“Quando as sociedades estão atrasadas, o Estado tem de acorrer”

Recusa vir a ser uma fatia de um novo queijo limiano, diz que aprendeu ecologia com Carlos Pimenta e não descura uma "geringonça" à direita.

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Pedro Santana Lopes: “Não somos liberais puros, na política social não acreditamos que deve ser só o mercado a funcionar” Tiago Petinga/Lusa

Aliança, o partido que o antigo dirigente, primeiro-ministro, autarca e militante do PSD lançou esta semana, não faz concessões ao liberalismo. “Não considero este partido, não desejo, não gosto, não quero que seja liberal”, garante, ao P2, Pedro Santana Lopes. A confusão sobre o ideário programático advém da declaração de princípios. “A Aliança assenta a sua matriz em três eixos fundamentais: Personalismo, Liberalismo e Solidariedade”, reza a fórmula adoptada. Mas o político não afasta o papel do Estado.

“Não é um partido puramente liberal, se se quer chamá-lo de alguma coisa seria socio-liberal, pois defende o papel do Estado na Cultura, na Saúde, na Educação, na Previdência Social, defende o papel regulador e até interventor do Estado nestas áreas, quando as sociedades estão atrasadas em certos domínios o Estado tem de acorrer”, explica. “Não somos liberais puros, na política social não acreditamos que deve ser só o mercado a funcionar”, garante.

“Seremos mais sociais, mas quando falamos do personalismo falamos da vida, da importância da pessoa humana, por isso é que nos chamam conservadores”, prossegue. E justifica. “Os partidos são assim. Não é uma salada russa, hoje os problemas são outros, posso ser conservador numas matérias e noutras não.” Dessas novas preocupações, enumera uma concreta: “Em matéria ambiental somos muito progressistas, a minha formação ecológica foi a de Carlos Pimenta e dos trabalhos que desenvolvemos no Parlamento Europeu.”

A definição da solidariedade como um dos três pontos cardeais de Aliança tem, também, explicação e um novo conceito. “O Estado Social deve ser substituído pelo Estado Solidário, segundo o princípio de dar em função do rendimento”, refere: “O Estado do século XXI já não tem possibilidade de oferecer o que oferecia no século XX, devem existir tabelas [de comparticipação] de acordo com os rendimentos das pessoas.” Este será o terreno do terceiro sector, a Economia Social.

“Em matéria de costumes”, prossegue, “defendemos as tradições que fazem parte da identidade portuguesa.” Há escassas semanas, a defesa das touradas pelo CDS gerou polémica. “Defendemos os animais, há aqui um equilíbrio a encontrar, eu já fui aficionado das touradas, mas não sou caçador, embora respeite quem seja”, diz prudente Santana Lopes.

“O partido até se podia chamar Social Liberal, o problema é que está tudo gasto, nalguns casos mal gasto”, admite, referindo-se ao partido de há décadas do brasileiro Collor de Melo, de Bill Clinton e ao próprio Lula da Silva. Considera erradas as observações de pessoalismo. “Estou a praticar a democracia, Emmanuel Macron saiu de um governo socialista e fez o seu próprio partido, Tony Blair está a pensar criar um partido, querem voltar à União Nacional a quatro?”, interroga.

Refuta a acusação de estar a fragmentar o espectro partidário. “Era o que faltava que estivesse reservado o direito de admissão, os democratas deviam estar contentes por nascer uma força política democrática que não é populista, praticamos uma política inovadora de comunicação, queremos trazer as pessoas que estão fora”, protesta.

Congratula-se que Rui Rio tenha reconhecido a sua lealdade ao sair do PSD, há uma semana na Universidade de Verão. “Disse-me o mesmo ao telefone, aliás eu não saí zangado com ele nem por causa dele”. A possibilidade de haver mais forças à direita que possam montar uma geringonça não lhe suscita reparos. Já reage mal, quando é reservado à Aliança o papel de queijo limiano. “Vão ter uma grande surpresa!”

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