O perigo do Florence são as cheias, o do Mangkhut os ventos de 200km/h e as chuvas torrenciais

Estados Unidos, onde "o pior ainda está para vir", contabilizam uma dúzia de mortos e no Oriente já chegam às três dezenas a somar às dezenas de desaparecidos. Filipinas registaram rajadas de mais de 200 km/h. Depois de Hong Kong, o supertufão está já em Macau, que emitiu alerta máximo, e segue para a China.

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Mulher filipina vítima do furacão na cidade de Aparri, província de Cagayan FRANCIS R. MALASIG/EPA
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A sentir os efeitos do vento em Wilmington, Carolina do Norte,A sentir os efeitos do vento em Wilmington, Carolina do Norte Carlo Allegri/REUTERS,Carlo Allegri/REUTERS
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Habitantes tentam recuperar materiais destruídos pelo furacão em Quezon, a Leste de Manila ROLEX DELA PENA/EPA
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Abrigo na cidade de Baggao, no Nordeste das Filipinas ROLEX DELA PENA/EPA
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Carros a flutuar na cheia em Wilmington, Carolina do Norte Jonathan Drake/REUTERS

As duas grandes tempestades actuais, uma no Pacífico, outra no Atlântico, continuam a destruir tudo o que se apresenta no seu caminho.

O supertufão Mangkhutque a Organização Meteorológica Mundial classificou como a mais poderosa tempestade deste ano na região, deixou um rasto de caos e destruição ao passar pelo norte das Filipinas, no sábado, onde foram contabilizados 25 mortos. Nesta noite, ganhou força sobre o Mar do Sul da China, e faz-se já sentir com intensidade em Macau e na costa chinesa.

Florence, apesar de já ser apenas uma tempestade tropical, tem um risco maior de provocar inundações do que quando era ainda um furacão, por causa da quantidade de chuva que traz, e já matou pelo menos uma dúzia de pessoas. 

Entre as 25 vítimas mortais das Filipinas, sobretudo devido a deslizamentos de terra em áreas montanhosas, há pelo menos um bebé e uma criança. Estão contabilizadas quatro dezenas de desaparecidos, entre eles 30 mineiros. "Os deslizamentos aconteceram quando alguns moradores voltaram para suas casas após o tufão", descreveu o coordenador de resposta a desastres, Francis Tolentino, na rádio DZMM.

Macau em alerta preto

Pelas 14h de Macau, 7 em Lisboa, quando o mega-tufão estava a 80 quilómetros do delta do Rio das Pérolas, as autoridades macaenses mudaram o alerta de vermelho para preto - ali designado P10 -, o nível máximo e assim permaneceu o resto do dia. Prevê-se que a baixa de Macau seja atingida por inundações que podem chegar aos 2,5 metros de altura, sobretudo nas fases de maré cheia, ficando sem comunicações nem electricidade.

Cerca de seis mil pessoas foram retiradas das zonas mais baixas da cidade, sendo acolhidas nos 16 centros de abrigo. O trânsito na ponte entre Macau e a Taipa foi cortado já na madrugada deste domingo, e foram também encerrados parques de estacionamento, e cancelados 170 voos. Até os casinos fecharam às 23h de sábado.

Hong Kong elevou o alerta para o nível máximo de 10 por causa das cheias – as águas atingiram os 3,5 metros de altura devido à força das ondas – e do vento, que estilhaçou as janelas de muitos arranha-céus.

No território que já esteve sob administração portuguesa ainda se recordam os efeitos devastadores do tufão Hato, em Agosto do ano passado, que fez dez mortos, 240 feridos e prejuízos avaliados em 1,3 mil milhões de euros.

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Pelicano ferido por causa da tempestade Florence, numa praia da Carolina do Norte Carlo Allegri/REUTERS

Na China, o Mangkhut deverá afectar primeiro a província de Guangdong. As Forças Armadas já estão de prevenção e foram fechados, portos, refinarias de petróleo e instalações industriais. A previsão de tempestade já teve efeitos financeiros: os futuros de açúcar da China subiram em bolsa na passada semana por receio dos estragos nas colheitas. Só a província de Guangdong produz cerca de um milhão de toneladas de açúcar.

