Sauditas querem revolucionar futebol e Man. United pode estar no plano

Actuais proprietários do clube britânico estarão em Riad na próxima semana. Em perspectiva pode estar um negócio superior a 4,5 mil milhões de euros.

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Manchester United pode ser comprado pela Arábia Saudita Reuters/Andrew Yates

A Arábia Saudita quer tornar-se numa grande potência do futebol mundial. Um objectivo que passa tanto pelo plano desportivo como pela capacidade de influência nos órgãos decisórios do mais popular desporto do planeta. Em marcha está um ambicioso e sinuoso plano que poderá passar pela aquisição do Manchester United, num negócios estratosférico a ultrapassar os 4,5 mil milhões de euros. Pelo meio, o reino do deserto quer convencer a FIFA a revolucionar as competições internacionais.

Depois do xeque Mansour bin Zayed al-Nahyan, membro da família real dos Emirados Árabes Unidos, ter assumido o controlo do Manchester City (2008) e de investidores ligados aos governantes do Qatar terem adquirido o Paris Saint Germain (2011), os sauditas não querem ficar para trás e podem reforçar a presença das monarquias da península arábica no futebol europeu.

A hipótese de compra do United de José Mourinho foi avançada esta semana pelos jornais britânicos The Sun e Daily Star, garantindo que o interesse do reino saudita no mais emblemático clube de Manchester é genuíno. A notícia agrada a muitos adeptos dos “red devils”, que não morrem de amores pelos actuais proprietários do clube, a família norte-americana Glazer, que gere os destinos do emblema britânico desde 2005.

Futebol em vez de petróleo

O potencial negócio poderá ficar definido já na próxima semana na capital saudita, Riad, à margem da conferência Future Investment Initiative, apelidada de “Davos no deserto”, que decorre entre 23 e 25 de Outubro e onde estará Avram Glazer. Aliás, o United já tem uma forte ligação aos sauditas, com quem estabeleceu uma parceria estratégica para o desenvolvimento do futebol no reino. Isto para além da Saudi Telecom ser a mais antiga parceira comercial do clube inglês.

A notícia surge numa altura em que o regime de Riad, liderado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, está sob enorme pressão internacional, acusado de ter arquitectado o assassínio do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado do seu país, em Istambul, na Turquia, no início deste mês. Acusações refutadas pelo reino, mas que estão a provocar fortes reacções mundiais, com muitos boicotes anunciados à segunda edição da Future Investment Initiative.

A conferência organizada pelo fundo soberano da Arábia Saudita pretende ironicamente melhorar a imagem do país e, ao mesmo tempo, apresentar as reformas económicas idealizadas por Mohamed bin Salman. Um extenso programa, intitulado “Visão 2030”, que visa reduzir a dependência do reino em relação ao petróleo, mas também transformar a sociedade saudita.

No plano económico, o objectivo passa pelo investimento em outros mercados, para além do petrolífero, como a indústria de serviços, cultura, turismo e desporto. E neste último, o futebol é o alvo primordial. Tanto em termos domésticos, como no que toca a investimentos internacionais – onde se encaixaria o lucrativo e emblemático Manchester United – e no seu peso junto das instituições que gerem o futebol mundial.

A influência diplomática da Arábia Saudita já se fez sentir na escolha da candidatura da América do Norte (Canadá, EUA e México) para receber o Mundial 2026. Mas a família real quer ir mais longe e convencer a FIFA a fazer alterações já no Mundial 2022, que se realizará no Qatar, país rival com quem mantém um clima de guerra fria.

Prejudicar o Qatar

A ideia saudita passa por uma proposta para alargar a competição das actuais 32 para 48 selecções – uma medida já prevista pela FIFA, mas apenas para o Mundial 2026 –, o que colocaria sérios problemas estruturais para o Qatar acolher a torneio sem ter de recorrer a outros países da região.

De acordo com um artigo do jornal norte-americano The New York Times, em Maio, os sauditas estarão entre os grandes financiadores de um fundo de investimento – de que se desconhece oficialmente a identidade – que está a acenar à entidade máxima do futebol mundial com 25 mil milhões de dólares (21,6 mil milhões de euros) para custear dois novos torneios globais.

O plano passa por criar um Mundial de clubes com 24 equipas e uma nova prova de selecções. Uma reformulação do quadro das competições internacionais que já originou críticas pela forma pouco transparente como está a decorrer.

Em Maio, no final de um encontro do Comité Estratégico para o Futebol Profissional europeu – que junta clubes, ligas profissionais, jogadores e a UEFA –, em Lyon, França, a FIFA foi questionada acerca da rapidez com que o seu presidente, Gianni Infantino, quer ver aprovadas as novas competições.

Bem menos apreensivos estão os adeptos do Manchester United perante a possibilidade do clube passar para o controlo saudita. Mais concretamente, acreditam que os novos proprietários seriam perfeitos para reforçar o investimento no futebol e promover o regresso da equipa aos triunfos da era Alex Ferguson.

Para já, a família Glazer vai refreando os ânimos garantindo que o clube não está à venda. Mas será tudo uma questão de preço e os reflexos desta possibilidade de negócio já se fizeram sentir na bolsa, onde as acções do United estão em alta.

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