Marcelo tem a “legítima exigência” de saber a verdade sobre Tancos

Presidente lembra que, por diversas vezes, pediu justiça, “doa a quem doer”.

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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, diz ter a "legítima exigência” de saber toda a verdade sobre o desaparecimento e recuperação das armas dos paióis de Tancos.

O PÚBLICO noticiou nesta quinta-feira que o ex-chefe de gabinete do antigo ministro da Defesa, o tenente-general Martins Pereira, disse na quarta-feira, no interrogatório judicial a que foi submetido, ter informado Azeredo Lopes do memorando sobre Tancos que lhe foi entregue, há menos de um ano, pelo então director da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira. Ou seja: segundo esta versão, Azeredo Lopes terá sido informado da encenação da recuperação das armas.

Em declarações aos jornalistas, esta quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa não comentou a notícia directamente, mas disse que, por diversas vezes, pediu justiça, “doa a quem doer”.

“Fui o primeiro, logo em Tancos, a querer todo o esclarecimento de alto a baixo e depois fi-lo permanentemente todas as semanas - e isso porque não sabia. Não sabia e não sei quem é que furtou, não sabia e não sei como foi, o que foi, qual o destino, não sabia e não sei exactamente como é que se passou depois a recuperação das armas”, disse o chefe de Estado. Para acrescentar: “É evidente que, se eu tivesse sabido de alguns desses factos ao longo deste ano e meio, na oportunidade que tive de poder comunicar à senhora PGR teria comunicado o que sabia, na oportunidade de falar com o Governo nessa matéria, teria falado”.

Questionado depois se sabia da investigação criminal à operação de achamento das armas, foi mais cauteloso: “Quando foram recuperadas as armas, não houve naquela altura nenhuma especulação específica sobre a matéria, mas volvidos uns meses, eu próprio fui incluindo na minha exigência pública a exigência de se apurar como é que se passou o desaparecimento das armas e depois qual o eventual destino e como é que se passou a recuperação. Fui sempre apoiando a investigação criminal para chegar às últimas consequências. E espero que chegue”, disse.

Marcelo promete fazer uma declaração ao país sobre o caso “quando tiver matéria” para tal. Lembrou, porém, que tem “falado ao ritmo de duas vezes por semana”, desde o assalto, em Junho de 2017. E deixou uma mensagem sem destinatário certo: “A investigação tem de se fazer independentemente de juízos pessoais ou conjunturais. Quem investiga, fá-lo de forma autónoma. Quem tem de cortar, corta a direito a todos os níveis: isso é justiça. Mas para cortar a direito, primeiro tem de saber quais os factos, quais os envolvidos e quais as responsabilidades".

A ouvir o Presidente da República estavam a ministra da Justiça, que acompanhou a visita, assim como a procuradora-geral da República, Lucília Gago, e o director do DCIAP, Amadeu Guerra. Questionada pelos jornalistas sobre se vai ouvir o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, Lucília Gago disse apenas uma frase: "Vamos apurar todos os factos e ouvir todas as pessoas que forem necessárias".

O que disse Martins Pereira

O PÚBLICO avançou esta quinta-feira que Martins Pereira foi inquirido pelo Ministério Público na qualidade de testemunha, não tendo sido constituído arguido.

Na sua versão dos factos, assim que recebeu o memorando sobre a operação encenada, passou imediatamente a informação ao governante, a quem ligou pela rede WhatsApp, cujos telefonemas e mensagens são encriptados. Colocou agora o seu telemóvel à disposição dos investigadores para perícia, por forma a que seja comprovado aquilo que alega.

Azeredo Lopes manifestou esta quinta-feira ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) "total e completa disponibilidade e interesse" em ser ouvido sobre o caso de Tancos, disse o próprio à agência Lusa.

Ao que o PÚBLICO apurou, os investigadores do achamento das armas de Tancos não consideram prioritário ouvir já Azeredo Lopes. 

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