Obama na Georgia: “Estas eleições podem ser as mais importantes das nossas vidas”

Stacey Abrams pode ser a primeira afro-americana governadora nos EUA. Na terça-feira, diz o ex-Presidente, estão em jogo duas visões opostas do que é “a essência” do país.

Stacey Abrams em palco a ouvir Barack Obama
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Stacey Abrams em palco a ouvir Barack Obama LUSA/TAMI CHAPPELL
Entre a multidão havia T-shirts onde se podia ler "Ainda o meu Presidente" ou "O voto negro conta"
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Entre a multidão havia T-shirts onde se podia ler "Ainda o meu Presidente" ou "O voto negro conta" LUSA/TAMI CHAPPELL

O simbolismo da corrida para governador da Georgia fica sublinhado com as presenças nos comícios dos dois candidatos à medida que se aproximam as eleições de terça-feira nos Estados Unidos. “Quando as palavras deixam de ter sentido e as pessoas começam a inventar coisas a democracia não pode funcionar”, afirmou Barack Obama num comício da democrata Stacey Abrams. Domingo, Donald Trump (que este sábado esteve em campanha na Florida) estará no mesmo estado para apoiar o rival de Abrams, Brian Kemp.

O conservador Kemp, que empunha armas nos seus anúncios de campanha e é um entusiasta das duras políticas de imigração do Presidente Trump, corre o risco de perder para a progressista Abrams – se vencer, a candidata que promete alargar o acesso a cuidados de saúde, promover emprego e melhorar a qualidade das escolas do estado entrará para a história como a primeira mulher afro-americana a chegara ao cargo nos EUA.

“As eleições desta terça-feira podem bem ser as mais importantes das nossas vidas”, disse o ex-Presidente perante a multidão que o recebeu com gritos de “Sim, ele pode”. “Os políticos estão sempre a dizer isso, mas desta vez é mesmo verdade. Está muito em jogo. As consequências de ficarmos em casa são mais perigosas, a América está numa encruzilhada”, defendeu o único Presidente negro que os americanos já elegeram. “E isso é dizer muito, algumas dessas eleições foram minhas.”

Obama estava a referir-se às centenas de lugares em disputa nestas eleições, com o Partido Democrata a ter a possibilidade de conquistar a maioria na Câmara dos Representantes aos republicanos – actualmente, para além da Casa Branca, têm a maioria na Câmara e no Senado –, impondo-lhes assim a primeira derrota da era Trump.

“O acesso a cuidados de saúde de milhões de pessoas vai a votos. Garantir que as famílias trabalhadoras têm uma oportunidade justa vai a votos. Mas talvez mais importante ainda, é a própria essência do nosso país que vai a votos”, sublinhou o homem que liderou os EUA entre 2008 e 2016.

Mas Obama podia também estar a falar da disputa entre Abrams e Kemp. “Se Stacey Abrams vencer essa pode ser a mais clara mensagem de que a hostilidade racial promovida por Donald Trump tem os seus limites”, disse ao jornal The Guardian Larry Jacobs, director do Centro de Estudos de Política e Governação da Universidade do Minnesota.

Sem referir o nome de Kemp, Obama criticou a sua decisão de faltar ao último debate previsto, no domingo, para estar num comício onde contará com Trump. “De que é que ele tem medo?”, perguntou o ex-Presidente. Kemp, actualmente secretário de estado da Georgia, está entre os republicanos que “tentam privar as pessoas do seu poder e tirar-lhes o seu direito de voto”.

"Isto não é Hollywood"

A Georgia é um dos estados onde há mais dificuldades para votar, com os eleitores a arriscarem ser impedidos de exercer o seu direito se o documento de identificação que apresentarem não coincidir exactamente com a informação na base de dados do registo de eleitor – basta um hífen fora do sítio ou uma letra trocada. Enquanto secretário foi o próprio Kemp que decidiu suspender mais de 50 mil registos. Jimmy Carter, ex-Presidente dos EUA e governador da Georgia, tem pedido ao candidato para se demitir do cargo.

“Se alguém aspira ao mais alto posto no estado… como é que pode trabalhar activamente para impedir cidadãos do seu estado de exercerem os seus direitos mais básicos?”, perguntou Obama.

Na véspera, Kemp tinha tido o vice-presidente Mike Pence como cabeça de cartaz, no mesmo dia em que apresentadora Oprah Winfrey, que como Abrams cresceu no Sul, se juntou à campanha dos democratas. “Ouvi que Oprah está por cá hoje. E ouvi que [o actor] Will Ferrell esteve a bater às portas um dia destes. Bem, gostava de lembrar Stacey e Oprah e Will Ferrell que eu também sou uma figura de peso”, disse Pence.

O vice-presidente não resistiu a acrescentar “uma mensagem para os amigos liberais que Stacey Abrams tem em Hollywood: isto não é Hollywood, isto é a Georgia”. Na verdade, depois da produção de Black Panter e das séries Guardiões da Galáxia e The Walking Dead, o estado começou a ser chamado de "Hollywood do Sul".

O problema é que, notam analistas como Larry Jacobs, “o velho Sul está a mudar e as antigas tácticas do racismo já não são aceitáveis”. Sem precisar de dizer o nome do seu sucessor, Obama atacou-o por “tentar assustar as pessoas com todo o tipo de monstros inventados, todo o tipo de assuntos divisivos”, uma “retórica desenhada para nos deixar zangados e assustados”, descreveu. “É um velho truque. Georgia, já vimos isto. E gostaria de acreditar que já não caímos.”

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