Faltas dos deputados: AR alertada em 2014 para sistema "deficiente"

Uma acta da Comissão de Ética mostra que em 2014 já se apontavam as falhas de um sistema que permitia que um deputado pudesse “fazer o registo por outro que não” se encontrasse “presente no plenário”.

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Hemiciclo Miguel Manso

Há quatro anos, ainda o social-democrata Mendes Bota estava na política nacional activa como deputado e presidente da Comissão de Ética e Assunção Esteves liderava a Assembleia da República, a questão do controlo deficiente das presenças em plenário já era assunto entre os parlamentares. Disso mesmo dá conta a acta datada de 14 de Outubro, na qual se lê que “há deputados que têm a prática de abandonar muito cedo o plenário, mesmo em plena votação, o que é bem visível na televisão”.

Em 2014, Mendes Bota disse “não estar satisfeito, nem com a maneira como funciona o sistema, nem com a forma como se presta a utilizações incorrectas” e uma das razões ainda hoje é actual: o sistema permite que “algum parlamentar possa fazer o registo por outro que não se encontre presente no plenário”.

Na altura em que o assunto foi debatido, e ainda segundo a acta que o PÚBLICO consultou, Mendes Bota estava preocupado com o facto de, por causa dessa “questiúncula” - como lhe chamaria hoje Rui Rio -, os resultados das votações no hemiciclo poderem ser desvirtuados. “Os votos expressos em acta não traduzem a realidade com exactidão, o que não é correcto, porque se pressupõe que todos os deputados que no início da votação fizeram o seu registo de presença estão presentes no exacto momento de cada votação, o que muitas vezes não corresponde à verdade”.

“Disse, também, para memória futura e para constar em acta, que em muitos parlamentos nacionais, no Conselho da Europa e no Parlamento Europeu, o sistema electrónico funciona para todas as votações, e não apenas para o início da reunião ou para a contagem de quórum, e que tem muitas dificuldades em compreender e aceitar que ao fim de tantos anos o sistema informático do Plenário seja tão deficiente”, lê-se no documento.

Foi neste contexto que o deputado do PSD pediu a intervenção de Assunção Esteves. “Terminou”, conta-se na acta, “dizendo que solicitará à senhora Presidente da Assembleia da República a tomada de medidas preventivas que melhorem o sistema em termos de eficácia, e impeçam utilizações incorrectas do mesmo, pois não compete a nenhum deputado ser fiscal, polícia ou delator de outros deputados.” 

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