Um moinho no meio do nada e uma mão-cheia de tudo

De um moinho em ruínas, à beira do rio Bazágueda, nasceu um turismo rural que se inspira nas origens para recriar uma minialdeia onde descansar é palavra de ordem. E onde se pode dormir sob o céu estrelado. [Actualização desconfinamento 2021: reabertura a 9 de Abril]

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Moinho do Maneio
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Em pleno coração da serra da Malcata, do lado do concelho de Penamacor, distrito de Castelo Branco, longe da estrada asfaltada e onde o sinal das redes móveis não chega, o Moinho do Maneio surge como um refúgio verdejante onde se consegue verdadeiramente descansar sem que se sinta falta do que fazer e onde há sempre uma novidade que justifica o regresso.

Nascido a partir de um projecto agrícola em torno da produção de framboesas, que tem vindo a crescer e que funciona como uma linha de negócio paralela ao turismo, o Moinho do Maneio começou por ser um sonho de Anabela Martins e Rui Marcelo — o casal fez vida em Lisboa durante duas décadas (ela ligada à engenharia civil; ele, ao jornalismo), mas sempre acalentou a vontade de regressar à terra-natal. “Sempre que podíamos vínhamos passar um fim-de-semana ou uns dias”, recorda Anabela, acrescentando: “Sempre soubemos que era onde queríamos estar.”

Começaram, em 2002, por compor uma manta de retalhos, entre as propriedades herdadas, oferecidas e compradas, para totalizarem os 20 hectares que hoje perfazem a propriedade. Seguiram-se outras “guerras”: como trazer a rede eléctrica a um sítio no meio do nada ou obter as licenças necessárias para edificar o que projectaram a partir de ruínas de velhos casebres que outrora serviram para armazenar cereais ou para guardar gado.

Começaram pela casa principal, onde residem e onde é servido um principesco pequeno-almoço (no qual nunca faltam, claro, framboesas sob as mais diversas formas: sumo, doce, em iogurte...), e, passo a passo, foram criando espaços para receberem visitas. Até que, em 2008, Anabela ficou desempregada e optaram pela mudança. Criaram uma unidade de turismo local, ao mesmo tempo que legalizaram o licor de framboesa que comercializam.

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Hoje, há duas casinhas, a Alecrim e a Pipa, cada qual com uma minicozinha, e três quartos: Andorinhas, Amieiro e Trigo. Além da incontornável bolha: uma espécie de tenda insuflada, de revestimento transparente, montada numa escarpa à altura das copas das árvores, mesmo sobre o rio Bazágueda, que permite uma experiência única de dormir protegido, mas mesmo no meio da natureza e com o céu estrelado como tecto.

No princípio era o moinho

O moinho foi o mote que levou Anabela e Rui a escolherem este poiso. E, curiosamente, mantém-se tal qual foi encontrado – têm planos para recuperá-lo, mas ainda não foram postos em prática. Porém, só a sua presença, mesmo que em ruínas, transporta-nos até a um país rural de outros tempos, quando as gentes da região aqui vinham para, a troco de um pouco do resultado da sua moagem, usarem as mós que trabalhavam pela força da água. E tudo o que foi recuperado e construído, nesta propriedade não destoa. Como se percebe logo à entrada.

Depois de percorrido o quilómetro que separa a propriedade da EM569, somos recebidos pelos olhares curiosos de dois burricos, o Jericó e a Julieta, e pelos ladrares efusivos de Berry, Júnior e Mimosa — mais tarde, aparecerão os dengosos gatos, para se enroscarem ao calor junto às nossas pernas, mas ao arranque preferem manter uma protocolar distância. Nada a recear: os animais gostam de mostrar os bons anfitriões que são, mas deixam os visitantes vaguear à sua vontade. E há muito por onde andar – a pé, de bicicleta ou até de canoa – e mais bichos a descobrir. Como as toupeiras, que vão colocando a cabeça de fora e desafiam os cães a uma brincadeira que se percebe ser já rotina.

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As casinhas e os quartos, tipo suíte, desenham-se uma a seguir à outra pelo caminho empedrado que nos leva quase à margem direita do Bazágueda. O rio, nos dias mais quentes, convida a mergulhos refrescantes, mas para quem não gosta de água tão fria, há alternativa: uma piscina, localizada mesmo no centro da propriedade.

De pedras expostas e protegidas pelas plantas trepadeiras que permitem resguardar o seu interior do intenso calor, cada alojamento remete para uma decoração diferente mas indo sempre buscar inspiração ao passado rural da região, patente no padrão das mantas, nos utensílios de cozinha, nos cortinados ou nos mais inusitados objectos, como o caso de uma pipa que recebeu o estatuto de banheira na casa homónima.

Não se pense, porém, que o conforto foi descurado, já que, nesse campo, a modernidade está presente naquilo que é essencial (não, os colchões já não são de palha e a água quente não é fornecida por uma cafeteira...). Cada alojamento também serve propósitos distintos: as duas casinhas, como o caso da Pipa que nos acolheu por uma noite, serão indicadas para famílias com crianças; as suítes, ideais para amigos ou casais; e a bolha, para quem procura uma experiência diferente.

Dormir com as estrelas

Desde o início que Anabela e Rui queriam ter detalhes que fizessem a diferença e, por isso, procuravam algo especial. Andavam a pensar fazer uma cabana em madeira com a parte superior em vidro. “Queríamos uma maneira de aproveitar a visão das estrelas, sobretudo em noites de lua nova”, lembra Anabela.

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Até que, há três anos, uma incursão à Fitur, em Madrid, deu frutos. “Olhámos para um canto e lá estava o que queríamos mas que ainda não tínhamos conseguido idealizar.”

A bolha pode ser descrita como uma tenda transparente, mas as palavras não lhe fazem justiça. Porque, ao ser insuflada, cria uma esfera que nos permite visualizar tudo o que os nossos olhos admitem, aproveitando ao máximo a visão periférica de quase 180°. E, ao mesmo tempo que nos sentimos protegidos, tem-se a sensação de se estar na rua, com o sono embalado pelo burburinho da água, pelo coaxar das rãs e pelos diferentes cantos dos pássaros, numa orquestra que nos convida a estar em sintonia com a natureza.

A Fugas viajou a convite do Moinho do Maneio

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