O bispo que vai a feiras de tecnologia defender as redes sociais

O bispo irlandês que é responsável pela comunicação cultural – e gestão de redes sociais – do Vaticano veio à Web Summit para pedir aos utilizadores para não desistirem das suas páginas online.

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Tighe diz que as pessoas têm de ser responsáveis sobre a forma como usam as redes sociais Reuters/RAFAEL MARCHANTE

O que faz um bispo do Vaticano na Web Summit? Para Paul Tighe, o irlandês que é responsável pela comunicação cultural do Vaticano, o objectivo é convencer as pessoas a continuar a usar as redes sociais ("da forma correcta"). O bispo é já um veterano de conferências sobre tecnologia – além da cimeira em Lisboa, é comum vê-lo no South by Southwest (SWSX) um festival de cinema, música, e tecnologia em Austin, nos EUA. Ficou conhecido como um dos homens que ajudou desenvolver a presença online do Papa Francisco.

No que toca aos problemas correntes das redes sociais (que o bispo ainda vê como “ferramentas para encontrar coisas em comum”), Tighe é da opinião que mais regulação pode ajudar, mas não é fundamental. “É importante pôr a responsabilidade nas mãos das pessoas. Ouve-se sempre dizer que as plataformas têm de fazer algo, nunca as pessoas”, disse Paul Tighe, em conversa com o P2 durante a cimeira da tecnologia.

A opinião não é a mais popular na Web Summit que este ano foi marcada por vários alertas sobre o enorme poder das empresas tecnológicas – com alguns oradores a compará-las com “colonizadores” que outros a acusá-las de usar os “dados pessoais como petróleo” – e debates sobre como as controlar.

"As plataformas sociais devem desenvolver projectos para promover boas discussões”, admitiu o bispo, questionado sobre os problemas da promoção do ódio na Internet. Este mês, por exemplo, o Facebook reconheceu ajudar a criar um "ambiente propício" para ataques de ódio contra minorias na Birmânia. “Mas, ao mesmo tempo, não se pode desresponsabilizar as pessoas que não devem ser completamente influenciadas pelo meio em que estão”, acrescentou.

Foi em 2007 que o irlandês começou a trabalhar no Vaticano, primeiro como um membro da equipa de comunicação, depois na liderança do departamento de cultura. Como não tinha experiência com os media tradicionais (“não vinha de jornalismo e nunca fiz televisão”) focou-se nas redes sociais. Diz que tem resultado.

Nos últimos anos, com a ajuda de estrategas digitais, o serviço de notícias online do Vaticano conquistou milhões de seguidores no YouTube, Facebook, Twitter e Instagram. A conta oficial do Papa Francisco no Twitter tem perto de 18 milhões de seguidores, com uma estratégia de publicar regularmente mensagens positivas com hastaghs como #Familia ou #HealthForAll. Há até emojis (os famosos bonequinhos que ilustram as mensagens) com a cara do papa, para usar nas conversas online. A missão, diz Tighe, é pôr pessoas ("crentes ou não-crentes") a falar.

Pelo meio, Tighe admite que se encontram alguns comentários a promover o ódio. “Fomos ingénuos. No início, víamos a Internet como algo que ia unir pessoas com percursos distintos, mas não vou pedir desculpa por ver o mundo dessa forma", disse. "Temos de reconquistar essa capacidade.” 

No Vaticano, a estratégia actual "contra o ódio e a polarização" é “focar naquilo que se quer dizer, em mensagens positivas" nas redes sociais em vez de “investir tempo a responder a comentários muito provocadores”. É algo que Tighe gostava de ver replicado pelo mundo: "Comunicamos para perceber outros pontos de vista, ou só para validar o nosso ponto de vista?”

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