José Eduardo Martins deixa cargo de deputado em Lisboa já de olho na presidência da câmara

O social-democrata diz querer manter uma "reserva de honra" e de "prestígio" e afirma-se "livre e disponível para um novo compromisso com a cidade de Lisboa". Recusa entrar em jogadas, política de aparelho e trocas de influências e critica a direcção por ser "complacente" com tais casos.

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José Eduardo Martins e Teresa Leal Coelho numa acção de campanha, no ano passado. Mario Lopes Pereira

Não se pode dizer que seja uma surpresa, mas é mais um pedaço do PSD que desmorona oficialmente em Lisboa: José Eduardo Martins renunciou ao cargo de deputado na Assembleia Municipal de Lisboa (AML). E o município ganhou já, a três anos das próximas eleições, o primeiro candidato à presidência.

O coordenador do programa eleitoral dos sociais-democratas para a câmara lisboeta e primeiro candidato à AML diz que não lhe interessa – nem aos lisboetas – a "política de aparelho, das jogadas, das trocas de influências, dos casos" que se instalou no PSD-Lisboa com, afirma, a complacência da direcção nacional do partido.

José Eduardo Martins olha já para daqui a dois anos, quando a campanha das autárquicas de 2021 começar a mexer. Em carta enviada aos militantes do partido e a que o PÚBLICO teve acesso, o agora ex-deputado municipal avisa não pretender "entrar em colisão" com ninguém, mas quer manter uma "reserva de honra, de prestígio e de liberdade para o futuro da cidade de Lisboa e do PSD" e anuncia-se "livre e disponível para um novo compromisso com a cidade".

"Mas quero permanecer livre para servir Lisboa e fazer política apenas de acordo com os meus valores e em paz com a minha consciência", escreve José Eduardo Martins. Apesar de na recente corrida à liderança do PSD ter assumido que preferia Rui Rio, tem sido, nos últimos meses um crítico acérrimo do novo presidente. O que lhe retira espaço de manobra no actual PSD e o faz olhar para uma eventual nova corrida, que terá em Pedro Duarte decerto um concorrente – e a quem Martins elogiou fortemente a coragem quando este, há pouco mais de um mês, desafiou Rio a ir a eleições. 

"Há trinta anos que assumo desafios em representação do PSD. Nunca virei a cara ao nosso partido, nem sou de enjeitar responsabilidades", recorda José Eduardo Martins na missiva. E sobre os maus resultados nas autárquicas em Lisboa acrescenta: "Numa altura em que tantos se mostraram indisponíveis eu, que de tudo me afastei e fui afastado nos últimos anos, dei a cara pelo PSD num dos seus momentos mais difíceis. Era a minha obrigação e não me arrependo." Porém, no último ano, os percalços sucederam-se. Como primeiro candidato deveria liderar a bancada da oposição na Assembleia Municipal, mas foi ultrapassado pelo presidente da Junta de Freguesia da Estrela, Luís Newton, com a bênção distrital do PSD-Lisboa. Martins decidiu suspender o seu mandato.

Entretanto, foi tornada pública a investigação a uma teia de influências e esquema de financiamento e circulação de dinheiro entre as juntas de freguesia, Câmara de Lisboa, diversas empresas, o PS e o PSD – a chamada Operação Tutti Frutti. José Eduardo Martins não menciona o assunto directamente, mas fala em "casos entretanto tornados públicos, que atingem profundamente a imagem e a credibilidade do PSD em Lisboa". "A falta de capacidade dos órgãos locais e distritais e nacionais do nosso partido para deles retirarem as devidas ilações retira ao PSD um caminho de muitas possibilidades que se lhe oferecem em Lisboa", avisa o ex-deputado e antigo secretário de Estado.

"A política de aparelho, das jogadas, das trocas de influências, dos casos, não me interessa. Nem tão pouco interessa aos lisboetas. E esse é um jogo que eu não aceito jogar." E como o PSD "não quis fazer uma opção de corte com determinado tipo de práticas e demonstrou preferir ser complacente com alguns protagonistas que estão mais interessados em criar e manter redes de poder interno do que em servir um projecto colectivo ao serviço do bem comum", José Eduardo Martins bate de vez com a porta.

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