CR da RTP aceita saída de Paulo Dentinho e entrada de Maria Flor Pedroso

Comunicado é assinado apenas por dois dos nove elementos do órgão representativo da redacção. Como a jornalista Maria Flor Pedroso fez toda a sua carreira na rádio, o CR aconselha que componha a equipa com gente da televisão.

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CR da RTP aconselha a nova directora (Maria Flor Pedroso ao centro na fotografia, durante debate para as presidenciais de 2016) a escolher pessoas da área da televisão para colmatar a sua "menor experiência no meio televisivo". daniel rocha

Não é um parecer convencional de conselho de redacção (CR) e nem sequer diz se é positivo ou negativo, como é habitual, mas depreende-se que o órgão que representa a redacção da RTP aceita a saída de Paulo Dentinho do cargo de director de Informação da televisão pública e a entrada para o seu lugar da jornalista Maria Flor Pedroso. Porém, aconselha a nova directora a escolher pessoas da área da televisão para colmatar a sua "menor experiência no meio televisivo".

No documento enviado à administração — que, pela lei, tem que pedir parecer consultivo àquele órgão representativo dos jornalistas — e a que o PÚBLICO teve acesso, o CR realça que no documento enviado pela equipa liderada por Gonçalo Reis não são indicadas "as razões invocadas, quer pelo director de Informação para 'colocar o seu lugar à disposição', quer pelo conselho de administração para 'decidir aceitar essa disponibilidade'". Por isso, justifica o CR, não pode emitir um "parecer fundamentado sobre a decisão".

Já quanto à nomeação da jornalista Maria Flor Pedroso, o conselho de redacção diz estar "satisfeito pelo facto de a escolha ter sido feita entre os profissionais" da empresa pública de rádio e televisão. Especificamente sobre a até aqui editora de política da Antena 1, o CR salienta o "inegável curriculum de Maria Flor Pedroso maioritariamente na rádio" para logo a seguir sugerir que "essa menor experiência no meio televisivo seja colmatada na escolha da equipa de sub-directores e directores-adjuntos" que vier a fazer para a direcção de Informação da RTP.

O parecer, datado desta quarta-feira, e de carácter meramente consultivo, foi assinado apenas por dois dos nove elementos que compõem o CR — um efectivo e um suplente —, algo que não é comum. Mas fonte do CR especificou ao PÚBLICO que o parecer foi aprovado por unanimidade dos nove membros e apenas assinado por dois por questões logísticas.

Paulo Dentinho colocou o seu lugar à disposição do conselho de administração depois de vários dias de polémica interna sobre as suas duas publicações na rede social Facebook (nos dias 3 e 4 de Outubro) com linguagem muito dura sobre violações que, apesar de não referirem nomes, foram interpretadas como referindo-se a Cristiano Ronaldo e Kathryn Mayorga. A equipa liderada por Gonçalo Reis acabou por aceitar.

O então director recusou responder a questões do Conselho de Redacção por alegadamente ter violado o Código de Ética Jornalística da RTP, fazendo apenas uma declaração em que afirmava ter “indícios que sustentam suspeitas de um possível complot contra si” por parte de elementos da RTP e do site de notícias sobre televisão que noticiara que o director estava a ser alvo de um inquérito interno — o que não era verdade.

Para além de recusar dar explicações sobre as suas publicações no Facebook numa reunião convocada de emergência o dia 8 de Outubro, Paulo Dentinho enviou uma mensagem ao conselho de redacção no dia 12, já depois de conhecida a sua substituição por Maria Flor Pedroso, em que se despede das "pessoas decentes" e dos "outros", a quem dá "os parabéns pela contribuição eficaz que levou à minha [sua] exoneração".

Falta agora apenas o parecer vinculativo da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que anunciou que nesta quarta-feira ouviu tanto Paulo Dentinho como Maria Flor Pedroso.

A ERC, que em Agosto teve que chumbar inicialmente as mudanças na equipa de Paulo Dentinho por falta de justificação da administração, lembra, numa nota no seu site, que lhe compete "emitir parecer prévio e vinculativo sobre a nomeação e destituição dos directores e directores-adjuntos de órgãos de comunicação social pertencentes ao Estado e a outras entidades públicas que tenham a seu cargo as áreas da programação e da informação".

Notícia actualizada às 20h20 com informação sobre as audições na ERC

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