Itália é o Portugal de há três anos, compara o Financial Times

Jornal britânico faz uma comparação entre os dois países da zona euro e diz que hoje "os contrastes dificilmente poderiam ser mais nítidos”.

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Ministro das Finanças na apresentação da proposta do Orçamento do Estado para 2019, esta terça-feira LUSA/RODRIGO ANTUNES

O Financial Times destaca esta sexta-feira o “virar de página da austeridade” que Portugal conseguiu por iniciativa de um governo socialista que chegou ao poder há três anos com o “apoio dos comunistas linha dura e da esquerda anti-sistema” e compara a performance portuguesa com a de outro país da zona euro, Itália, que entrou em “rota de colisão” com a União Europeia (UE).

“Um governo da zona euro entrou em rota de colisão com a UE sobre as metas do défice orçamental (…) Os empréstimos continuam a subir e o sector bancário está vulnerável e regista um dos maiores encargos da dívida pública da Europa. Itália encaixa-se nesta descrição”, descreve o jornal, observando que “este foi o Portugal de há menos de três anos”. O “virar de página da austeridade” deu-se com um governo minoritário socialista, apoiado por comunistas linha dura e pela esquerda anti-sistema”, acrescenta o diário inglês.

Feita a descrição, o Financial Times afirma que “hoje, os contrastes dificilmente poderiam ser mais nítidos” e detém-se depois no Orçamento do Estado do próximo ano. “Portugal divulgou esta semana a proposta do Orçamento do Estado para 2019 que se propõe reduzir o défice para 0,2% do Produto Interno Bruto [PIB] no próximo ano, o mais baixo em mais de quatro décadas de democracia”, elogia, para uma nova comparação com o Governo italiano: “O projecto de orçamento de Itália propõe um défice para 2019 de 2,4% do PIB, muito acima da meta estabelecida pela EU que é de 0,8%”.

A este propósito, o jornal britânico dá conta que a Comissão Europeia escreveu na quinta-feira ao Governo italiano para expressar preocupação com um desvio sem precedentes de planos anteriores.

“Enquanto Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro de Itália e líder do partido Liga Anti-imigração, se opõe à austeridade da UE para empobrecer o país, Mário Centeno, ministro das Finanças de Portugal, pede moderação”, sublinha o diário, que cita uma frase de Mário Centeno a propósito do orçamento — “Não há espaço para soluções aparentemente fáceis ou populistas”.

Segundo este jornal, Mário Centeno, enquanto presidente do Eurogrupo dos ministros das Finanças da zona euro, “poderá em breve alertar Giovanni Tria, seu colega italiano, para os perigos do gasto excessivo, no que seria uma notável inversão de papéis desde 2015, quando o próprio ministro português veio sob forte pressão da UE sobre os seus planos orçamentais”.

O Financial Times alude mais à frente à “profunda recessão” que Portugal sofreu após a crise da dívida na zona euro que o levou a pedir um resgate de 78 mil milhões de euros à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional, em 2011, para depois elogiar Mário Centeno, afirmando que presidiu a uma “recuperação robusta, com o Governo a prever um crescimento de 2,3% este ano, abaixo dos 2,8% em 2017, o mais alto em mais de uma década”.

“O governo de Portugal compartilha uma retórica antiausteridade com os italianos, mas os mercados estão a recompensar Portugal pelas suas políticas fiscais sensatas”, escreve ainda o diário, citando o economista Holger Schmiefing, para quem “Portugal fez algumas inversões em reformas de pequena escala, mas manteve-se nas metas fiscais. Os italianos planeiam reversões significativas de reformas e querem aumentar os gastos”.

A mudança de posição da agência Moody's em relação a Portugal é também mencionada no artigo. “Na semana passada, a Moody's tornou-se a última das três grandes agências de rating a tirar Portugal do lixo e a restaurar o país ao grau de investimento." De novo a comparação com Itália. “Stefano Buffagni, um alto funcionário do governo, alertou esta terça-feira que Itália deve estar preparada para ver o seu rating baixar."

No longo artigo dedicado a Portugal e Itália, o Financial Times fala de António Costa, afirmando que o “primeiro-ministro sempre sustentou que a reversão dos cortes nos gastos era compatível com o cumprimento das metas fiscais da União Europeia”. O diário cita uma frase de Frederico Santi, analista do Eurasia Group, que diz que “o que Costa propôs foi reduzir o ritmo do ajuste fiscal, enquanto a Itália está a tentar revertê-lo no próximo ano e depois adiá-lo indefinidamente”.

O diário faz ainda referência às melhorias que constam do OE. “Apesar de Portugal estimar um défice próximo do zero, o Orçamento de Centeno para 2019 — ano de eleições legislativas — inclui aumentos salariais para trabalhadores do sector púbico, aumento de pensões, redução de impostos e preços mais baixos de energia e transporte públicos”, enumera. E acrescenta: “O Governo de Lisboa vem revertendo as medidas de austeridade há três anos, mas os economistas argumentam que as taxas de juro mais baixas sobre a dívida pública, o impacto do crescimento internacional nas exportações e um boom recorde do turismo tiveram um impacto mais importante no crescimento do que as medidas antiausteridade”.

O diário cita uma frase de um editorial do director do PÚBLICO, Manuel Carvalho: “Certo é que o OE2019 será o último de uma linhagem na qual a distribuição de rendimentos se sobrepôs à criação de riqueza.” 

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