Bolsonaro recebe alta e abandona hospital de São Paulo

Não se conhecem detalhes sobre condição do candidato presidencial de extrema-direita. Elementos da sua equipa oferecem informações contraditórias. De Lisboa a Berlim, manifestantes anti-Bolsonaro repetiram que "Ele Não".

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As manifestações contra o candidato Jair Bolsonaro decorreram este sábado em vários países. Na imagem, uma manifestante em Geneva, Suíça.,As manifestações contra o candidato Jair Bolsonaro decorreram este sábado em vários países. Na imagem, uma manifestante em Geneva, Suíça. LUSA/MARTIAL TREZZINI,LUSA/MARTIAL TREZZINI
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Bolsonaro foi esfaqueado durante uma manifestação de rua Reuters/Adriano Machado

Vinte e dois dias depois de ter dado entrada no hospital Albert Einstein, em São Paulo, para receber tratamento após um esfaqueamento sofrido durante a campanha, Jair Bolsonaro recebeu este sábado alta médica. O controverso candidato às eleições presidenciais do Brasil abandonou as instalações do hospital por volta das 14h (18h em Portugal continental) e foi transportado para a sua casa no Rio de Janeiro.

Os jornalistas que se juntaram à entrada do hospital paulista não conseguiram obter declarações ou fotografar Bolsonaro, que saiu do edifício por uma porta lateral.

Não foram dados quaisquer pormenores sobre o estado de saúde do candidato de extrema-direita e as declarações de elementos da sua equipa lançaram confusão sobre a sua real condição.

Major Olímpico, deputado federal, candidato a senador e coordenador da campanha em São Paulo garantiu que Bolsonaro está preparado para voltar à rua nos próximos dias. Mas Gustavo Bebianno, presidente do Partido Social Liberal, explicou, citado pela Folha de São Paulo, que “há uma convalescença que permanece para os próximos 15 dias” e que, por isso, Bolsonaro não deverá voltar à campanha na rua, pese a sua “recuperação espantosa”.

A primeira volta das presidenciais brasileiras realiza-se no próximo dia 7 de Outubro e o capitão Bolsonaro está bem posicionado para chegar à segunda ronda, marcada para o dia 28 do mesmo mês.

Lisboa e Berlim dizem “não” a Bolsonaro

A alta de Jair Bolsonaro coincidiu com um dia de protestos contra a sua candidatura, convocado pelo movimento de mulheres brasileiras #EleNão e com manifestações previstas para várias cidades brasileiras e também por todo o mundo.

Cerca de três centenas de pessoas juntaram-se este sábado na Praça Luís de Camões, no centro de Lisboa, a gritar e a cantar palavras de ordem contra o candidato da extrema-direita às eleições presidenciais brasileiras. Os manifestantes juntaram-se pelas 16h no Chiado, onde cantaram e gritaram as palavras de ordem vindas da campanha brasileira: “Ele não”, “ele nunca”, “fascistas, fascistas, não passarão” ou “eu não voto no candidato fascista”.

Concentrados à volta do monumento central da praça, os manifestantes, que se organizaram através da Internet, também transmitiram a sua mensagens política fazendo inscrições em camisolas, na pele e através de cartazes com mensagens dizendo que “ele não vai nos calar”, “democracia sim, fascismo não”, “machismo, racismo, homofobia não”.

A praça da capital portuguesa ficou repleta de bandeiras do Brasil, bandeiras da comunidade LGBT e balões roxos, em homenagem à vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em Março, no Rio de Janeiro.

Na Alemanha, um país que conserva na memória a ditadura fascista, mais de 300 pessoas responderam ao apelo, lançado nas redes sociais, para um protesto contra a eleição de Bolsonaro. O local do encontro foi definido na rede social Facebook, mas, para os mais distraídos, foi escrito a giz, no chão, em letras grandes: “Ele Não”.

A mensagem aparece repetida em cartazes, traduzida para inglês e alemão, pode ler-se também em t-shirts e até na cara de muitas mulheres que decidiram juntar-se em May-Ayim-Ufer, numa das margens do rio Spree. Marcela Dias, a viver há dois anos em Berlim, foi das primeiras a chegar. Trazia uma camisola com as cores da bandeira gay, “ele não” escrito na bochecha, e lápis na mão. Vai pintando outras mulheres que fazem fila à espera de vez.

“Ele não, ele de jeito nenhum, como pode? Acho que nem é uma questão política ou de direita ou esquerda. É uma questão humanitária”, confessa, enquanto vai explicando o que a levou a aceitar a chamada nas redes sociais. “Eu sinto mais esperança do que medo, para ser sincera. O medo está lá, mas prefiro acreditar que as coisas vão virar e que ele não vai ganhar”, desabafa Marcela Dias, que vai votar nas eleições 7 de Outubro.

O evento “Mulheres unidas contra o Bolsonaro em Berlim” foi criado por Lou Trajano, de 24 anos. “Estou muito assustada, pensar no nosso Brasil a passar novamente por uma ditadura ou por tempos difíceis com alguém que não está minimamente preparado para governar o país. Dá um clima de incerteza muito grande, é assustador”, desabafa a organizadora, a viver na Alemanha há cerca de dez meses.

À conversa com amigos alemães, admite que a maioria “não consegue perceber, nem conceber, porque é que alguém apoiaria este tipo de político”. Para eles é “totalmente surreal que tanta gente apoie o Bolsonaro”, remata.

Fábio Martinez fez mais de 350 quilómetros para participar na concentração, vive na cidade de Bielefeld, mas sublinha que não podia deixar de estar presente. “É uma tristeza para o nosso país e para os seres humanos, existirem pessoas tão à direita, que não pensam em todos e só numa minoria. No Brasil não víamos esse pensamento fascista e agora começa a estar muito presente”, diz este brasileiro. “Tenho um pouco de medo, porque ele ainda está à frente nas últimas sondagens, mas, por outro ladro, uma força mais progressista tem a possibilidade de seguir para uma segunda volta, e vejo isso como algo positivo”, admite Martinez.

Além de mulheres e homens de nacionalidade brasileira, ou com dupla nacionalidade, vários alemães quiseram estar presentes no protesto contra a eleição de Bolsonaro para a presidência do Brasil. “Assusta-me que ele possa chegar ao poder. Com a nossa experiência sabemos até onde podem chegar estas personagens e o que pode significar. Não se podem comparar as histórias, mas muitos elementos reaparecem nos discursos contra as mulheres, racistas, contra homossexuais, etc.. Então ninguém pode dizer que não sabe como começou. Por isso há que actuar”, realça Achim Wachendorfer, casado com uma brasileira.

Este alemão de Estugarda, que viveu mais de três décadas na América Latina, confessa estar pessimista. “Há seguramente 30% da população que vai votar numa opção profundamente antidemocrática e militarista. É deprimente. Assustado? Sim, claro, porque é uma opção que pode ganhar. E com a história recente do Brasil, não sabemos que tipo de manipulação vai existir para impedir que ganhe a outra opção”, refere Wachendorfer.

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