Emmys: na comédia, ganharam os brancos

Ficou de fora, por exemplo, o reconhecimento por Atlanta, de Donald Glover. The Marvelous Mrs. Maisel, de Amy Sherman-Palladino, levou esta madrugada para casa cinco estatuetas, incluindo a de Melhor Comédia.

Fotogaleria
Amy Sherman-Palladino fez história na noite dos Emmys, com dois prémios pela série "The Marvelous Mrs. Maisel", da Amazon REUTERS/Mike Blake
Fotogaleria
Alex Borstein, protagonista de "The Marvelous Mrs. Maisel" Reuters/MARIO ANZUONI
Fotogaleria
Bill Hader ganhou com "Barry" Reuters/MARIO ANZUONI
Fotogaleria
Bill Hader e Henry Winkler Reuters/MIKE BLAKE
Fotogaleria
O elenco de "The Marvelous Mrs. Maisel" Reuters/MIKE BLAKE

Por muito que se tenha falado em diversidade na apresentação e nos discursos ao longo da noite da edição 70 dos Emmys, os prémios de comédia foram todos para pessoas brancas, muitas das quais estreantes nestas conquistas.

Ficou de fora, por exemplo, o reconhecimento por Atlanta, a bizarra, brilhante e idiossincrática criação de Donald Glover passada na cidade homónima e centrada num rapper em ascensão e no seu primo e agente, uma das mais faladas para vencer (até foi destacada no monólogo inicial dos apresentadores). Mesmo que Teddy Perkins, a personagem interpretada por Glover sob vários quilos de maquilhagem para parecer branco à volta da qual gira o sexto episódio da segunda temporada – que é, aliás, uma das melhores meias horas de televisão dos últimos anos –, tenha marcado presença na cerimónia, não houve, ao contrário do ano passado, vitórias para a série, apesar das nomeações.

Atlanta foi para casa de mãos a abanar. Não houve estatuetas nem para Hiro Murai, o visionário realizador – que também trabalhou em Barry e está por detrás do explosivo vídeo de This Is America, de Childish Gambino, o nome que Donald Glover usa para fazer música –, nem para o multifacetado Glover, alguém com a capacidade para acumular, tal como John Legend conseguiu, um "EGOT" (o acrónimo usado para quem tem no seu currículo um Emmy, um Grammy, um Óscar e um Tony). Fica para a próxima.

A consagração de Amy Sherman-Palladino

Há que dizê-lo: houve algumas piadas memoráveis, mas não é difícil imaginar apresentadores que fariam melhor figura do que os anfitriões desta edição dos Emmys, Michael Che e Colin Jost. Muitos estiveram aliás em cima do palco ao longo da noite. Che e Jost são os cómicos de Weekend Update, o segmento de notícias de Saturday Night Live, além de "cabecilhas" dos argumentistas do vencedor de melhor programa de sketches. É notório que nem sequer foram os primeiros a entrar em palco.

A noite acabou por ser, em termos de comédia, o momento e a consagração de Amy Sherman-Palladino. A criadora de Gilmore Girls tornou-se, graças a The Marvelous MrsMaisel – e com a ajuda do seu característico chapéu –, a primeira pessoa a ganhar, no mesmo ano, o Emmy de realização e o de argumentista de séries de comédia. Palladino tinha sido nomeada como argumentista em 1992, por um episódio de Roseanne, na primeira encarnação desta série e numa altura em que Roseanne Barr era uma figura muito menos polémica.

MrsMaisel também valeu estatuetas para melhor actriz secundária e melhor actriz principal a Alex Borstein e Rachel Brosnahan, respectivamente. A série produzida pela Amazon é sobre uma cómica de stand up na Greenwich Village da Nova Iorque do final dos anos 50, uma mulher num mundo ainda hoje dominado por homens – talvez não por muito tempo. Horas depois, quando apresentava um prémio, a cómica australiana Hannah Gadsby, cujo especial, Nanette, tem causado furor, perguntou, num dos momentos cómicos da noite: “O que é que são piadas nos dias que correm? Não sabemos. Ninguém sabe o que são piadas. Especialmente não os homens.” E então por que é que a ultra-efusiva Tiffanny Haddish e Angela Bassett – que é sempre uma presença inigualável –, chamadas ao palco para entregar o prémio a Brosnahan, não apresentaram juntas a cerimónia toda?

Não havia grandes certezas sobre o que poderia acontecer na categoria principal, a de Melhor Série de Comédia, mas esses prémios, entregues ao início da noite, tornaram expectável que, na recta final, o galardão máximo fosse para Marvelous MrsMaisel. E foi isso mesmo que aconteceu, com direito a um discurso de Daniel Palladino, produtor e marido da criadora da série.

Ainda houve espaço para duas estatuetas para Barry, a criação de Bill Hader e Alec Berg sobre um assassino profissional que decide ter aulas de representação e é muito melhor a matar do que a fingir sentimentos no palco: uma para Henry Winkler como melhor actor secundário de uma comédia, marcando o primeiro Emmy do actor que era o Fonzie de Happy Days e o produtor executivo de MacGyver e tinha sido nomeado pela primeira vez há 42 anos. A outra foi para Bill Hader, o protagonista, que ganhou fama em Saturday Night Live e já tinha conquistado um Emmy por produzir South Park em 2009.

Noutros prémios, o sempre hilariante John Mulaney – ex-argumentista de Saturday Night Live – ganhou como argumentista de um especial por Kid Gorgeous, o seuespectáculo de stand-up gravado ao vivo no Radio City Music Hall para o Netflix. E, pelo terceiro ano consecutivo, John Oliver e o Last Week Tonight levaram para casa uma estatueta para melhor talk show de variedades.

Sugerir correcção
Comentar