Dois dias de batidas electrónicas (com alguma manteiga de amendoim) em Alcântara

O Nova Batida, festival que sexta e sábado toma conta do LX Factory e do Village Underground, traz a Lisboa nomes como Mount Kimbie, Little Dragon ou Peanut Butter Wolf. E ainda Gilles Peterson ou as lendas do drum'n'bass LTJ Bukem e DJ Marky.

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Peanut Butter Wolf, ou seja Christopher Manak, é o patrão da influente editora Stones Throw DR

A promessa do Nova Batida, o festival que sexta e sábado toma conta do LX Factory e do Village Underground, espaços contíguos em Alcântara, Lisboa, é a de dois dias (das 16h às 6h) de concertos e actuações de DJ de vários espectros da música de dança, da electrónica e do que quer que tenha batidas, com o bónus de um dia extra de festa na Praia da Torre, em Oeiras, no domingo.

O festival, organizado pela londrina Soundcrash, orienta-se claramente para quem vem de fora – com preços mais baratos para residentes em Portugal. site oficial está em inglês e, além da programação musical, propõe também roteiros turísticos por Lisboa, bem como aulas de surf e ioga e festas em barcos. A festa de lançamento foi em Londres, a 30 de Junho, a que se seguiu uma etapa em Lisboa, no MusicBox, no início deste mês.

No primeiro dia, os destaques incluem dois duos britânicos: Mount Kimbie, composto por Dominic Maker e Kai Campos, que trabalham com nomes como King Krule ou James Blake, tendo lançado no ano passado Love What Survives, e Maribou State, a dupla dada à pop electrónica que une Chris Davids e Liam Ivory, e que aqui actuará com banda para apresentar Kingdoms in Colour, editado no início deste mês.

A electrónica multicolor do irlandês Max Cooper e do londrino George FitzGerald, duas das outras atracções do cartaz, juntam-se a nomes como o produtor, teclista e vocalista norte-americano Mndsgn., da Stones Throw, o japonês Masaaki Yoshida, o mago do sampler MPC e das teclas que faz música como Anchorsong, e duas lenda do drum’n’bass: o britânico LTJ Bukem e o brasileiro DJ Marky. A cantora neo-soul de Nottingham Yazmin Lacey e o duo experimental e algo soturno londrino Camila Fuchs, que une a mexicana Camila de Laborde ao alemão Daniel Hermann-Collini, são outros nomes do cartaz de sexta-feira, que inclui também a DJ portuguesa Rita Maia com os seus Migrant Sounds, a britânica DJ Kitty Amor, ou o italiano Gadi Sassoon, entre outros.

Os suecos Little Dragon, encabeçados por Yukimi Nagano, são um dos pratos fortes de sábado. Existem há mais de 20 anos e já colaboraram com nomes que vão dos Gorillaz de Damon Albarn a Big Boi, metade dos OutKast, a solo. Não lançam um disco novo desde 2017, mas este ano puseram cá fora dois singles. Seun Kuti, o saxofonista que é o filho mais novo do lendário músico nigeriano Fela Kuti, o rei do afrobeat, actua com os Egypt 80, a banda do pai.

Além deles, comparecerão a londrina Connie Constance, vocalista de neo-soul e o influente DJ britânico Gilles Peterson, os Owiny Sigoma Band, que juntam músicos britânicos e quenianos, aqui em formato soundsystem, tal como o Trojan Sound System, da venerável Trojan Records, o DJ e produtor de hip-hop belga Lefto, o francês radicado em Lisboa iZem, a DJ e anfitriã do Boiler Room Jyoty, bem como DJ Riot (ex-Buraka Som Sistema) e DJ Marfox, um dos nomes maiores da Príncipe Discos.

Soul em tudo

Sábado é também o dia em que o DJ e produtor Peanut Butter Wolf subirá ao palco. Ou seja, Christopher Manak, o patrão da Stones Throw, a editora de Los Angeles que há 22 anos vem lançando nomes como Madlib, Aloe Blacc, Dâm-Funk, Georgia Anne Muldrow, Dudley Perkins, Karriem Riggins, Oh No, J Dilla, Knxwledge (e NxWorries, o seu duo com Anderson .Paak), Sudan Archives, Anika, Mayer Hawthorne, Savath & Savalas, Washed Out, entre muitos outros, incluindo o já mencionado Mndsgn., que actua no festival no mesmo dia.

A editora começou por ser de hip-hop, mas já não é tanto. “Os meus gostos e os da editora estão constantemente a evoluir. O meu período favorito do hip-hop é o dos anos 1990 e não quero continuar a refazer o que fiz há 20 anos. Mas quando comecei, a maioria do meu catálogo eram artistas na casa dos 20 e agora, 20 anos depois, ainda estou a trabalhar na sua maioria com artistas na casa dos 20. Essa parte não mudou. Quase tudo o que lanço tem soul. Até o rock que lanço tem soul.”

Quanto aos discos que rodará em Alcântara no sábado, não sabe bem dizer quais serão: "Alimento-me a 100% de energia do público e nunca vou com expectativas." E é de discos que ele vive, seja a editá-los, a coleccioná-los ou a passá-los. Até vai abrir um “bar de vinil” em Los Angeles: "É pegar num espaço em bruto, transformar num bar, arranjar uma licença para álcool e depois agarrar em 7500 discos da minha colecção pessoal e pedir aos meus amigos para serem DJ lá, só com esses discos.” Mas Peanut Butter Wolf não é um purista e pensa sempre no futuro e em trabalhar com gente nova: “Vejo-me como jovem de coração e estou interessado num pensamento progressista. Nunca fiquei preso a um som ou a uma era em particular. Quando vejo pessoas da minha idade a criticarem rappers ou cantores da Internet como não sendo ‘música verdadeira’, lembro-me que quando eu tinha 15 anos e ouvia hip-hop as pessoas na casa dos 40 estavam a dizer o mesmo sobre a minha música, e mesmo assim havia músicos mais velhos, como o Herbie Hancock, que abraçaram isso. Ele teve o maior êxito da sua carreira com Rockit, graças em parte a manter uma mente aberta.” Do set de Peanut Butter Wolf no Nova Batida, é esse espírito que se pode esperar.

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