Ex-porta-voz da PJM entrega dois documentos sobre Tancos e reafirma que ministro foi informado

Advogado Ricardo Sá Fernandes diz sobre eventual audição do ex-ministro: “Não vejo nada de anormal nisso.”

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Major Vasco Brazão com o seu advogado, Ricardo Sá Fernandes: ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar voltou a ser ouvido, a seu pedido

Ao fim de seis horas de interrogatório nas instalações do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), o advogado Ricardo Sá Fernandes esclareceu que, no processo do reaparecimento do material de guerra de Tancos, o major Vasco Brazão tinha esta terça-feira confirmado “o que tinha dito no primeiro interrogatório”.

Por essa ocasião, no dia 2 de Outubro, não entregara os documentos entregues nesta terça-feira pois foi interrogado logo depois de ser detido à sua chegada da República Centro Africana. O ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar, que voltou a ser ouvido – a seu pedido – pelos procuradores do DCIAP João de Melo e Vítor Magalhães, não tinha tido a possibilidade de ir a casa e procurar o que tinha de relevante a apresentar.

Desta vez, entregou dois documentos que podem ser “úteis” para a descoberta da verdade, acrescentou Sá Fernandes, esclarecendo que “os documentos oficiais já estão no processo”.

Um dos documentos entregues esta terça-feira é o memorando que o major terá escrito para informar o então ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, da operação em Outubro do ano passado que levou à descoberta das armas de Tancos numa zona na Chamusca, com a colaboração de um informador suspeito de ser um dos assaltantes envolvidos no assalto três meses antes, em Junho.

“Há só um memorando”, esclareceu Sá Fernandes antes de se congratular pelo que disse ser “a confirmação de que o tenente-general Martins Pereira  é uma pessoa honrada”. O advogado de Vasco Brazão referiu-se a notícias sobre a existência de “mais do que um memorando” ou “a hipótese de um deles ser forjado” e que não serão verdadeiras.

“O general Martins Pereira [que na semana passada entregou documentos no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) ] honrou a verdade”, reiterou Sá Fernandes.

Por estas palavras, o advogado implicitamente sugere, sem confirmar, que um dos documentos que este, enquanto ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes, teria entregue no DCIAP será o mesmo documento referido por Vasco Brazão mas não confirmado pelo ex-director da PJM, coronel Luís Vieira.

Segundo fontes ligadas ao processo, Luís Vieira, que está preso preventivamente no Estabelecimento Prisional Militar de Tomar, terá apenas confirmado a realização de uma reunião com o ex-chefe de gabinete do Ministério da Defesa – em Outubro e não em Novembro – para a entrega de um relatório formal de ocorrências, em papel timbrado e assinado, distinto do documento informal referido como “memorando”.

Este papel é apresentado pela defesa do major como um comprovativo de que a PJM teria a intenção de informar o ministro da operação combinada com o assaltante. Essa reunião de Novembro ter-se-á realizado, segundo Vasco Brazão, assim que a PJM soube que estava a ser investigada pela Polícia Judiciária (PJ) civil, em Novembro.

O DCIAP delegou a responsabilidade da investigação à PJ já depois de a PJM ter iniciado as primeiras diligências realizando dezenas de interrogatórios nos Paióis Nacionais de Tancos nos três dias que se seguiram à data conhecida do desaparecimento do material, em 28 de Junho de 2017.

Ex-ministro ouvido?

Questionado sobre se o ex-ministro Azeredo Lopes devia ser ouvido nesta investigação, Ricardo Sá Fernandes respondeu que não vê “nada de anormal nisso”. “O DCIAP deverá ouvir todas as pessoas que são úteis para esclarecer a verdade”, considerou Sá Fernandes à saída do DCIAP, em Lisboa, onde entrara pouco depois das 10h com Vasco Brazão.

A audição deste que é um dos principais arguidos neste processo durou cerca de seis horas. No primeiro interrogatório, o major, que se encontra em prisão domiciliária, tinha sido ouvido durante mais de oito horas.

Fará esta quarta-feira precisamente um ano da descoberta das armas num terreno, junto a um canavial, perto de um rio, na zona da Chamusca a que os investigadores da PJM chegaram depois de uma chamada combinada de um dos elementos da equipa com as informações transmitidas pelo assaltante. Mas muito haverá ainda por esclarecer.

Quando questionado sobre a eventual intenção, através deste interrogatório, de ver revista a medida de coacção de obrigatoriedade de permanência na habitação, suspensão de funções e proibição de contactos com os restantes oito arguidos, Ricardo Sá Fernandes esclareceu: “Essa não é a prioridade. A nossa prioridade é ajudar a descobrir a verdade. A única forma de o major Vasco Brazão sair com dignidade e mantendo o respeito que as pessoas têm por ele é dizendo a verdade e ajudar a colaborar na descoberta da verdade e mostrar-se arrependido, o que fez e está a fazer." 

O coronel Luís Vieira vai ser ouvido no DCIAP na próxima terça-feira, dia 23 de Outubro.

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