Mustafá: do Linhó à liderança da Juve Leo

Entre um julgamento anulado num caso em que era suspeito de assaltos, sequestros e associação criminosa, Nuno Mendes conseguiu consolidar a liderança na claque sportinguista.

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Mustafá (à direita) durante a conferência de imprensa onde garantiu não estar envolvido na invasão da Academia do Sporting LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Nuno Vieira Mendes, conhecido pela alcunha de “Mustafá”, é um velho conhecido da justiça portuguesa. Foi precisamente no Estabelecimento Prisional de Linhó, onde cumpriu pena por assalto, que iniciou a sua ascensão na Juve Leo. Aqui, com outros reclusos, fundou um núcleo da claque do clube; o mesmo que, após a sua libertação, refundou no Monte da Caparica, com o nome de Núcleo do Pica-Pau.

Foi no Pica-Pau, bairro problemático do concelho de Almada, que o antigo presidente da Juve, Fernando Mendes, o “recrutou”, quando procurava consolidar de forma musculada a sua longa liderança à frente da claque. “Ia ao Pica-Pau, à Margem Sul, ao Casal Ventoso, chegava lá e tentava perceber quem eram os mais resistentes, os mais lutadores e os mais perspicazes (…). Depois trazia-os para serem os meus cães de fila”, contou ao jornalista Tiago Carrasco, num artigo publicado no jornal Expresso.

“Mustafá” encaixava-se neste perfil e veio a tornar-se num dos principais aliados do seu antecessor na Juve Leo, como ele detido pela participação no ataque à Academia do Sporting. Foi uma associação proveitosa para ambos. “Mustafá” acabaria por suceder a Mendes oficialmente em Outubro de 2016, tendo já em Julho deste ano sido reeleito, numa votação que decidiu antecipar após os incidentes em Alcochete.

São também antigas as alianças de “Mustafá”, agora com 40 anos, com dirigentes “leoninos” dentro e fora de Alvalade. O caso mais mediático envolveu o antigo vice-presidente Paulo Pereira Cristóvão. O ex-inspector da Judiciária, membro da direcção de Godinho Lopes, ajudou Nuno Mendes e a Juve Leo, tendo cobrado o favor já fora do clube. Quem o revelou foi o próprio “Mustafá”, depois de ambos terem sido detidos em Março de 2015 por suspeitas de assaltos à mão armada, sequestros, roubos, abuso de poder, falsificação de documentos e associação criminosa.

A solidariedade de “Mustafá” com Paulo Cristóvão não sobreviveu a esse momento de aflição. “Estou completamente arrependido”, declarou logo no início do julgamento, a 1 de Junho de 2016. O processo envolvia 17 arguidos, acusados de assaltos violentos a residências da zona de Lisboa e na Margem Sul do rio Tejo.

Nuno Mendes denunciou Cristóvão como o mentor dos assaltos e colaborou com a investigação. “Nunca pensei que isto desse no que deu”, garantiu, justificando o seu envolvimento por estar “em dívida” com o ex-dirigente “leonino”. Uma colaboração que lhe valeu algumas benesses. Antes do início do julgamento, em Maio, já Pereira Cristóvão se queixava ao tribunal por continuar detido em casa com pulseira electrónica, enquanto “Mustafá” fora autorizado a sair para assistir aos jogos do Sporting. E isto apesar de, ao contrário de Pereira Cristóvão, ter várias condenações anteriores no currículo.

“Mustafá” esteve em prisão preventiva e, posteriormente, em prisão domiciliária, proibido de contactar com os restantes arguidos. Mas, logo em Maio de 2015, o juiz Carlos Alexandre foi convencido a libertá-lo para se reunir com dirigentes da Juve Leo e liderar as claques durante os jogos, fazendo a ponte com a polícia.

Acusações de Mário Machado

Este julgamento, que decorreu até Fevereiro de 2017, acabaria por ser anulado por decisão do Supremo Tribunal de Justiça, após recurso de Pereira Cristóvão, alegando a “incompetência material” do Tribunal Central de Instrução Criminal para realizar a fase de instrução. O processo reiniciou-se já em Março deste ano e o julgamento será repetido. 

Pelo meio, e apesar de todos os incidentes que envolveram a Juve Leo na última temporada, culminando com o ataque à Academia, “Mustafá” ainda conseguiu consolidar a sua liderança na claque. Esta chegou a ser ameaçada por Mário Machado, conhecido líder dos skinheads portugueses, que ainda anunciou, a 12 de Junho, uma candidatura rival, no meio de muitas e graves críticas a Nuno Mendes.

“A claque está sequestrada por gangues de marginais liderada pelo actual presidente (…). É uma plataforma para o narcotráfico com o aval das autoridades policiais, nomeadamente o departamento de informação da PSP em Alcântara”, apontou, acusando ainda “Mustafá” de ser um delator e de viver acima das suas possibilidades, sustentado pelo dinheiro da claque.

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