Os jovens votam pouco. Mas há alguém a falar para eles?

Vários estudos mostram uma tendência comum: os jovens são, na generalidade, menos interventivos na política do que pessoas de escalões etários superiores. Votam menos, participam menos, interessam-se menos.

Um estudo do Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica Portuguesa, datado de 2007, concluía que os jovens e jovens adultos (até aos 29 anos) eram os menos satisfeitos com o funcionamento da democracia em Portugal. O cenário agravou-se: em 2015 só pouco mais de 17% achava que a democracia funcionava bem.

João Gamito, João Machado e Inês Soares receberam o Poder Público no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP). Sentados em círculo, com um microfone no meio, os alunos de Ciência Política não mostravam dúvidas: “o discurso político não é feito para os mais jovens”.

Apesar de pertencerem a juventudes partidárias, João Gamito (JSD) e João Machado (JP) dizem que estas estruturas acabam por estar “fechadas sobre si próprias” e que “as ‘jotas’ seguem a ideia de ‘imitar o partido’”. Para Inês Soares, o problema começa em casa, com a própria educação que se tem e que, “muitas vezes”, leva os jovens a “não dar valor ao voto”.

João Machado acredita que uma solução pode passar pelo voto obrigatório. “É inevitável voltar a falar disso”, apesar de considerar uma solução “um pouco anti-democrática”.

O estudo do CESOP relata um maior “desalinhamento” ideológico dos jovens - que os faz abolir conceitos como ‘esquerda’ ou ‘direita’ - o que, na prática, “também se reflecte num maior desalinhamento partidário”.

Em Outubro de 2014, o jornal i fazia o levantamento do número de jovens filiados nas estruturas partidárias para jovens (tradicionalmente entre os 14 e os 29 anos). Então existiam 108 mil jovens inscritos nas ‘jotas’. A JSD tinha mais de 53 mil filiados, a JS 32 mil e a JP 18 mil. A Juventude Comunista Portuguesa falava em cinco mil jovens. O Bloco não tem juventude partidária.

João Gamito admite que, uma das causas deste afastamento dos jovens da política, é “o tempo”, até porque “o tempo da política não é o tempo dos jovens”. Dá como exemplo o processo do novo aeroporto de Lisboa, que se discute há vários anos e que só na próxima década deverá ter efeitos no terreno.

Nesta equação, as causas ganham terreno às estruturas partidárias, defende Inês Soares. Os jovens “movem-se mais” pelas causas com que se identificam, “mais do que pelos partidos”. Dando o exemplo recente da luta dos estudantes universitários pelo alojamento.

A menos de um ano das Eleições Europeias (Maio de 2019), “falta informação”, mas, “principalmente”, falta quem fale para quem está hoje “fora da agenda” política.

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