Ljubomir Stanisic. No Pesadelo, "os resultados dos restaurantes não dependem de mim"

Recordes de audiências, fenómeno televisivo, capas de revistas atrás de capas de revistas. O que explica o sucesso de Ljubomir Stanisic no programa da TVI Pesadelo na Cozinha?

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Nuno Ferreira Santos

Na entrevista que deu à Fugas a propósito do lançamento do livro Bistromania - No Bistro como em Casa, que acaba de lançar com a mulher, Mónica Franco, o chef do 100 Maneiras e do Bistro, Ljubomir Stanisic, falou também do programa televisivo Pesadelo na Cozinha, que se tornou um fenómeno de popularidade. 

Porque é que achas que a figura televisiva que criaste tem tanto sucesso?
Porque sou eu. Quem me conhece sabe que sou eu, puro e duro. Só que não gosto de ver as coisas fora do sítio, não gosto de ver pessoas paradas, incomoda-me o ser humano, acho que é uma preguiça, uma lesma, que cria muito rapidamente hábitos. 

Alguém me disse outro dia, aos gritos na rua, ‘quero ser cozinheiro como tu’, achei fixe, mas cheguei a casa e bateu-me aquela merda, ‘queres ser cozinheiro como eu?’. A quantas pessoas já ouvi dizer que querem ser como um grande músico ou um grande escritor, o que é que fizeram para isso acontecer? Pensam isso naquele segundo e o hábito do cérebro de lesma faz com que aquela merda se esqueça no dia seguinte. Se queres ser, consegues ser. Eu quis ser um grande cozinheiro, quis ser uma pessoa livre, curtir a puta da vida como ela é, quero ter toda a liberdade, sou um anarca total, a minha lei é para mim, eu pratico-a. Se as pessoa querem ser uma coisa têm que ser todos os dias bons, praticar essa merda diariamente, repetir isso para ti, começar a acordar uma hora mais cedo, ou dez minutos mais cedo, para começar a atingir os objectivos. Nunca ninguém vai ser bom porque grita que quer ser bom, tens que ser um grande lutador. E isso é um chip que tem que mudar dentro das cabeças das pessoas, que se tornam aquilo que querem ser. 

E tu gostas desse momento em que fazes mudar a cabeça das pessoas?
O que mais gosto é desbloquear essa merda. Resultados dos restaurantes? Não dependem de mim, da minha ementa, não dependem minimamente do trabalho que eu fiz, só dependem das pessoas que estão lá. Algumas têm capacidade, algumas desbloqueiam. O meu maior objectivo é ser um ser humano, há pessoas que vão ao psicólogo durante quatro anos, pagam consultas, ainda vão levar com os comprimidos, mas é o psicólogo que as vai ajudar? Eu no mínimo digo ‘estás a ser um estúpido, estás a gastar dinheiro no psicólogo, só tens que bater com a cabeça contra a parede, sangrar um bocadinho para perceber que estás com a cabeça toda fodida. Não é preciso ir lá quatro anos, se quiseres eu ajudo-te, empurro-te a cabeça contra a parede rapidamente, para perceberes.’ Eu gosto desta maneira de lidar com pessoas, terapias de choque, é um trabalho mais de emoções do que propriamente de cozinha, pego nas pessoas, analiso-as profundamente.

O que toca as pessoas é que ao mesmo tempo que és bruto pareces genuinamente preocupado com elas. 
Ligo-me às pessoas, dou-me todo ali para elas, mas não posso namorá-las logo no início, nem posso nem quero, nem sei se vale a pena. No outro dia ia matando um rapaz, dono de um restaurante, porque não consegui acordá-lo. Investimos 50 mil euros nele, a decorar o restaurante, a pô-lo mesmo impecável, ele nem me disse obrigado, apanhei três moças daquelas coitadas que ganham 400 euros, trabalham há 46 anos naquele restaurante que era do avô dele, ele é um puto com 25 anos, nasceu num berço, só que agora trata-as mal, apetecia-me matar o gajo, dei um soco num caixote, ia bater-lhe, agarram-me, ‘não podes’, ‘não posso porquê?’.

Estou-me a borrifar para o restaurante naquele momento, quero é que aquelas pessoas tenham algo de melhor, um objectivo, um futuro melhor. Adorava que todos os restaurantes resultassem mas tenho noção que talvez metade resulte. Os outros são de pessoas que não fazem clique. Naqueles dias em que estão comigo acham que está tudo óptimo. E eu pergunto-lhes ‘acordaste 10 minutos mais cedo, vais fazer alguma coisa?’.

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