Cinco pontos para resumir a vitória de Bolsonaro (e quatro opiniões sobre ela)

Bolsonaro venceu por 55,1% dos votos. No discurso citou Deus com frequência e apontou para a união. Um resumo da noite em que o Brasil guinou à direita.

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1. Bolsonaro venceu com 55% dos votos

O candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (Partido Social Liberal – PSL) foi eleito no domingo Presidente do Brasil. Na segunda volta das presidenciais, Bolsonaro conseguiu 55,1% dos votos, enquanto Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores – PT, esquerda), não foi além de 44,9%.

2. “Um país de todos nós”. Bolsonaro tenta unir

A votação, e sobretudo o que foi dito durante a campanha, mostra um país dividido. Poderá o Presidente eleito diluir esta clivagem? O discurso de vitória apontou para esse caminho, escreve João Ruela Ribeiro, enviado do PÚBLICO ao Brasil. “Este é um país de todos nós, um Brasil de diversas opiniões, cores e orientações”, disse Bolsonaro, sem contudo mencionar o nome do adversário.

3. Haddad pede respeito pela oposição

Fernando Haddad afirmou na noite de domingo que os mais de 45 milhões de eleitores que votaram na sua candidatura presidencial “têm outro projecto de Brasil na cabeça”. “Temos a responsabilidade de fazer oposição, colocando o interesse de todo o povo brasileiro acima de tudo. Uma parte expressiva do povo brasileiro, que votou em nós, precisa de ser respeitada.” O candidato do PT apelou à “coragem” do povo nos próximos quatro anos.

4. Bolsonaro vence em Portugal

Em Portugal, a onda Bolsonaro foi ainda mais expressiva. O candidato de extrema-direita venceu a votação nas 27 assembleias de voto em Lisboa, conquistando 64,4% dos 6.948 votos válidos, segundo os resultados oficiais. “Ele não é um ditador, ele não tem soldados ao lado dele, tem técnicos. Não vai existir ditadura”, ouviu a repórter Joana Gorjão Henriques.

No Porto, o candidato do PSL venceu com 66,5% dos votos no Porto, indicou fonte oficial do consulado do Brasil na cidade. Faltam ainda contar os resultados do consulado de Faro.

5. De Portugal para Bolsonaro

O Presidente da República e o primeiro-ministro cumprimentaram o Presidente eleito. Nas reacções dos partidos portugueses, o BE pediu vigilância da comunidade internacional, o PCP sublinhou as "condições extraordinariamente difíceis" da campanha de Haddad e o Livre pediu a Portugal que abra portas a brasileiros que peçam "asilo político".

6. Quatro opiniões sobre o dia em que o Brasil guinou à direita

“O Brasil deu um salto no escuro”, escreve Jorge Almeida Fernandes. Apesar dos números expressivos da vitória, “a lua-de-mel vai ser curta”, escreve, citando o politólogo Paulo Kramer, membro da equipa de Bolsonaro. Jorge Almeida Fernandes conclui: “O grande capital do novo Presidente é a popularidade. Soube interpretar os sentimentos e os fantasmas da maioria dos brasileiros. Agora, arrisca-se a ‘perder o inimigo’ e a tornar-se ele próprio o alvo das frustrações. Não há ainda respostas. Apenas dúvidas e interrogações.”

Rui Tavares antecipa o pior: “Só poderemos esperar que a corrupção e a insegurança continuem como já estavam, com a diferença de que a ocultação da corrupção e a incapacidade de resolver o problema da violência agora virá de um executivo com um Presidente fantoche dominado por militares e oportunistas. Na oposição teremos as rivalidades e sectarismos de sempre. Do Planalto só se pode esperar o pior; do Congresso não se pode esperar nem sequer o menos mau.”

João Miguel Tavares prefere olhar para o que a vitória de Bolsonaro representa para as elites. “Trump e Bolsonaro não são exemplos para ninguém, nem sequer para quem vota neles. Mas servem um propósito – abanar o sistema de alto a baixo. A esquerda gosta tanto de falar de empoderamento, pois aqui está ele: o eleitorado está-se a borrifar para aquilo que as elites lhe mandam fazer. Daí Trump. Daí Bolsonaro. Daí tantas lágrimas à minha volta”, afirma.

Em editorial, Manuel Carvalho fala num “dia negro” para o Brasil. “A democracia no Brasil não morreu”, mas “Bolsonaro pode estar a um passo de a querer matar. Pobre querido Brasil.”

Artigo actualizado com a opinião de João Miguel Tavares

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