em circulação tanta cocaína que, com apenas quatro carregamentos, “cada cidadão norte-americano poderia ter para si mais que uma linha de coca”.

Perante estas acusações, que podem acarretar uma condenação de prisão perpétua, o advogado de “El Chapo” quer provar que o seu cliente, de 61 anos, é uma vítima. O verdadeiro bandido da história, na sua versão, é o seu sócio, Zambada, de 70 anos, que é também acusado mas continua a monte – há uma recompensa de cinco milhões de dólares pela sua captura, sublinhou o advogado. “A verdade é que ‘El Chapo’ não controlava nada, quem o fazia era ‘Mayo’ Zambada”, afirmou Lichtman, assegurando que subornou, com milhões de dólares, os dois presidentes mexicanos.

Felipe Calderón usou o Twitter para desmentir as acusações. “São absolutamente falsas e temerárias as afirmações do advogado de Joaquín ‘El Chapo’ Guzmán. Nem ele nem o cartel de Sinaloa, ninguém me fez pagamentos.”

Calderón lançou uma guerra contra o narcotráfico a partir de Dezembro de 2006, levando o exército para as ruas. Uma luta que não só ineficaz como aumentou as mortes e a violência, com múltiplas denúncias de violações de direitos humanos por parte do Exército. Um estudo do Centro de Investigação e Desenvolvimento Económicos mexicano concluiu que os grupos de narcotráfico cresceram 900% durante a Administração Calderón e a taxa de civis mortos em confrontos com as autoridades e presumíveis delinquentes aumentou 2000%.

Quanto ao Presidente Enrique Peña Nieto – que será substituído no cargo a 1 de Dezembro por Andrés Manuel López Obrador – desmentiu igualmente as suspeitas que a defesa de “El Chapo” lançou sobre ele. O seu porta-voz usou também o Twitter para as refutar. “O Governo de @EPN perseguiu, capturou e extraditou o criminoso Joaquín Guzmán Loera. As afirmações atribuídas ao seu advogado são completamente falsas e difamatórias”.

Durante o governo de Peña Nieto, que começou por pretender acabar com a guerra contra o tráfico do seu antecessor, a taxa de homicídios bateu o recorde histórico devido à fragmentação dos cartéis, que beneficiaram da cultura de impunidade e corrupção.

Com uma média de 80 mortes por dia, ou 2400 por mês, o México atingiu no ano de 2017 o número recorde de homicídios desde que esses números começaram a ser coligidos, há 20 anos. O cartel de Sinaloa, de "El Chapo" foi uma das organizações criminosas que se tornaram dominantes durante a governação de Peña Nieto. 

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