Tancos: Jerónimo de Sousa desconfia dos "objectivos políticos do CDS"

Secretário-geral do PCP diz que "nem que se soubesse que se tinha feito um piquenique" em Tancos "seria grave".

"Consideramos que foi um acontecimento grave" e o "apuramento da verdade deve levar à questão de saber quem é que roubou". O secretário-geral do PCP, em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença - cuja versão integral será publicada na quinta-feira e emitida às 12h do mesmo dia - defende que, mais do que a polémica sobre quem sabia do encobrimento, é preciso saber quem roubou.

"Foi um acontecimento grave, consideramos que esse apuramento da verdade - que é um princípio com que todos parecem estar de acordo - deve levar à questão de saber quem é que roubou. De repente fala-se tanto de encobrimentos e responsabilidades, cumplicidades, que parece que é mais importante do que o roubo", afirmou ao PÚBLICO e à Renascença. "Quem roubou e roubou para quê, isso é o elemento crucial tanto da investigação criminal como do inquérito parlamentar", defendeu. 

O secretário-geral do PCP questiona o papel, neste processo, do CDS, que foi o primeiro partido - e durante muito tempo o único - a defender a existência da Comissão Parlamentar de Inquérito aos acontecimentos de Tancos. "Os objectivos do CDS para mim não são claros. O CDS não só pediu a demissão do ministro da Defesa Nacional como de um chefe militar, o Chefe de Estado-Maior do Exército. Isto não é coisa pequena", afirmou Jerónimo de Sousa.

O PCP tem criticado o CDS por "marcar a agenda político-partidária e não discutir a matéria de fundo", desde que este partido lançou para cima da mesa a ideia da comissão parlamentar de inquérito. "Quais são de facto os objectivos políticos do CDS? Nós não sabemos". A decisão dos comunistas foi, no entanto, a de viabilizar a existência da comissão de inquérito. "É num quadro de procura da verdade, de procura de responsabilidades no plano político e acompanhando a investigação criminal que está em curso que vamos participar na comissão de inquérito. E onde existirem responsabilidades, naturalmente terão de existir consequências", disse Jerónimo na entrevista PÚBLICO/Rádio Renascença. 

O secretário-geral do PCP já tinha dito que o Presidente da República estava a ser "prolixo" relativamente ao caso de Tancos. Na entrevista, insistiu que o chefe de Estado é "muito mexido".

"Não cometo a indelicadeza de achar que é um estilo excessivo. Que é muito mexido é, mas isso pode não ser um mal. O Presidente da República partiu da gravidade do acontecimento. Nem que fosse descoberto que se tinha feito lá um piquenique nas instalações, isso seria grave. Mas estamos a falar de armas, não é coisa pequena. Para quê? Porquê? Quem é que as roubou?", interrogou-se Jerónimo.

Para o secretário-geral do PCP, "o Presidente da República, que é o comandante supremo das Forças Armadas, deve ter, naturalmente, uma opinião e uma palavra, mas também com certeza, aguardará esse apuramento da verdade". 

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