Centro do Porto vai sentir 30 meses de obras para deixar passar o metro

Estudo de Impacto Ambiental está em discussão pública até 14 de Dezembro e aponta mais aspectos positivos do que negativos

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A rede de metro no Porto vai crescer três quilómetros Joana Gonçalves

Incomodidade, cansaço, perturbações do sono, irritabilidade, ansiedade, risco de acidente, doenças cardíacas. Prepare-se porque vem aí a construção da nova linha de metro do Porto, a circular entre a Estação de S. Bento e a Casa da Música, e se viver, trabalhar ou estudar na área que será afectada pelas obras é bem provável que venha a sofrer alguns dos sintomas descritos acima. Eles constam como efeitos potenciais dos trabalhos que deverão arrancar já em 2019 e são descritos no Estudo de Impacto de Ambiental (EIA) que está em discussão pública até 14 de Dezembro. Contudo, o mesmo documento conclui que os impactos negativos causados pela nova linha serão pouco significativos e limitados no tempo, cingindo-se, sobretudo, à fase de construção. Há duas alternativas em cima da mesa.

A forma como o metro vai ligar a Estação de S. Bento à nova estação na Casa da Música varia um pouco nas duas alternativas analisadas no EIA – a 1 e a 2 –, com os responsáveis a identificarem a primeira opção como a mais favorável, ainda que a comparação entre as duas soluções, do ponto de vista meramente ambiental, revele uma diferença “muito ténue”. As vantagens da alternativa 1, “ainda que marginais”, sublinha o documento prendem-se com mais baixos custos de construção e manutenção e vantagens no momento da exploração da via. Contudo, no que se refere ao traçado proposto – e que difere, por desvios não superiores a 80 metros, apenas em partes do troço que levará a linha de S. Bento até à estação da Galiza –, esta alternativa apresenta também desvantagens: passa mais perto da Torre dos Clérigos e prevê um poço de ventilação na Praça de Parada Leitão, que os responsáveis pelo EIA recomendam que seja “deslocado cerca de 80 metros para sul”, caso esta venha a ser a alternativa escolhida.

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São só três quilómetros de linha, com quatro novas estações, mas vêm aí todos os incómodos associados a uma obra com esta dimensão: estaleiros à superfície – um dos edifícios mais afectados por esta situação será o Palácio das Cardosas, onde está instalado o Hotel Intercontinental –, alterações e constrangimentos de trânsito, poeiras, ruído e vibrações, enquanto se escava a passagem para o metro, que vai circular sempre abaixo do solo, embora, nalgumas zonas, num regime de cut & cover. Tudo isto bem no centro da cidade e apanhando ainda uma parte considerável da zona mais monumental da cidade, passando junto a edifícios protegidos, como a Torre dos Clérigos, a Livraria Lello ou o Hospital Geral de Santo António. E os jardins também não escapam – a estação do hospital ficará instalada no Jardim do Carregal e a da Galiza no Jardim da Sophia.

Se no primeiro caso, se prevê a requalificação do jardim, “mantendo o seu desenho original”, com o “reperfilamento dos arruamentos bem como uma ligeira alteração do seu traçado” e estando previsto o abate ou transplante de apenas duas árvores, na Praça da Galiza a situação é diferente. A construção da estação subterrânea neste espaço deverá levar “a um novo desenho” da praça, “com uma nova alteração no sentido de trânsito”, que levará o local a funcionar “como uma espécie de ‘rotunda’, privilegiando os transportes públicos e permitindo a inversão do sentido de rodagem dos autocarros”. O jardim também será redesenhado, sendo proposta “uma nova localização para a Fonte de Rosália de Castro”, lê-se no documento.

As mudanças na imagem da cidade que a nova linha de metro trará vão fazer-se sentir também junto à Estação de S. Bento, de onde se propõe “retirar o trânsito viário (paragem de táxis), transferindo-a para o final da Rua do Loureiro”, e no Largo dos Lóios, onde ficará uma das saídas da nova estação de metro e que irá, por isso, entrar de novo em obras, com um “redesenho do pavimento e vegetação”.

Para chegar aí é preciso construir linha e estações e serão, pelo menos 30 meses de obra, com a confusão no trânsito a prometer ser muita. Os impactos na circulação rodoviária são considerados “particularmente problemáticos”, prevendo-se que os pontos mais críticos venham a ser a Rua 31 de Janeiro, Praça da Liberdade, Rua dos Clérigos, Rua de Júlio Dinis, Praça da Galiza e Avenida de França.

No final, contudo, o Porto terá uma nova linha de metro, pronta para receber futuras extensões – uma ligação à desejada Linha do Campo Alegre, que ficará pronta na zona da Galiza, e uma outra que fica à espera da chegada de uma nova linha de Gaia à Casa da Música. Esta estação, com a obra que aí vem transformar-se-á, aliás, “no nó mais complexo da rede de metro”, refere o EIA. E os impactos positivos que advirão da nova linha circular suplantarão, em muito, os esperados efeitos negativos. Com outra vantagem: os efeitos positivos vão fazer-se sentir a partir da exploração da linha, esperando-se que sejam duradouros, enquanto os negativos se concentram quase todos na fase de construção, tendo uma duração limitada, refere-se no documento.

Os prazos apontados para o desenvolvimento da obra não garantem que os constrangimentos se façam sentir apenas nos meses apontados para os trabalhos, sendo expectável que se prolonguem para lá das escavações e construção de estações. O calendário que é apresentado no EIA aponta para cinco meses de trabalho dedicados à instalação dos estaleiros e abertura dos “poços de ataque”. O troço entre a Praça da Liberdade e o Hospital de Santo António deve demorar um ano a ficar pronto, estando previstos 13 meses para que a linha se estenda do hospital até à Praça da Galiza e outro tanto para unir este local, através da Rua de Júlio Dinis, até à Boavista. Seguem-se oito meses dedicados a ensaios, integração urbana e desmontagem dos estaleiros.

Com alguns trabalhos a decorrerem em simultâneo, prevê-se que o prazo global da empreitada seja de 30 meses, estando a conclusão da linha prevista para 2022.

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