Esplendores corais e repertórios portugueses na temporada Música em São Roque

A criação musical portuguesa desde o século XVI até ao século XXI ocupa um lugar de destaque na série de concertos que se realiza até 11 de Novembro.

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O coro Gulbenkian tem a seu cargo o concerto de abertura Márcia Lessa
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Capella Sancta Crucis Ambronay Bertrand PICHENE 2013
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Trio Pangea João Vasco

As Vésperas op. 37, de Rachmaninov, na interpretação do Coro Gulbenkian, sob a direcção de Jorge Matta, preenchem o primeiro concerto da 30.ª temporada Música em São Roque, que se inicia esta sexta-feira, às 21h, na igreja homónima em Lisboa pertencente à Santa Casa da Misericórdia, promotora da iniciativa. Esta obra monumental do repertório coral russo, composta em 1915, baseia-se em antigas melodias provenientes de várias tradições da Igreja Ortodoxa, distinguindo-se pela sua intensa espiritualidade, pela magnificência sonora e por uma concepção comparável a uma “orquestração coral”. Um ponto de interesse adicional do concerto desta noite será a participação do organista Sérgio Silva, que irá realizar uma série de improvisações sobre temas das Vésperas.

Até 11 de Novembro (data em que será possível ouvir a Orquestra Geração, projecto pedagógico de inclusão social através da música inspirado no El Sistema venezuelano), uma série de 11 concertos irá percorrer lugares tão emblemáticos do património histórico e arquitectónico de Lisboa como a Igreja de São Roque, a Igreja de São Pedro de Alcântara e o Mosteiro de Santos-o-Novo. Pela primeira vez, este ciclo com direcção artística do maestro Filipe Carvalheiro, irá passar também pela Igreja do Loreto, que comemora 500 anos em 2018. Este lugar central da presença italiana em Portugal servirá de palco no dia 2 de Novembro à interpretação de uma obra-prima do barroco musical português pelos Músicos do Tejo, sob a direcção de Marcos Magalhães: a oratória La Giuditta (1726), composta por Francisco António de Almeida em Roma e dedicada ao embaixador André de Melo e Castro.

A música e os músicos portugueses constituem como é habitual a imagem de marca da Temporada Música em São Roque e esta edição não é excepção. No próximo domingo, o agrupamento Sete Lágrimas apresenta o programa Tin-Nam-Men ou A gruta de Patane, uma viagem musical a partir dos textos dos séculos XVI e XVII de autores como Camões, Fernão Mendes Pinto e Padre António Vieira, contemplando repertórios escritos e orais, eruditos e populares, e múltiplos espaços geográficos da expansão colonial (concerto que já se encontra esgotado).

A música praticada em Portugal no século XVI estará ainda presente em mais dois concertos de relevo: Requiem de Coimbra: Celebrações de lágrimas e de luz nos Ofícios de Defuntos em Coimbra no século XVI, incluindo a estreia moderna da Missa de Defuntos, a quatro vozes, conservada na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, pelo agrupamento Capella Sanctae Crucis, dirigido por Tiago Simas Freire (dia 21, no Mosteiro de Santos-o-Novo), e Cancioneiro Musical Manuelino, pelo grupo Concerto Atlântico de Pedro Caldeira Cabral, programa dedicado aos géneros poético-musicais profanos dos cancioneiros polifónicos ibéricos e ao repertório instrumental da mesma época (dia 4, na Igreja de São Pedro de Alcântara). No dia 26, um salto no tempo de quatro séculos conduzirá os ouvintes a revisitar uma das principais obras de Eurico Carrapatoso (n. 1962)  — Magnificat em Talha Dourada, estreada há 20 anos pelo Grupo Vocal Olisipo na comemoração dos 500 anos da Santa Casa da Misericórdia — mas as incursões pela música coral não ficam por aqui. O Coro Casa da Música, sob a direcção de Paul Hillier, dará a ouvir páginas religiosas de Alessandro Scarlatti e Domenico Scarlatti (incluindo o Te Deum a oito vozes, que este último terá escrito em Portugal quando esteve ao serviço de D. João V) no dia 9 de Novembro e o Coro Voces Caelestes, dirigido por Sérgio Fontão, cantará obras de Schubert e Bruckner, em alternância com peças instrumentais de Grieg e Nielsen interpretadas pela Camerata Alma Mater (19 de Outubro).

Destacam-se ainda os concertos que assinalam o centenário de Claude Debussy e os 150 anos de Vianna da Motta, nomeadamente o programa do Trio Pangea (formado por Bruno Belthoise, Adolfo Rascón Carbajal e Teresa Valente Pereira), com trios para piano, violino e violoncelo dos dois compositores homenageados, bem como de Joly Braga Santos e Alexandre Delgado (dia 28). Um outro trio, constituído por António Rosado (piano), Ana Madalena Ribeiro (violino) e Filipe Quaresma (violoncelo), interpretará Debussy, Luís de Freitas Branco e Ravel (dia 24) num concerto precedido por uma palestra do musicólogo Tiago Hora.

Visitas guiadas e ateliers pedagógicos para crianças precedem os concertos, encontrando-se também a decorrer em paralelo um ciclo “sessões de apreciação musical” intitulado “Ouvidos para a música” e orientado pelo maestro Martim Sousa Tavares em colaboração com o Ensemble MPMP. As próximas sessões terão lugar nos dias 17 e 23. Mais informações em: http://mais.scml.pt/tmsr/

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