Rita quer dar nova vida a brinquedos usados nas mãos de crianças indonésias

Mainan é o projecto de uma portuguesa que pretende recolher cinco mil brinquedos usados para entregar às crianças vítimas dos sismos de Julho e Agosto em Lombok, na Indonésia. De 20 de Outubro a 2 de Novembro, as lojas Knot e várias escolas lisboetas vão receber os donativos.

Rita Xavier, em Agosto passado, com crianças em Lombok
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Rita Xavier, em Agosto passado, com crianças em Kupang DR
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Este Verão, na ilha indonésia de Lombok, a terra tremeu e destruiu. Primeiro, a 29 de Julho, foi um sismo de 6.4 na escala de Richter. Nos dias seguintes, seguiram-se abalos mais fortes, de 7.0 e de 6.5. Foi no dia deste último que Rita Xavier aterrou em Bali, em escala para Kupang. Quando aterrou, soube dos abalos que Lombok tinha acabado de sofrer. “O aeroporto estava um pânico”, conta à Fugas, explicando que as companhias aéreas começaram logo a devolver o dinheiro das passagens e a recomendar a todos os passageiros que saíssem da Indonésia. Rita não quis regressar. “Precisavam mais de mim do que nunca”, justificou àqueles que a tentaram demover da ideia.

Não conseguiu ir para Lombok, porque as organizações humanitárias ainda não tinham chegado lá, mas ouviu relatos de uma ilha arrasada: “Casas destruídas, pessoas a dormir rua e toda a gente a chorar”, descreve. Durante o mês em que esteve no país, ainda sentiu outro sismo forte, de 6.9. “Acordei de repente com a porta a abanar e a cama a tremer”, revela. Foram 15 segundos de susto, superados depois pela paisagem da ilha. “Depois de tudo, uma pessoa abre a janela, vê aquele cenário natural e fica logo em paz." Garante que nunca sentiu medo, “apenas receio”, por temer que famílias que ficaram sem casa nunca cheguem a ser realojadas e por sentir a “preocupação” de uma população que antevê perder os fluxos de turismo que asseguram o ganha-pão daquelas ilhas. Segundo dados oficiais, foram registados 623 mortos, mais de 220 mil casas destruídas e prejuízos a rondar os 528 milhões de dólares.

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Desde há três anos que Rita Xavier passa o mês de Agosto nas ilhas da Indonésia - o seu “sítio especial”, como lhe chama. Quando chega a Kupang, as crianças rodeiam o carro a gritar o seu nome. Já a conhecem. O entusiasmo das crianças pode explicar-se pela mala recheada de brinquedos e roupa que Rita leva de cada vez que lá vai. “Levo sempre carradas de brinquedos que os meus irmãos mais novos já não querem e as crianças ficam sempre com os olhos a brilhar”. Naquelas circunstâncias, a entrega de brinquedos foi ainda mais especial. “Foi mágico”, assume.

Quando regressou a Portugal, sentiu que “não podia ficar parada”. Criou o Mainan - que significa brinquedo em indonésio –, o projecto que pretende recolher cinco mil brinquedos para levar para Lombok. “São restos de infância transformados num novo sonho”, diz, apelando à participação de todos porque “toda a gente tem carradas de brinquedos em casa que não são utilizados”. Os brinquedos poderão ser entregues nas 14 lojas de roupa Knot, de 20 de Outubro a 2 de Novembro. O Mainan também vai passar por sete escolas de Lisboa: Externato Rainha D. Amélia, Colégio Planalto, Colégio Mira Rio, Colégio O nosso jardim, Centro Social do Sagrado Coração de Jesus, Externato do Parque e o Colégio de Santa Doroteia. O objectivo é incutir às crianças lisboetas a importância da solidariedade.

Recolhidos os brinquedos, Rita vai partir para Lombok a 30 de Novembro, onde irá permanecer até 23 de Dezembro. Vai com mais quatro voluntários e um fotógrafo, para retratar a concretização do projecto. A intenção é promover uma exposição de fotografias e filmes quando regressar. “Queremos mostrar às pessoas para onde foi a doação”, explica, notando que as fotografias e filmes vão passar pelas escolas para que os alunos vejam os brinquedos que foram seus ganharem nova vida nas mãos de crianças separadas por mais de 12 mil quilómetros. Apesar de ser em vésperas da quadra natalícia, Rita frisa que não quer ser vista como a “mãe-natal”, pelo que a entrega dos brinquedos vai ser sempre acompanhada por actividades pedagógicas, como o ensino de inglês ou de matemática ou princípios de reciclagem. “Já está tudo a ser organizado em conjunto com escolas e lares indonésios. Vai ser incrível”, prevê Rita.

Texto editado por Sandra Silva Costa

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