João Lourenço recebido com honras no Parlamento com a concordância do BE

O Bloco está a “reflectir” sobre as mudanças ocorridas em Angola e argumenta que “vários dos activistas estão agora a dizer que a situação” naquele país “está diferente”.

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João Lourenço e António Costa, durante uma visita do primeiro-ministro português a Angola LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O BE concordou, tal como todos os partidos, com a realização de uma sessão extraordinária de boas-vindas ao Presidente de Angola, João Lourenço, no Parlamento, no dia 22. Os bloquistas, que sempre foram críticos da situação política naquele país, parecem dar agora o benefício da dúvida ao Presidente angolano.

Ressalvando que se tratou de uma decisão do presidente da Assembleia da República (AR), Ferro Rodrigues, o líder da bancada parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, admite, no entanto, ao PÚBLICO que a concordância do Bloco de Esquerda se explica pelas alterações ocorridas em Angola, depois de João Lourenço ter chegado à Presidência da República, lugar antes ocupado por José Eduardo dos Santos.

“Vários dos activistas estão agora a dizer que a situação em Angola está diferente. Nós não somos insensíveis à perspectiva dessas vozes que, não deixando de ser críticas, reconhecem que há coisas a mudar. A realidade é dinâmica, estamos a reflectir sobre essas mudanças.”

Quando anunciou a realização desta sessão, o porta-voz da conferência de líderes, o social-democrata Duarte Pacheco, confirmou que “ninguém se pronunciou”. A sessão – que deverá ter dois discursos, o de João Lourenço e o de Ferro Rodrigues – insere-se na visita que o Presidente angolano realiza a Portugal, entre 22 e 24 de Novembro e que deverá incluir também, entre outros momentos, uma cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos, segundo confirmou uma fonte da casa civil da Presidência angolana à agência Lusa.

No início de Setembro, o jornalista angolano Rafael Marques, que chegou a ser detido pelo regime de José Eduardo dos Santos, esteve na rentrée política do partido, no Fórum Socialismo 2018, e, à margem da sessão, citado pela Lusa, afirmou que “José Eduardo dos Santos hoje é uma figura ridícula em Angola" e que “o poder de José Eduardo Santos chegou definitivamente ao fim”.

Ao mesmo tempo, porém, o também activista dos direitos humanos sublinhou ser importante que "este poder não seja transferido para um só homem", avisando que no “momento em que o Presidente João Lourenço se torna também presidente do MPLA terá precisamente a tentação do poder absoluto".

"É importante que este poder, que durante muitos anos levou à destruição do futuro dos angolanos, seja repartido de acordo com os valores da democracia", apelou na altura, defendendo ser necessário "passar por reformas constitucionais e outras que garantam uma democracia participativa". Caso contrário, alertou, “vamos depender da vontade de João Lourenço e não se constrói um país com a vontade de um só homem”.

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