Construtoras pedem mais facilidades na circulação de trabalhadores

Angola representa 52% do volume de negócios das empresas de construção. Para alem dos problemas relativos aos financiamentos, construtoras apelam a mudanças na formação profissional e no intercâmbio de trabalhadores entre os dois países.

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Confederação da construção defende entrada em Portugal de trabalhadores angolanos que já estão em empresas de capital português Fabio Augusto

As empresas de construção portuguesas estão em 38 países, mas nenhum deles tem o peso que tem Angola. O mercado angolano representa 52% do volume de negócio das empresas portuguesas no sector da construção e esta métrica diz quase tudo sobre a importância de um mercado que lhes é “crucial”. Por isso, o sector encara com muitos bons olhos a “normalização das relações” entre os dois países, assinalada com as visitas do primeiro-ministro português a Angola, e a vinda do presidente angolano a Portugal. "Isso é o mais importante", disse ao PÚBLICO o presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), Reis Campos.

No memorando que a Confederação preparou para entregar às duas delegações não constam apenas as preocupações relativas ao financiamento das empresas, ao pagamento das dívidas, à aceitação e conversão de contratos, ou à instabilidade cambial – “os problema dos financiamento existem, há dívidas acumuladas, há pagamentos em atraso”, confirma o presidente da CPCI. Mas a Confederação quer deixar outro tipo de sugestões aos responsáveis políticos dos dois países no que se refere a uma maior fluidez na circulação de pessoas: “Defendemos uma livre circulação de estudantes e também a entrada em Portugal de trabalhadores angolanos que já estão em empresas de capital português, e cuja vinda para Portugal deveria ser encarada com um realismo diferente”, defendeu Reis Campos.

O presidente da CPCI refere que uma das principais preocupações do sector, neste momento, passa pela inflação do custo da mão-de-obra, trazida pela escassez de recursos em Portugal. “Há muita dificuldade em encontrar trabalhadores, e nós queremos contribuir para a formação desses profissionais. Temos centros de formação protocolar de primeiríssima água, e esta era também uma forma de contribuir para o desenvolvimento de Angola”, argumenta o presidente da Confederação.

Apesar da crise económica que enfrenta, as empresas portuguesas nunca deixaram de reconhecer um enorme potencial ao mercado angolano. Foi um mercado onde o sector facturava cerca de dois mil milhões de euros (o pico foi em 2013), mas de onde as empresas teimaram em não sair mesmo quando esse valor desceu, em 2016, para os 1157 milhões de euros. “É um mercado que conhecemos bem, sabemos como funciona e, sobretudo, que tem um enorme potencial. Basta pensar nas infra-estruturas que precisa de construir para fazer face à explosão demográfica que se adivinha para África. Já nós, em Portugal, vivemos o problema contrário, e vamos enfrentar a perda populacional”, concluiu Reis Campos.

O presidente da CPCI sublinha a resiliência que as empresas portuguesas têm mantido no mercado angolano, repete a importância que ele tem para as empresas nacionais, mas recorda que não são só as empresas portuguesas que actuam no mercado africano. “Nós somos o quarto país europeu com presença no mercado africano. À nossa frente está a França, a Itália e a Turquia. Não nos podemos dar ao luxo e nos distrairmos e perdemos este comboio. Os outros países também já lá estão”, terminou.

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