Pizarro sugere que PS não deve voltar a apostar em Assis nas europeias

Manuel Pizarro afirma que o compromisso de promover descentralização deve ser um tema central do PS nas legislativas de 2019. Só haverá descentralização a sério com a regionalização, defende.

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Paulo Pimenta

Líder da federação distrital do PS-Porto, vereador da Câmara do Porto e ex-secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro diz não gastar tempo algum a pensar no seu futuro político. Já em relação ao futuro de Francisco Assis no Parlamento Europeu, sugere que a oposição "obsessiva" à "geringonça" do cabeça de lista do PS em 2014 "obscureceu" a sua acção política no plano europeu - e que há mais gente no PS a pensar assim. Sobre uma candidatura do actual ministro do Ambiente à Câmara do Porto, comenta que Matos Fernandes é um portuense cheio de qualidades.

As eleições europeias vão ser o primeiro teste ao Governo?
São um momento em que os portugueses fazem uma avaliação da acção dos partidos que estão no Governo.

Vai integrar a lista ao PE?
Não faço a mínima ideia, isso é uma decisão do secretário-geral do PS.

Mas gostava de ser eurodeputado?
É uma hipótese que não enjeito, como não enjeito nenhuma outra hipótese de trabalhar em favor daquilo que acredito: o interesse do país.

Como ir de novo para o Governo?
Não gasto nenhum do meu tempo a pensar no meu futuro político.

Francisco Assis deve ser reconduzido?
Não faço a mínima ideia. O Francisco Assis, com toda legitimidade, tem concentrado a sua acção política de forma obsessiva no combate à solução política que permite ao PS estar no Governo e isso tem obscurecido muito a sua outra acção política, designadamente no Parlamento Europeu. Há muitas outras pessoas que partilharão dessa ideia.

O PSD-Porto já está a trabalhar para as autárquicas de 2021. E o PS?
Estamos a trabalhar para honrar o mandato que os cidadãos do Porto nos deram há um ano. Somos o partido mais importante da oposição na Câmara do Porto e temos uma enorme responsabilidade nessa matéria e é nisso que estamos concentrados.

O actual ministro do Ambiente seria um bom candidato ao Porto?
O engenheiro Matos Fernandes é um cidadão do Porto com extraordinárias qualidades cívicas, intelectuais e políticas.

Acusou o ministro da Saúde de ter uma atitude “leviana” por recuar na deslocalização do Infarmed para o Porto. Adalberto Campos Fernandes tem condições para se manter no cargo?

Claro que sim. A minha avaliação sobre uma decisão política por mais importante que seja não é uma avaliação da governação.

O ministro informou-o antes da decisão?
Não.

E depois, falou consigo?
Também não.

E o primeiro-ministro?
Já tivemos ocasião de conversar sobre esse e outros assuntos

Há dois PS em Portugal? O do Porto que acusou o ministro de “leviandade” e o de Lisboa, ao qual não se ouviu uma palavra sobre o episódio do Infarmed?
Há apenas um PS, que é uma organização nacional.

O episódio do Infarmed é uma nódoa na governação ou uma falha na palavra do Governo?
É um erro que está superado. Não estavam reunidas as condições políticas para que esta deslocalização se fizesse.

Teme que este caso possa penalizar o PS nas legislativas de 2019?
Não. As pessoas condenam o caso, mas aceitam as explicações que o primeiro-ministro deu.

O PS deve pedir maioria absoluta nas legislativas?
Não. O PS deve pedir o apoio dos portugueses e será capaz de governar qualquer que seja o resultado que lhe derem. Nem vejo que a maioria absoluta nos deva de impedir ou fazer esquecer a necessidade de diálogo político, designadamente com os parceiros da governação.

Acredita numa maioria absoluta do PS?
Não vejo que seja melhor para o PS ter maioria absoluta ou não ter. Temos a capacidade de diálogo para construir uma plataforma política estável, independentemente de termos ou não essa maioria.

O presidente do PS disse há dias que a “geringonça” tem obtido “excelentes resultados”. Concorda?
Concordo eu e concorda a grande maioria dos portugueses. Esta era uma combinação que muitos julgavam absolutamente impossível há três anos. Três anos depois demonstrámos que era possível - e isso é mérito do Governo do PS, mas também da solução parlamentar.

A “geringonça” deve perdurar além de 2019?
Para se fazer valer a alternativa de que o país precisa, o PS tem que governar à esquerda, e para governar à esquerda tem que ter como parceiros fundamentais de diálogo político os partidos à sua esquerda. Estamos um pouco condicionados por aquilo que é uma deriva dos partidos à nossa direita.

A “geringonça” deve funcionar nos mesmos moldes ou em moldes diferentes?
As soluções políticas concretas só podem ser construídas perante os resultados eleitorais.

Mas as relações entre o PS e os dois partidos à sua esquerda azedaram um pouco…
O que nós temos verificado é que o PSD e o CDS estão mais empenhados numa campanha de ataque pessoal - designadamente ao primeiro-ministro, de calúnia, de pequena política - do que em propor soluções alternativas para o país. Quando são chamados a propor soluções, a cartilha é sempre a mesma: o PSD quer privatizar a gestão dos hospitais, o CDS quer privatizar a gestão dos comboios.

O Governo levará em breve a Conselho de Ministros a sua proposta de Lei de Bases da Saúde (LBS). Sucede que o BE já tem uma proposta no Parlamento e quer fechar o tema ainda nesta legislatura. Qual vai ser a posição do PS relativamente à proposta do Bloco?
O que é expectável é que ela reafirme a posição de sempre do PS: de defesa do Serviço Nacional de Saúde.

Da versão final da proposta de LBS foi-lhe retirada a parte mais polémica relativa à concessão a privados da gestão de unidades do SNS. Concorda?
Temos que avaliar as experiências existentes pelo seu mérito. Neste momento, em cerca de meia centena de hospitais do SNS, há quatro em regime de Parceria Público-Privada, com gestão privada: Cascais, Vila Franca de Xira, Loures e Braga. Diria que essa dimensão é aceitável.

O Governo tem um discurso de incentivo à criação de mais Unidades de Saúde Familiar (USF), mas tem uma prática contrária, de bloqueio às mesmas…
O número de USF tem vindo a crescer ao longo desta legislatura e há uma redução sem precedentes do número de portugueses sem acesso a médicos de família. Sou dos que partilham a ideia de que é preciso relançar a Reforma dos Cuidados de Saúde Primários. Estamos bem a tempo de fazer esse esforço.

As USF modelo B são uma aposta ganha, ainda a ganhar ou um alvo a abater?
São uma aposta ganha! Se não existissem USF modelo B – unidades onde a remuneração dos profissionais está associada ao desempenho –, seria impossível ter criado e manter o impulso para a Reforma dos Cuidados de Saúde Primários que nos permitiu chegar até aqui.

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