Pais: greve será “obstáculo” numa “corrida de fundo”

Confap confia que tensão entre professores e Governo não afectará os alunos, mas lembra que programas terão que ser cumpridos “com pressão”.

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O arranque das aulas será marcado por novos protestos de professores Daniel Rocha

A anunciada greve dos professores dentro de duas semanas e a possível continuação dos protestos por causa da forma como vai ser contabilizado o tempo durante o qual as carreiras dos docentes estiveram congeladas podem vir a ser um “obstáculo” ao percurso dos alunos, acredita o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais e Encarregados de Educação (Confap), Jorge Ascensão.

Para aquele dirigente, os estudantes das escolas públicas partem para cada ano lectivo “em desvantagem” relativamente aos que estudam em colégios privados. “Começamos sem fazer pré-época nem aquecimento”, ilustra Ascensão, comparando um ano escolar a uma “corrida de fundo”. Como os alunos têm que cumprir programas “extensos” e, no final do 3.º ciclo e do ensino secundário, responder a exames nacionais que são determinantes para o seu futuro, qualquer perturbação pode ser determinante.

“Já vamos ter toda esta competição em desvantagem. Se, além disso, ainda aparecem obstáculos para o qual a preparação é ineficiente, obviamente que vai ainda prejudicar mais os alunos que estão na escola pública”, diz ao PÚBLICO o presidente da Confap.

Jorge Ascensão confia que, apesar dos problemas laborais que têm motivado o braço-de-ferro com o Governo ao longo dos últimos meses, a maior parte dos professores “conseguem evitar passar algum desânimo que existe na sua profissão e desenvolver um bom trabalho” e mostra empatia com a luta dos professores, que "trabalham afincadamente" e "merecem reconhecimento”.

No entanto, depois de um final de ano lectivo “dramático” marcado pela greve dos professores às reuniões de avaliação que adiaram o lançamento das notas finais dos alunos, Jorge Ascensão não esconde o receio de que o facto de o novo ano arrancar com uma greve e eventuais novos protestos ainda durante o primeiro período lectivo possa afectar o desempenho dos alunos.

Se as aulas pararem, “haverá stress para recuperar o tempo perdido”, porque, no final do ano, há sempre a preocupação dos professores e dos alunos “em cumprir os programas”, explica. Quanto menos tempo houver, mais difícil será cumprir os programas e, quando há pressão, “normalmente as aprendizagens sofrem com isso”.

Ascensão revela ainda um desgaste por parte dos pais relativamente à forma como os problemas laborais dos professores dominam as atenções no sector. “Infelizmente, quando falamos de educação é sempre para falar da colocação dos professores ou das avaliações ou de questões laborais”, lamenta. “Temos que deixar de discutir essas matérias e avançar de forma muito séria na discussão das necessidades que o sistema educativo público hoje ainda tem”, conclui o presidente da Confap.

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