Portugal é dos países onde mais pessoas garantem que Deus existe

O país aparece ainda entre os 10 países (em 34 analisados) onde as pessoas mais dizem que a religião "é uma componente importante da sua identidade nacional”.

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Paulo Pimenta

Portugal é a excepção entre os países da Europa Ocidental na importância que as pessoas dão à religião não apenas nas suas vidas mas como elemento que define “a identidade nacional”. Os portugueses destacam-se nesta questão como estando mais próximos da Europa Central e do Leste.

Um estudo mostra que 83% dos portugueses inquiridos acreditam em Deus. Destes, mais de metade (44%) não tem dúvidas de que Deus existe (38% não assumem a mesma certeza “absoluta”). O relatório foi divulgado nesta segunda-feira pelo Pew Research Center, um instituto independente de análise de dados, inquéritos e sondagens, com sede em Washington, nos Estados Unidos. Diz que, apesar de a “Cortina de Ferro há muito ter desaparecido”, persiste uma Europa “dividida” no que diz respeito “às atitudes da população face à religião, às minorias e a questões sociais, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo”. De um lado, a Europa Ocidental. Do outro, o Centro e o Leste.

Portugal surge numa posição curiosa. Está em linha com os países da Europa Ocidental no que diz respeito, por exemplo, aos muçulmanos. À pergunta “Aceitaria que um muçulmano integrasse a sua família?”, 70% dos portugueses respondem que sim, próximo dos resultados obtidos em Espanha, Bélgica, Suécia ou Dinamarca, por exemplo (todos com percentagens superiores a 70%). Já em quase todos os países da Europa Central e do Leste, menos de metade dos adultos afirma o mesmo.

Se a questão for sobre a aceitação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, 59% dos portugueses mostram-se a favor. Em todos os países da Europa Ocidental, a maioria da população concorda, mas o sentimento é o oposto na Europa Central e do Leste, onde a maioria da população “de quase todos os países” se opõe. Na Ucrânia, Rússia ou Moldávia, menos de 10% declaram aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

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Mesmo no que diz respeito à interrupção voluntária da gravidez, “legal na generalidade do países europeus”, como nota o estudo, há grande diferenças. Em todos os países da Europa Ocidental seis em cada dez inquiridos mostram o seu apoio, “incluindo países bastante católicos como Irlanda, Itália e Portugal”. Já em vários Estados da Europa do Leste, como a Polónia, Rússia e Ucrânia, a rejeição é maioritária.

Este estudo resulta de inquéritos a 56 mil adultos em 34 países da Europa Central, Ocidental e do Leste, realizados entre 2015 e 2017. Na Europa Ocidental, foram conduzidos por telefone em Agosto de 2017. Em cada país foram questionadas cerca de 1400 pessoas numa amostra que, segundo o Pew Research Center, é representativa da população nacional.

São as questões sobre religião que marcam a diferença em Portugal quando o país é comparado com os parceiros da Europa Ocidental. A questão da crença em Deus é especialmente notada neste relatório. Portugal é apresentado como o único da Europa Ocidental onde “mais de três em cada dez pessoas inquiridas (44%) manifestam ter a certeza absoluta de que Deus existe”.

Apenas em nove países, a percentagem de inquiridos que dizem acreditar, de forma “absoluta”, que Deus existe supera a percentagem encontrada em Portugal: Arménia (79%), Geórgia (73%), Bósnia (66%), Roménia (64%), Grécia (59%), Sérvia (58%), Croácia (57%), Moldávia (55%) e Polónia (45%).

Rezar todos os dias

Portugal aparece ainda entre os dez países onde as pessoas mais dizem que a religião “é uma componente importante da sua identidade nacional”. Afirmam-no 62% das pessoas inquiridas, o que coloca os portugueses à frente de países católicos como a Itália (14.ª), Irlanda (16.ª posição) ou Espanha (21.ª posição) relativamente a esta questão.

Entre os espanhóis que participaram nos inquéritos, a maioria (59%) considera, pelo contrário, que a religião não é muito importante ou de todo importante para definir a identidade nacional.

Quando a pergunta é justamente a de entender a religião como elemento importante, ou não, para definir a identidade nacional, Portugal está mais próximo da Moldávia (onde 63% das pessoas inquiridas consideram a religião importante), Polónia (64%), Bulgária (66%) ou Roménia (74%) do que de países da Europa Ocidental, como a França, a Holanda ou a Bélgica, onde a religião é “importante” ou “muito importante” para apenas 32%, 22% ou 19%, respectivamente.

Também quando a dimensão analisada se prende com a importância que tem a religião na vida das pessoas, Portugal identifica-se mais com alguns países da Europa do Leste e Central como a Croácia, Sérvia, Moldávia ou Roménia do que com os restantes países da Europa Ocidental: 36% dos inquiridos em Portugal (onde 77% da população cristã diz identificar-se predominantemente com o catolicismo) assumem a religião como “muito importante nas suas vidas” e 37% dizem que rezam todos os dias. Em Espanha, são 23%, na Itália são 21%, e em França apenas 11% declaram rezar diariamente.

A Grécia, onde predomina a Igreja Ortodoxa Grega, é o país onde mais pessoas dizem que a religião é importante na vida delas (55%). No extremo oposto, estão países como a Dinamarca, República Checa ou Estónia, onde os inquiridos apontaram a religião como muito pouco importante nas suas vidas (apenas entre 6% e 8% dos inquiridos referiram essa importância). Portugal assume a oitava posição (em 34), posicionando-se à frente de países muito católicos como a Irlanda, a Polónia e de países próximos geograficamente como a França ou a Espanha. com Andreia Sanches

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