Os aeroportos de Shenzhen e Guangzhou estão fechados até segunda-feira e a província vizinha de Hainan cancelou mais de 400 voos. No seu caminho, o Mangkhut vai passar ainda pelas províncias de Guangxi e Yunnan.

Ventos de 200 km/h

Na madrugada de sábado, a ilha de Luzon foi atingida por ventos de 200km/hora e chuvas torrenciais, que causaram cheias, deslizamentos de terra, cortes de energia e incontáveis danos materiais. A região mais destruída pelo Mangkhut foi a província de Cagayan, na costa da ilha mais a norte do arquipélago filipino. A capital filipina, Manila, também foi fortemente atingida pelo tufão.

As rajadas de vento e a chuva forte causaram danos materiais em mais de mil casas, particularmente na cidade de Tuguegarao, cujo aeroporto ficou em muito mau estado. Ao todo foram registados 42 deslizamentos de terras. De acordo com as autoridades, pelo menos 105 mil pessoas estão em abrigos temporários, à espera que a tempestade passe totalmente e que a água desça.

Com 900km de diâmetro o Mangkhut  dirige-se para o Sul da China, a uma velocidade de 30km/h. Após a passagem pelas Filipinas, o supertufão perdeu força, pelo que se esperava que atingisse Hong Kong e Macau, na tarde de domingo, com ventos de 160km/h.

As Filipinas ainda vivem atemorizadas pela memória da passagem do tufão Haiyan, em 2013, que tirou a vida a mais de 6300 pessoas.

Chuva torrencial nas Carolinas

No Sudeste dos EUA, o problema é a chuva torrencial. “O risco de cheias associado a esta tempestade é mais imediato agora do que quando chegou a terra há 24 horas”, dizia sábado o governador da Carolina do Norte, Roy Cooper. “Enfrentamos verdadeiros muros de água nas nossas costas, ao longo dos rios, nas nossas terras agrícolas, nas cidades e vilas”, alertou. 

Para muitas comunidades da Carolina do Norte e da Carolina do Sul, as chuvas torrenciais e o risco de inundações vão prolongar-se durante vários dias, criando vários tipos de situações de emergência.

Os terrenos estão inundados devido às chuvas torrenciais, os rios transbordaram e as marés cheias "empurram" as águas muito para o interior do território devido à orografia da região, marcada por um relevo de baixa altitude. São cerca de mil quilómetros de costa, essencialmente caracterizada por zonas de rias, sapais, ilhas e pequenas penínsulas - o que dificulta a uma descida mais rápida e acentuada das águas mesmo quando a tempestade passar.

Perto de um milhão de pessoas está sem electricidade nos dois estados (com especial incidência no Norte), algumas delas encurraladas nas suas casas devido à subida do nível das águas. Sucedem-se os casos de habitantes resgatados de barco ou mesmo de helicóptero, como aconteceu com meia centena de pessoas na Carolina do Norte.

“Estava escuro como breu e eu estava aterrorizada”, contou à Reuters Tracy Singleton, que fugiu com a sua família no carro, debaixo de chuva torrencial e ventos ciclónicos da sua casa para um hotel a cerca 130km de distância na Carolina do Norte. Entre escolas, igrejas e até um pavilhão de basquetebol, há cerca de 150 abrigos temporários neste estado, que neste domingo albergam 26.0000 pessoas forçadas a deixar as suas casas. Na Carolina do Sul estão outras 7000 pessoas em abrigos temporários.

A Casa Branca anunciou que o Presidente Donald Trump aprovou o financiamento estatal aos estados mais afectados pelo Florence. Trump irá visitar a região na próxima semana.

Neste domingo, a tempestade tropical encaminhou-se para oeste, no sentido da Carolina do Sul, e começa a afectar também a região sudoeste da Virgínia. Ainda assim, na cidade de Fayetteville, na Carolina do Norte, foi dada ordem de saída aos cerca de 210 mil habitantes até à tarde deste domingo. E quem não o fizer deve avisar família e amigos. "Porque o risco de perder a vida é muito, muito possível", avisou o mayor da cidade. "O pior ainda está para vir", vincou Mitch Colvin citado pela Reuters.

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