Movimento diz que passou um “Leslie camarário” pelas árvores de Buarcos

Cidadãos acusam autarquia da Figueira da Foz de ter aproveitado tempestade para derrubar faias, choupos e plátanos na frente de mar.

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A contestação à intervenção já vem de há meses. Durante o Verão, o Movimento Parque Verde (MPV) opôs-se ao projecto de requalificação da frente marítima de Buarcos, na Figueira da Foz, que previa o abate de 16 árvores com mais de 50 anos. Em meados de Agosto, O presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz (CMFF), João Ataíde, recuou, disse que não sabia do corte e anunciou a “reapreciação” do projecto que envolve choupos, faias, plátanos e pinheiros mansos.

No entanto, a autarquia procedeu ao corte de várias árvores saudáveis à boleia da passagem da tempestade Leslie, acusa o movimento cívico. Tanto mais que o MPV tinha uma reunião com o executivo camarário agendada para esta segunda-feira desde dia 11 de Outubro, ainda antes da tempestade, com o objectivo de discutir o projecto.

À saída da reunião nos Paços do Concelho, onde estavam reunidos cerca de 50 munícipes em vigília, um dos membros do movimento, Luís Pena, falou num “Leslie camarário”, referindo-se ao abate de árvores quatro dias depois da tempestade. “É chocante que, no dia 17 de Outubro à tarde”, quando estavam ainda algumas da vias do concelho interditas ao transito devido às árvores caídas, “a prioridade tivesse sido derrubar as árvores” que o movimento defendia, afirmou, depois do encontro com o presidente da câmara.

Algumas das justificações para o abate “dão vontade de rir”, refere Luís Pena, dando como o exemplo uma árvore que “colide com um banco”. O autor do projecto de arquitectura , lamenta, “não considerou um património arbóreo pré-existente com mais de 50 anos”. “É inadmissível”, conclui. O responsável não adiantou as medidas que o movimento irá tomar de seguida. 

Os ventos que atingiram os 176 quilómetros por hora na noite de dia 13 de Outubro e causaram estragos na ordem dos 32 milhões de euros só na Figueira da Foz, arrancaram e danificaram algumas das árvores naquele ponto da cidade. Neste momento há cerca de 40 árvores, algumas delas danificadas, em dois espaços ajardinados em frente ao Mercado Municipal de Buarcos, numa zona em que as obras estão já a decorrer.

Numa nota emitida na semana passada, a CMFF sublinha que, na sequência dos protestos anteriores dos munícipes, o presidente solicitou ao autor a reformulação do projecto “de forma a reduzir ao mínimo o número de árvores a remover, sem comprometer a realização da obra”. No entanto, a passagem da tempestade pela Figueira da Foz veio “fazer aumentar o número de árvores removidas”.

Através de um mapa, a autarquia mostrava que nove árvores foram já “removidas”: sete por “opção projectista”, duas por “questões de fito-sanidade”. Há ainda outras duas árvores que o município prevê abater por opção de quem desenhou o projecto e outras quatro que, tendo ficado danificadas durante a tempestade, estão em avaliação. Na planta enviada às redacções, a autarquia assinala ainda que mais duas árvores foram derrubadas pela Leslie e que irá manter uma outra árvore.

Mais a Norte, a pouca distância da frente marítima de Buarcos, o núcleo central do parque florestal da serra da Boa Viagem – uma zona tutelada pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas - foi destruído. “Mais uma razão que nós temos para defender as que ficaram de pé”, acrescenta Luís Pena, lamentando a “falta de sensibilidade” da autarquia em relação ao património arbóreo.

A tempestade que provocou 27 feridos e 61 desalojados na semana passada com danos em casas, empresas e património público nos distritos de Coimbra e Leiria, causou igualmente danos em vários outros espaços verdes da região.

Para além parque florestal da serra da Boa Viagem, ficaram devastadas partes significativas das matas do Buçaco, na Mealhada, e do Choupal, em Coimbra. Também o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra sofreu com o mau tempo, com a queda de árvores centenárias e danos significativos em outras espécies, estando o espaço temporariamente encerrado para trabalhos de recuperação.<_o3a_p>

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